«Um árbitro ganha, por norma, entre os 5 mil e os 6 mil euros brutos por mês»

ENTREVISTA A BOLA «Um árbitro ganha, por norma, entre os 5 mil e os 6 mil euros brutos por mês»

NACIONAL20.06.202408:30

O presidente do Conselho de Arbitragem da FPF José Fontelas Gomes faz, ao longo desta entrevista, um detalhado ponto de situação sobre o setor, sem se furtar a qualquer tema. E não tem só olhos para o passado, com o que aprendeu, ou para o presente, que vê positivo: também pensa no futuro, considerando que o seu trabalho não está acabado...

— Verifico que os árbitros das competições profissionais têm uma carga horária semanal dedicada a arbitragem muito grande, e que das duas, três: ou são profissionais liberais, ou têm negócios, ou têm patrões compreensivos. Isto é uma limitação?

— É, e aquilo que os árbitros fizeram foi tentar adaptarem-se, tendo negócios ou patrões compreensivos. Mas tivemos, em dois ou três casos, de ter uma gestão diferente, porque em alguns momentos os próprios patrões não nos deixavam sair, por exemplo, à sexta-feira à tarde, e a situação agudiza-se quando, nas últimas cinco jornadas dos campeonatos, fazemos estágios para os árbitros de quinta-feira até domingo. Fechamo-nos num hotel com as equipas de arbitragem, e fazemos um trabalho de preparação para esse fim de semana, até em termos psicológicos, para isso. Nessas situações, houve muitas vezes em que alguns árbitros assistentes não conseguiram acompanhar esse horário, o que constituiu uma limitação, que só o profissionalismo, ou uma carreira de árbitro legalizada pode evitar.

— Quanto é que um árbitro de topo ganha por ano?

— Depende, a remuneração pode oscilar, consoante os jogos que faz, se tem ou não tem jogos internacionais, que têm um peso bastante grande nesses proventos, mas um árbitro ganha, por norma, por mês, entre os cinco e os seis mil euros brutos.

«O VAR sempre foi pensado como carreira autónoma»

20 junho 2024, 08:00

«O VAR sempre foi pensado como carreira autónoma»

O presidente do Conselho de Arbitragem da FPF José Fontelas Gomes faz, ao longo desta entrevista, um detalhado ponto de situação sobre o setor, sem se furtar a qualquer tema. E não tem só olhos para o passado, com o que aprendeu, ou para o presente, que vê positivo: também pensa no futuro, considerando que o seu trabalho não está acabado...

— E são pagos a recibo verde, como prestadores de serviços…

— Exatamente, e com uma carga fiscal elevada.

— Como é que esta situação pode ser revertida? O estatuto dos bombeiros profissionais podia ser um ponto de partida para criar um enquadramento legal?

— Os bombeiros são um excelente exemplo, e um regime semelhante ao deles resolveria os nossos problemas.

— É utópico pensar que um árbitro pode começar profissionalmente a depender da arbitragem aos 23 ou aos 24 anos, ser árbitro até aos 45 ou até aos 50 anos, e depois, até à idade de reforma, continuar como VAR, como observador, ou como técnico, a viver da arbitragem?

 — Isso pode efetivamente acontecer, e tem acontecido com alguns elementos. Por exemplo, temos o Hugo Miguel ou o Jorge Sousa, que acabaram as suas carreiras dentro das quatro linhas, mas que continuam ligados à arbitragem enquanto técnicos, neste casos no futebol profissional. Podem ser observadores, podem ser vídeo-árbitros, como acontece com o Bruno Esteves ou o Vasco Santos. Hoje há um leque de oportunidades pós-carreira para quem, efetivamente, tem qualidade e características para continuar. O que temos potenciado ao longo destes oito anos, é não perder esse know-how que foi adquirido ao longo de muitos anos.

«Não descarto a hipótese de concorrer às próximas eleições»

20 junho 2024, 08:15

«Não descarto a hipótese de concorrer às próximas eleições»

O presidente do Conselho de Arbitragem da FPF José Fontelas Gomes faz, ao longo desta entrevista, um detalhado ponto de situação sobre o setor, sem se furtar a qualquer tema. E não tem só olhos para o passado, com o que aprendeu, ou para o presente, que vê positivo: também pensa no futuro, considerando que o seu trabalho não está acabado...

— Os árbitros agora, desde que queiram, mantenham qualidade técnica e passem os testes físicos e teóricos, podem ficar no ativo até aos 50 anos. Este é um limite justo ou deveriam continuar enquanto que passassem os testes, independentemente da idade?

— Fomos fazendo de forma gradual essa alteração. Passámos dos 45 para os 48 anos, vimos que podíamos ir mais além, e passámos para os 50. Na minha opinião, não devemos perder esses valores, e sempre que um árbitro esteja em condições, físicas e teóricas, deve continuar. É minha convicção que o futuro passará por não haver limite de idade, como a FIFA já preconiza, desde que sejam cumpridos determinados critérios.

— Os árbitros hoje, comparados com os do passado, são verdadeiros atletas…

— É-lhes exigida uma capacidade física quase comparável à de um jogador. O futebol está mais rápido, mais intenso, mais disputado e mais competitivo. E os árbitros têm de estar preparados. Temos 39 centros de treino em todo o país, que servem os árbitros do futebol profissional e não profissional. Aí potenciamos muito a condição física, e os árbitros do profissional treinam três a quatro vezes por semana. E também são usados pelas árbitras, fazendo parte do investimento feito no futebol feminino.

— Há muitas candidatas a árbitras?

— Começam a aparecer. Crescemos de cerca de 200 árbitras em 2016, para as 671 que temos hoje. Estou certo que este boom, potenciado pelo investimento da FPF, dará frutos, em termos internacionais, num futuro muito próximo.

— O que é que estes árbitro têm que os outros tinham menos?

— Estamos perante autênticos atletas, com uma preocupação muito grande relativamente à nutrição, e à preparação, para estarem efetivamente na forma física, que lhes permite tomar as melhores decisões. Hoje, estão mais focados na arbitragem, enquanto que as gerações anteriores tinham de gerir os seus empregos, e abordavam a vida, mesmo familiar, de forma diferente. Hoje em dia, estes árbitros constituem famílias mais tarde, e focam-se mais na sua carreira na arbitragem, deixando a vida social para mais tarde. Esta, para mim, é a grande diferença.

— Mas tem prós e contras…

— Podemos pensar no que é que é bom e no que é que é mau. Julgo que ter experiência de vida — e transmito-lhes isto muitas vezes — para além da arbitragem é fundamental para um bom desempenho no campo. É por isso que encorajamos a que façam outros tipos de atividade, que tenham uma ocupação mental para além da arbitragem, porque detetamos que precisam de ter mundo. Isso ajuda-os a julgar os jogadores, e a ter uma interação com os vários agentes do futebol, que lhes permita ter o jogo na mão.

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