Um treinador na Liga dura, em média, 9 meses e 8 dias
Com a saída de Roger Schmidt e a entrada de Bruno Lage, o tempo médio nos clubes dos atuais 18 treinadores da Liga é menos de um ano
Não é fácil ser treinador. À pressão dos resultados, junta-se a pressão de adeptos e dirigentes. Mas, sejamos justos, também não é fácil ser dirigente, pois sentem a pressão de resultados, adeptos e potencial menor entrada de dinheiro no futuro. Mais fácil é ser adepto, pois se a equipa ganha, aplaude-se; se a equipa perde, assobia-se. Raramente se perde durante muito tempo, até porque a culpa nunca é do adepto. É sempre de jogador, treinador ou presidente. Nem sempre por esta ordem, como se vê agora no Benfica.
Raramente um dirigente troca de treinador com consciência absoluta de que está a fazer o melhor para o clube. Troca, quase sempre, por desespero e por impulso. A não ser que se chamasse Pinto da Costa e, aí, saía um voto de confiança. Quando se muda, quase sempre um dirigente vai buscar um treinador experiente. Foi o que aconteceu com António Salvador, trocando Daniel Sousa por Carlos Carvalhal. Ou com Rui Costa, substituindo Roger Schmidt por Bruno Lage. Mas foi o que não aconteceu com Frederico Varandas, quando foi buscar Rúben Amorim para o lugar de Silas, apesar de tudo mais experiente. O presidente do Sporting terá acreditado, sim, no potencial e não na experiência de Amorim.
As mudanças de treinador acontecem, regra geral, por três motivos: desempenho fraco relativamente às expectativas, treinador seduzido por outro clube ou má relação do técnico com jogadores/dirigentes, independentemente dos eventuais bons resultados. Um 5.º lugar de Sporting, Benfica ou FC Porto à 15.ª jornada não é igual ao 5.º lugar de, por exemplo, Estoril, Moreirense ou Santa Clara. Além disso, os efeitos das trocas de treinadores são, normalmente, muito mais visíveis no curto prazo. Daí chamarem-se, em futebolês, chicotadas psicológicas. Porque mexem com a psique e não propriamente com estratégias.
Treinadores experientes, como José Mourinho, Pep Guardiola ou Jurgen Klopp, estarão mais protegidos para potenciais maus resultados de início. Mas nem sempre é assim, como sabemos. Antonio Conte na Arezzo (2007) e Fabio Capello no Real Madrid (2007) são alguns exemplos notáveis.
Os dirigentes de Espanha e Inglaterra foram os mais conservadores. Ou mais pacientes. Apenas 20 por cento das equipas da La Liga e da Premier League trocaram de treinador entre o final de 2023/2024 e o início de 2024/2025. Em Itália, por exemplo, 70 por cento mudaram. Não se explicará, claro, pela latinidade fogosa e impetuosa dos italianos, pois os espanhóis são, igualmente, latinos.
Porém, la bella Itália é la bella Itália. Catorze das 20 equipas da Serie A mexeram no treinador: Lazio (Igor Tudor/Marco Baroni), Bolonha (Thiago Motta/Vincenzo Italiano), Fiorentina (Vincenzo Italiano/Raffaele Palladino), Monza (Raffaele Palladino/Alessandro Nesta), Nápoles (Francesco Calzona/Antonio Conte), Torino (Ivan Jurić/ Paolo Vanoli), Udinese (Fabio Cannavaro/Kosta Runjaić), Cagliari (Claudio Ranieri/Davide Nicola), Juventus (Paolo Montero/Thiago Motta), Milan (Stefano Pioli/Paulo Fonseca), Verona (Marco Baroni/Paolo Zanetti), Veneza (Paolo Vanoli/Eusebio Di Francesco), Empoli (Davide Nicola/Roberto D'Aversa) e Omo (Osian Roberts/Cesc Fàbregas).
Cinco das vinte equipas da espanhola La Liga trocaram de treinador no arranque de 2024/2025: Barcelona (Xavi Hernández/Hansi Flick), Maiorca (Javier Aguirre/Jagoba Arrasate), Osasuna (Jagoba Arrasate/Vicente Moreno), Sevilha (Quique Flores/García Pimienta) e Las Palmas (García Pimienta/Luis Carrión). Mas só três treinadores ficaram sem trabalho, pois Jagoba Arrasate e García Pimienta terminaram 2023/2024 num clube e começaram 2024/2025 noutro.
Em Inglaterra, na famosa Premier League, houve cinco trocas: Brighton (Roberto De Zerbi/Fabian Hürzeler), Liverpool (Jürgen Klopp/Arne Slot), West Ham (David Moyes/Julen Lopetegui), Chelsea (Mauricio Pochettino/Enzo Maresca) e Leicester (Enzo Maresca/Steve Cooper).
Na alemã Bundesliga, o panorama não é muito diferente, com seis equipas das dezoito equipas a mudar de treinador: Bayern (Thomas Tuchel/ Vincent Kompany), Friburgo (Christian Streich/Julian Schuster), Bochum (Heiko Butscher/ Peter Zeidler), Union Berlim (Marco Grote/Bo Svensson), Dortmund (Edin Terzić/ Nuri Şahin) e St. Pauli (Fabian Hürzeler/Alexander Blessin).
Em França, na Ligue 1, houve sete clubes a trocarem de comando técnico: Reims (Mali Diawara/Luka Elsner), Marselha (Jean-Louis Gasset/ Roberto de Zerbi), Nice (Francesco Farioli/Franck Haise), Lille (Paulo Fonseca/Bruno Génésio), Lens (Franck Haise/Will Still), Le Havre (Luka Elsner/Didier Digard), Estrasburgo (Patrick Vieira/Liam Rosenior).
Sabe qual o país onde os atuais treinadores estão, em média, há menos tempo num clube da Liga principal? Se pensou em Portugal, acertou. Com a saída de Roger Schmidt e a entrada de Bruno Lage, o tempo médio nos clubes dos atuais 18 treinadores da Liga é 9 meses e 8 dias. Na Ligue 1 é de 10 meses; na Serie A é de 11 meses e 20 dias; na Bundesliga é de dois anos e 10 dias; na Premier League é de dois anos e 20 dias; na Liga é de dois anos e 2 meses.