Trincão: «Partia tudo em casa com a bola»
Trincão (Miguel Nunes)

ENTREVISTA A BOLA Trincão: «Partia tudo em casa com a bola»

NACIONAL17.05.202409:20

Camisola 17 do Sporting dá-se a conhecer a A BOLA numa conversa intimista; recorda os primeiros passos no futebol e a fugaz passagem pelo FC Porto; a estreita ligação com Abel Ferreira, que o estreou enquanto sénior ao serviço do SC Braga

Começou a jogar aos cinco anos, em Viana do Castelo, onde nasceu, por iniciativa dos pais: era inseparável da bola e já não havia bibelô que resistisse. Ri-se ao recordar os tempos de infância, afirma que sempre foi feliz, mais agora a cumprir um sonho de criança: sagrar-se campeão nacional de leão ao peito.   

— Ingressou no Vianense muito jovem, tinha apenas  cinco anos. Foi por influência de alguém ou foi mesmo por vontade própria que começou a jogar futebol?

— Sim. Acho que foi mais porque em casa comecei a partir tudo a jogar, estava sempre com a bola nos pés e os meus pais já não me aguentavam mais [risos]. Portanto, levaram-me para o Vianense e disseram ‘têm de o aceitar, ele tem de jogar’ porque se não em casa ia acabar por dar cabo de tudo!

— Seguiu-se uma passagem fugaz pelo FC Porto, aos 10 anos, de apenas meia época. O  que é que aconteceu?

— Era muito novo e os meus pais tinham de fazer um grande esforço para levar-me para trás e para a frente [tinham de percorrer cerca de 200 quilómetros por treino]. Como ainda era miúdo e os meus pais também não ligavam muito a futebol na altura, e só queriam que eu estivesse feliz e divertido, voltei para o Vianense, porque era ali que me sentia em casa.

— Além de outros nomes, João Félix estava nessa equipa do FC Porto. Recorda-se dele nessa altura?

— Sim, sim! Estava também o Diogo Dalot, se não me engano, e também o Diogo Leite. Esse já lá estavam todos.

— Seguiu-se o salto para o SC Braga, foi onde começou a ver o futebol mais a sério?

— Não foi logo desde miúdo, foi mais a partir do momento em que comecei a ir para a equipa B. É nessa altura que as coisas começaram a ficar um bocadinho mais sérias e acho que a partir daí comecei a levar o futebol como se fosse uma possibilidade que pudesse seguir em definitivo. Acho que foi mais a partir desse momento.

— Depois passou oito temporadas  no SC Braga, até que se estreou como sénior, pela mão de Abel Ferreira. Recorda-se desse jogo?

— Recordo, sim senhora. Por acaso no outro dia passei em Setúbal e lembrei-me. Se não me engano foi na Taça da Liga, contra o Vitória. Lembro-me desse jogo... Lembro-me perfeitamente, ganhámos e foi aí que tudo começou.

— Já que estamos a falar de Abel Ferreira, mantém contacto com o treinador?

— Sim, de vez em quando. Da última vez, salvo erro, foi quando ganharam o campeonato e eu mandei-lhe uma mensagem de parabéns. Foi um grande treinador, teve também comigo na equipa B, foi ele que me estreou aí. Temos uma relação profissional e boa. Estou feliz que as coisas lhe estejam a correr bem lá no Brasil.

CRESCER COM MESSI

— Em 2020 foi para a Espanha. O Barcelona pagou €31 milhões ao SC Braga, com uma cláusula de €500 milhões de euros. Isso assustou-o?

— Isso acaba por ser normal, acho que até a maior parte do plantel tinha esses valores, algo que o clube faz para se proteger, mas claro que sabia que tinha uma responsabilidade grande porque foi um bom valor. Foi um passo importante na minha carreira.

Trincão partilhou balneário com Messi em 2020/2021 (X/FC Barcelona)

— Esteve uma época na Catalunha, onde partilhou o balneário com Messi, Piqué, Griezmann... O que é que isso lhe deu?

— Deu-me um bocadinho de maturidade, porque passar de vê-los a jogar futebol a estar com eles todos os dias foi um impacto um bocado grande, mas deu também para aprender muito, porque são, talvez, os melhores do mundo, estavam ali todos e foi simplesmente incrível para mim e deu para aprender muito.

— De certeza que há algum episódio engraçado com Messi que nos possa contar...

— Há um episódio que costumo contar. O Messi e o Jordi Alba quando o treino estava parado, sempre que viam uma baliza pequenininha lá ao fundo faziam sempre o mesmo: chamavam-se um ao outro e diziam: ‘mete lá a bola’. Metiam-na sempre! Era mesmo engraçado, porque nunca falhavam.

— E como é que era Messi enquanto colega? Você era mais novo, ele tinha alguma atenção especial, dava conselhos ou ajudava nalgumas coisas?

— Sinto mais que a liderança dele era um bocado também pela presença, não falava muito, mas sempre que falava, falava bem, mas era mais pela presença, sabíamos que tínhamos ali um ídolo, uma referência... Então, tínhamos de respeitar um pouco aquilo que ele dizia e que queria e corrigia-nos bastante dentro de campo, o posicionamento e aquilo que ele queria para poder melhorar o nosso jogo.

— Ficava a observá-lo como um autêntico fã?

— Atentamente, claro. Sempre.

— Falando de Messi, temos de falar de Cristiano Ronaldo. Teve a oportunidade de jogar com os dois. 

— Incrível também, são os dois melhores do Mundo! Consegui ter a oportunidade de jogar com os dois, de ver os dois melhores do Mundo e cada um no seu estilo. Claro que deu para aprender bastante com os dois, de perceber como é que são no balneário, aquilo que transmitem e o que não transmitem e é bastante bom poder ter vivido isso.

— É mais fácil encontrar semelhanças ou diferenças entre eles?

— Diria que no futebol semelhanças, porque os dois querem ganhar a todo o custo.  Talvez o Cristiano mostre mais isso. Em termos de personalidade, acho que são mais diferentes, o Cristiano é um bocadinho mais brincalhão, gosta mais de falar, o Messi é um mais reservado, mas dentro de campo acredito que sejam muito semelhantes.