«Surpresas, conforto e caos num Benfica desconhecido», a crónica do Inter-Benfica
Trubin foi o melhor do Benfica em Milão (Foto: Miguel Nunes)

«Surpresas, conforto e caos num Benfica desconhecido», a crónica do Inter-Benfica

INTERNACIONAL03.10.202323:24

Segunda derrota coloca encarnados em posição difícil para o apuramento

Dois jogos, zero pontos, zero golos marcados e último lugar no grupo. Estes são os factos objetivos e por isso ninguém poderá dizer que a vida corre bem na Europa ao campeão português. É verdade que perder por 1-0 com o Inter, em Milão, não é vergonha, mas o problema é que num grupo sem pés rapados, a derrota na Luz com o Salzburgo trouxe ao Benfica a responsabilidade maior de ter de descobrir pontos por debaixo das pedras.

Sabe-se agora que tal não foi possível em Milão, aperta-se mais o nó e o Benfica tem de ter a consciência de que cada jogo que aí vem é cada vez mais decisivo.

Um plano surpreendente

Muitas foram as teorias e as previsões sobre a equipa que Roger Schmidt haveria de escolher para Milão. Surgiram publicados e anunciados os onze mais diversos. Ninguém acertou, porque o treinador alemão apanhou toda a gente de surpresa, incluindo Flippo Inzaghi, fazendo estrear Bernat a defesa esquerdo, o que lhe permitiu adiantar Aursnes para o meio campo e, mais imprevisto ainda, prescindindo do habitual sistema de jogo com um ponta de lança, jogando com dois homens abertos, na frente (Rafa e Neres) dificultando o sistema de marcação dos italianos e criando condições para uma dinâmica de ataque que se tornaria menos controlável. A essa ideia, bem pensada por Schmidt, o Benfica ajustou um futebol de posse de bola, obrigando o adversário a correr e, ao mesmo tempo, garantindo um necessário equilíbrio nos momentos defensivos.

O plano resultou, em cheio, durante a primeira parte, na qual o Benfica se sentiu sempre muito confiante e confortável. 

Sufocado à nascença

O intervalo foi catastrófico. Dos balneários veio um Inter que não tinha ainda estado em campo. Mais pressão sobre os jogadores do Benfica, mais velocidade de execução e total aproveitamento da vulnerabilidade do flanco direito. Bah, lesionado, tinha sido substituído por Tomás Araújo e Di Maria, por exaustão precoce, tinha deixado de ajudar defensivamente. Dimarco tornou-se essencial no desequilíbrio na ala e o primeiro quarto de hora do tornou-se caótico. Vários oportunidades de golo falhadas pelos italianos, duas bolas, uma na barra, outra no poste, e uma exibição giogantesca de Trubin adiaram o inevitável golo que surgiria à passagem da hora.

Sufocado à nascença de uma segunda parte de pesadelo, o Benfica sentiu-se perto de sofrer uma derrota pesada, até porque, sem força e sem poder no meio campo, a entrada de Chiquinho para o lugar de Kokçu não resolveu o problema mais premente.

O plano de emergência

Quase em cima dos 80 minutos, surgiu, como por encanto, o plano de emergência do Benfica. No fundo, um outro plano que assentava num sistema pouco experimentado, agora, com a inesperada presença de dois pontas de lança (Arthur Cabral e Musa). Aursnes passou para o flanco direito e Neres para o flanco esquerdo. A verdade é que o Inter se assustou, tremeu, recuou, refugiou-se na sua habitual garantia de vida de uma defesa muito forte e organizada, mas deixou de sufocar o Benfica e consentiu, mesmo, algumas veleidades que não se pode, em boa verdade, considerar muito ameaçadoras, mas que deixaram no ar uma sensação final de que o Benfica ainda impôs a sua dignidade e defendeu o seu nome, indo à procura de um empate que, a acontecer, teria sido um milagre, mas não deixou de ser possível.