Liga portuguesa: trituradora de treinadores
São já 17 as trocas de técnicos na divisão principal, só nos últimos sete meses. Há três clubes que já vão no terceiro treinador. E só quatro mantêm o mesmo líder desde o início da época
Os números atuais da Liga portuguesa mais parecem do sul-americano Brasileirão, um dos maiores cemitérios de treinadores do Mundo, terra quente onde se ferve em pouca água, onde, à mínima falha de um treinador, seja ela qual for, o destino está traçado: despedimento!
Veja-se, por exemplo, o caso de Pepa, protagonista de emocionante e dramática subida do segundo para o escalão principal com o Sport Recife e que, há apenas dois dias, perante eliminação da Taça do Brasil aos pés de conjunto que nem nas quatro divisões nacionais atua, foi imediatamente alvo de pressões para que se demitisse ou para que o clube o afastasse do cargo.
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É assim o futebol em países onde as emoções se sobrepõem muitas vezes à razão, onde Direções seguem o coro de adeptos ou das redes sociais, sem que, aqui e ali, se pare um pouco para pensar, ou para decidir com ponderação, ou para não deixar cair a aposta num caminho ou num projeto. Não! Qual quê? Há ligas onde a impaciência é rainha, onde a ditadura do prazer (ou resultado) imediato não permite que os arquitetos (treinadores) que procuram desenhar um novo edifício tenham tempo para fazê-lo com critério e onde o cargo de treinador é um alvo constante.
É assim no Brasil, já sabemos, e é cada vez mais assim, também, em Portugal. E, desengane-se quem pense o contrário, começa a ser assim, até, em Inglaterra... Mas centremo-nos no caso português, porque, mesmo sendo habitual assistirmos ano após ano a uma certa dança de treinadores, o que está a acontecer esta época ultrapassa todos os limites da razoabilidade.
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Contas feitas, só nos 18 clubes do principal escalão do futebol português, são já 17 as trocas de treinadores: a última foi a saída de César Peixoto do Moreirense. Sim, leu bem: dezassete! Desses 18 emblemas, há três que já vão no terceiro treinador – Sporting, Vitória de Guimarães e Aves SAD – sendo que leões e conquistadores sofreram com a contratação dos seus primeiros treinadores da época por outros emblemas: Ruben Amorim pelo Manchester United e, em consequência, Rui Borges pelo Sporting.
E isto tudo em sete meses, o que quase resulta, em média, em duas trocas de técnico por mês. A razia atingiu, assim, 14 equipas da primeira divisão nacional, pelo que só quatro treinadores se mantêm em funções desde o início da temporada: Vasco Matos no Santa Clara, João Pereira no Casa Pia, Ian Cathro no Estoril e Tiago Margarido no Nacional, nem de propósito quatro das equipas mais interessantes do panorama português, mas que também passaram, aqui e ali, por pequenas crises de resultados.
Fica a pergunta: as várias mudanças de treinador trouxeram reais alterações ao futebol das equipas onde estas aconteceram?
Para o ajudar, aqui fica a lista das 17 alterações de treinador desde julho de 2024, por ordem cronológica:
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Gil Vicente – Tozé Marreco por Bruno Pinheiro por José Pedro Pinto
SC Braga – Daniel Sousa por Carlos Carvalhal
Benfica – Roger Schmidt por Bruno Lage
Farense – José Mota por Tozé Marreco
Estrela da Amadora – Filipe Martins por José Faria
Arouca – Gonzalo García por Vasco Seabra
Rio Ave – Luís Freire por Petit
Sporting – Ruben Amorim por João Pereira; e por Rui Borges
Aves SAD – Vítor Campelos por Daniel Ramos; e por Rui Ferreira
Famalicão – Armando Evangelista por Hugo Oliveira
V. Guimarães – Rui Borges por Daniel Sousa; e por Luís Freire
FC Porto – Vitor Bruno por Martin Anselmi
Boavista – Cristiano Bacci por Lito Vidigal
Moreirense – César Peixoto por Cristiano Bacci