«Uns sem ideias, os outros com a ideia de pontuar»: a crónica do Boavista-FC Porto
Pobre exibição de um FC Porto sem imaginação, que parece triste a jogar; Boavista pragmático, conquistou um ponto com muito suor
É verdade que o Boavista leva onze jogos seguidos da Liga sem saber o que é ganhar. Mas não será menos verdade que o ponto ontem obtido, com sangue suor e lágrimas, frente ao FC Porto, que nos últimos anos transformara as idas ao Bessa numa mera formalidade, lhe soube a vitória.
E, quem sabe se não será também um ponto de viragem no percurso preocupante dos axadrezados... Já o FC Porto começa a ser um caso de estudo, pela pobreza das exibições, muitas vezes mascarada por triunfos magros e in extremis, uma sombra da equipa de outras eras (e nem sequer é preciso ir a Luis Díaz, basta recuar poucos meses aos tempos de Otávio e Uribe). Ontem, perante uma assistência magra para o dérbi da Invicta (13.945 espetadores), aos dragões faltou quase tudo, a começar pelas ideias.
Cada vez que tinha bola - e teve-a muito mais que o Boavista - a equipa de Sérgio Conceição passava a um registo monocórdico, de futebol telegrafado, sem alegria e sem imaginação, como se a camisola do FC Porto pesasse uma tonelada e cada chuteira, duas. Terá sido das escolhas de Sérgio Conceição, que preteriu o filho Francisco, um agitador nato, em favor de um André Franco sempre atrás do jogo e nunca no seu comando? Ou que sentou Galeno no banco, preferindo deixar Pepê, à légua o melhor dos jogadores de campo dos portistas, a desperdiçar-se na esquerda, enquanto que na zona central do ataque Evanilson e Toni Martinez se mostravam demasiados passivos face às marcações dos centrais boavisteiros? Ou o mal esteve em Grujic, sem intensidade e confiança, que empastou ainda mais o que por natureza já estava difícil de desbloquear? Fosse o que fosse, e porque fosse, o FC Porto de ontem foi uma sombra do que devia ser.
MARCAR E SOFRER
Apesar de tudo, não pode dizer-se que as coisas tenham começado mal para os dragões, que se viram em vantagem com um golo às três tabelas logo aos 23 minutos. E o que é que aconteceu, de imediato (e não me passa pela cabeça que tenha sido por ordem do treinador)? Os portistas baixaram linhas, começaram a deixar o Boavista, finalmente, ligar alguns passes, perderam o controlo das operações, e de um livre que correu mal a Pepe, que não respeitou a linha defensiva, baixou de mais no terreno, e abriu um buraco que Bruno Lourenço explorou, surgiu o golo da igualdade axadrezada. E até ao fim da primeira parte, a melhor oportunidade até pertenceu ao Boavista, quando Bozenik estoirou com selo de golo e Diogo Costa fez a defesa da noite.
COM 10 DURANTE 13 MINUTOS
A segunda parte trouxe, naturalmente, um crescente assédio do FC Porto, que esbarrou numa muralha comandada pelo inexcedível Makouta, bem secundado por Seba Pérez e pelos centrais Sasso e Abascal, que são daqueles que não brincam em serviço. Sérgio Conceição bem recorreu à artilharia que tinha no banco, chamou Francisco, Galeno, Namaso, Ivan Jaime e Nico Conzález, ou seja, mudou as alas e o duplo pivot, recolocou Pepê, e depois da expulsão de Camará, quando ainda estavam 13 minutos por jogar, passou a atuar com três defesas, Pepe, Fábio Cardoso e Wendell.
Mas a ansiedade era muita e a falta de convicção ainda mais, facilitando a tarefa exclusivamente defensiva do Boavista, que acabou em 5x4. Ricardo Paiva analisou bem Sérgio Conceição, refrescou a equipa com Berna, Luís Santos e Martim Tavares para tapar as alas, e nem mesmo a expulsão de Camará lhe estragou a noite. E do Bessa foi o dragão que saiu em xeque.