Sporting: Kovacevic amaldiçoado pelos seus mantém frieza entre postes

Ao escolher representar a seleção da Sérvia em detrimento da da Bósnia foi acusado de traição; mãe foi alvo de ameaças; oitava colina de Lisboa quer singrar nos leões

Vladan Kovacevic, nascido a 11 de abril de 1998, em Banja Luka, na Bósnia, é a oitava colina de Lisboa. No seguimento da lenda que dá conta de que a capital portuguesa, tal como Roma, nasceu entre sete colinas, nomeadamente, São Roque, São Jorge, São Vicente, Santo André, Santa Catarina, Chagas e Sant’Ana, o Sporting fez uma apresentação criativa do guardião, cuja compleição física (1,92 m) ajudou ao cenário idílico, apelidando-o de «oitava colina de Lisboa». 

O guardião chega a Alvalade como  peça que encaixa na perfeição no puzzle de Rúben Amorim, que já disse querer uma equipa a defender  mais assumidamente com três centrais, a sair a construir a partir de trás ou a procurar a profundidade, onde Gyokeres é ás de trunfo.

Recuemos no tempo para fazer o retrato do percurso de Kovacevic. Nascido em Banja Luka, a segunda maior cidade da Bósnia e Herzegovina, localizada na margem do rio Vrbas, é a capital da entidade conhecida como República Sérvia da Bósnia e é tradicionalmente considerada o centro da região da Fronteira Bósnia, começou a jogar no clube local, o Zeljeznicar, e completou grande parte da formação no FK Sarajevo, onde, após época de empréstimo ao Sloboda Mrkonjic Grad (2017/2018), regressou para integrar a equipa principal, onde se sagrou campeão e venceu uma Taça da Bósnia, até ser vendido aos polacos do Raków, em 2021.

Na Polónia pegou de estaca e depressa se tornou figura maior da equipa que, recorde-se, foi adversária do Sporting na fase de grupos da última edição da Liga Europa, tendo-se registado um empate em Sosnowiec (1-1) e uma vitória dos leões em Alvalade (2-1). Conquistou um título de campeão polaco, uma taça da polónia, duas supertaça e foi ainda, em duas épocas, considerado o melhor guarda-redes da Ekstraklasa. O Sporting pode desembolsar seis milhões de euros pela sua contratação (€4,8 milhões mais €1,2 por objetivos), naquela que é a transferência mais rentável para os cofres do Raków.

Polémica que envolve a FIFA

O percurso de Kovacevic tem sido em crescendo, sendo clara uma lacuna: a falta de internacionalizações. O caso é complexo. É preciso ter em conta que a história de Kovacevic está influenciada pela política e a guerras nos Balcãs, tendo raízes bósnia e sérvia, possui dupla nacionalidade e com a declaração da independência da Bósnia e Herzegovina e o estabelecimento da república da Sérvia, Banja Luka, cidade onde nasceu, tornou-se no centro da política da entidade local e o guardião identificou-se sempre mais sérvio do que bósnio.

Certo é que o agora guarda-redes do Sporting foi chamado às seleções jovens da Bósnia e até à equipa principal, mas, em fevereiro de 2023, após falhar a estreia pela formação A. A relação com a entidade federativa foi-se deteriorando pela falta de oportunidades e o facto de não ter respondido a uma chamada para integrar um estágio alegando o seu casamento, originou a rotura. Situação agravada quando, em março de 2023,  decidiu aceitar representar a Sérvia, com o selecionador Dragan Stojkovic  a convocá-lo para os jogos de qualificação para o Campeonato da Europa 2024, mas acabou por ser impedido pela FIFA, que considerou que, de acordo com as regras vigentes, Vladan Kovacevic só poderá representar a Bósnia.

Esta decisão gerou uma onda de ódio em torno do jogador, que acabou por ser amaldiçoado pelos compatriotas bósnios, que ameaçaram a mãe, de origem sérvia, e chamam Kovacevic de traidor. Mas, apesar dos insultos gratuitos, o guardião mantém-se firme entre os postes e na sua decisão, tendo recorrido da decisão da FIFA Tribunal Arbitral do Desporto (TAD): «Para mim não é um tópico encerrado. Da minha parte farei tudo o que estiver ao meu alcance para um dia vestir a camisola da Sérvia. Se isso vai ser uma realidade não depende de mim.»

Declaração de amor na chegada a Lisboa

Kovacevic chegou a Lisboa com a ambição de impor-se no Sporting, tendo já afirmado que quer jogar a Supertaça, o primeiro jogo da época, a 3 de agosto, em Aveiro, com o FC Porto, apoiado pela mulher Sofija. Junto há mais de nove anos, tem sido um pilar do jogador, e já na capital portuguesa fez declaração de amor que partilhou nas redes sociais.

«Vi-te a ultrapassar tanta coisa e, com cada experiência desafiante, cresço mais e mais, impressionada pela tua resiliência e força. Agora, todo o teu trabalho e sacrifício deu frutos. Obrigada por trazeres tanta alegria às nossas vidas. Sei que vais continuar a fazê-lo pelo mundo fora. Obrigado não só por seres um guarda-redes incrível, mas também um marido e pai fantástico para as nossas filhas, Zona e Sija. Uma vez disseste-me: ‘És a minha única paz’, e prometo que sempre o serei! Parabéns, conseguiste! Lisboa, também te vais apaixonar por este homem», escreveu.