9 janeiro 2025, 13:51
Como Gonçalo Paciência chegou ao Sport e o papel de Pepa
Diretor para o futebol explica o processo de recutamento do avançado português... para um treinador português
Pepa explica o seu percurso de treinador e como se integrou no Sport Recife. «O futebol aqui é a coisa mais importante para as pessoas», diz.
«Fantástico», diz Pepa, quando desafiado a fazer numa só palavra o balanço de seis meses no Sport Recife, um clube com, afirma, «adeptos emotivos, calorosos e impacientes». Depois de, no ano passado, subir o gigante do nordeste do Brasil à Série A, este ano o treinador português quer lutar por algo mais do que a sobrevivência na elite.
- Qual o balanço pessoal destes quase seis meses no Sport Recife?
- Balanço fantástico e para a vida. São poucos meses mas com muita intensidade. A começar, claro, pela subida de divisão. E, mesmo nas derrotas, temos sido obrigados a ser grandes. O balanço é de empatia com tudo e com todos, na rua, no café, no restaurante e com um clube que tem uma torcida fanática, que tem um potencial imenso e que sabe que está no bom caminho mesmo que as coisas ainda estejam longe de estar perfeitas.
9 janeiro 2025, 13:51
Diretor para o futebol explica o processo de recutamento do avançado português... para um treinador português
- Qual será o objetivo no Brasileirão, que começa no fim do mês e logo com uma visita ao São Paulo? Lutar para não descer?
- Não gosto da expressão ‘lutar para não descer’ porque parece redutor, parece que estamos a pensar pequeno. Temos os pés no chão mas não podemos limitar a nossa ambição. Ambicionamos e acreditamos que podemos lutar pela primeira metade da tabela e lutar pela qualificação para a Copa Sul-Americana. Sabemos que é muito difícil, depois de alguns anos longe da Série A, mas são os desafios difíceis que nos obrigam a superar-nos.
- Com 15 reforços não é difícil entrosar a equipa para a nova época?
- Não acho difícil integrar os jogadores novos, muitos outros clubes contrataram alto número de atletas, acho mais difícil é o pouco tempo para trabalhar a equipa tendo em conta que eles chegaram a conta gotas. Não é uma crítica, nem um lamento, porque para conseguirmos alguns jogadores tivemos de esperar até à data limite. Agora, temos alguns jogadores novos, talvez já com mais jogos do que treinos, a adaptação tem sido até rápida mas não tem sido, eu diria, tão natural como deveria.
- A passagem pelo Cruzeiro, em 2023, ajudou na adaptação ao Sport?
- A passagem pelo Cruzeiro ajudou porque a nossa língua é a mesma mas a cultura é diferente. Ajudou a ser mais assertivo, mais incisivo, mais conhecedor até das características físicas, técnicas, táticas, mentais, sobretudo mentais, dos jogadores brasileiros. Quando estava na Europa, não percebia por que os jogos no Brasil partiam tanto, achava que poderia ser falta de leitura tática. Hoje concluí que não é isso, porque o jogador brasileiro, além de tecnicamente o melhor do mundo, é inteligente, o motivo é a cultura de sangue quente, de emoção, do barulho da torcida, tudo isso faz com que o jogador vá na onda das bancadas, na Europa também há ruído mas o jogador filtra mais a emoção da bancada.
- Os adeptos aqui são, então, mais decisivos do que na Europa?
- O adepto aqui é mais emotivo, mais caloroso e mais impaciente. A paixão pelo futebol aqui é de tal forma que eu sinto muitas vezes que é talvez a coisa mais importante para as pessoas. Talvez em Portugal se veja isso no Vitória, em Guimarães, e, claro, no Benfica, FC Porto e Sporting, mas lá só 20% ou 30% dos adeptos é que são mais radicais, no bom sentido, já aqui são quase todos radicais.
- Um quarto dos clubes do Brasileirão é treinado por europeus – ou melhor, por portugueses. Os portugueses adaptam-se melhor ao Brasil do que profissionais de outras nacionalidades?
- Sem dúvida, a língua ajuda, a proximidade cultural também e, finalmente, o conhecimento prévio do futebol brasileiro de que nós brasileiros dispomos.
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- Este ano teve uma derrota amarga com o modesto Operário, de Várzea Grande, para a Copa do Brasil. Mesmo assim, ao contrário do que é comum no Brasil, não se falou insistentemente em demissão. Sente apoio da Direção?
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- Sinto apoio total da direção, senti-o mesmo após a derrota com o Operário, e sabendo que aqui é uma panela de pressão. Sem querer ser arrogante, em 10 jogos, ganhávamos nove ao Operário, perdemos aquele, há dias assim, é futebol. Mas temos de ter a certeza de que estamos no caminho certo.
- Quando o Pepa jogador começou a ser Pepa treinador?
- Eu comecei logo por fazer coisas esquisitas. Mesmo no futebol de caricas eu já organizava os jogadores, já escrevia apontamentos, já tinha a pancada dos exercícios e da tática. Com uma lesão grave no Paços de Ferreira, um tumor no pé, o mestre José Neto desafiou-me a tirar um curso para espairecer a cabeça. Tirei o primeiro nível, gostei muito, depois tirei o segundo e fui por aí fora.
- Hoje admira uma liga ou um treinador em particular?
- Vejo muito futebol, não só de um campeonato específico, de Portugal, claro, por todas as razões, mas também dos Países Baixos, da Espanha, da Inglaterra, do México, da Argentina, da Arábia Saudita, até por ter lá o Cristiano Ronaldo, observo a atitude dos treinadores no campo e nas conferências de imprensa mais hostis, como eles reagem a uma derrota pesada em casa, por exemplo, enfim, gosto de ver mas não tenho um só treinador como modelo.