Entrevista a Tiago Moutinho «Sempre que aparecer a Académica vou pensar muitas vezes»

NACIONAL07.12.202410:15

Treinador explica decisão de não renovar com a Briosa para depois decidir de novo emigrar, desta vez para a Jordânia, aceitando o convite do campeão Al Hussein

- Não teria sido mais lógico tentar uma segunda vez a subida com a Académica ou, não renovando, esperar que surgisse uma equipa com projeto mais ambicioso, ainda de Liga 3 ou eventualmente até Liga 2, em vez de aceitar este tipo de aventura na Jordânia?

 - Quando surge o convite da Académica há dois anos, a equipa estava no último lugar da Liga 3. Lembro-me perfeitamente das primeiras notícias e de muita gente dizer «Não vás, aquilo é um cemitério de treinadores, nunca mais vais ser treinador». Ouvi muitos comentários do género e fui sozinho, sem a minha equipa técnica, que estava na Sanjoanense. Já se comentava que se calhar a Académica iria acabar e surgir no ano seguinte em escalões inferiores e com outro nome. Não me assustou, mas deixou-me algo apreensivo. Mesmo assim, agarrei o projeto, porque, quando me falavam da Académica, tinha a noção de que era um clube com uma dimensão enorme… Aliás, outra história engraçada… Estava no banco quando a Académica conquista a Taça de Portugal e, no dia em que cheguei a Coimbra, a primeira coisa que o presidente me mostrou foi o troféu. Disse-lhe: «Oh, presidente, ainda agora cheguei e já me está a mostrar essa Taça, que é o pior momento desportivo que vivi»… Mas não tinha a noção da real dimensão da Académica, dos adeptos, do estádio, das condições de treino, do amor das pessoas, que antes estavam afastadas, pela Académica. Adorei estar lá. As coisas correram muito bem. Foi um impacto positivo, muito grande. Tenho ideia de que tivemos cinco vitórias seguidas, um empate, uma vitória e, depois no último jogo, de festa, com o Moncarapachense, acabámos por perder. Houve a possibilidade de ficar mais um ano, havia ali uma empatia muito grande entre mim e os adeptos, e até foram criadas umas músicas, foi muito, muito giro. E, no ano seguinte, estivemos perto da subida, terminámos em primeiro na primeira fase e depois, na segunda, começámos mal, tivemos ali um ou outro percalço, mas fomos até ao penúltimo jogo com possibilidade ainda de subida, que não conseguimos… Mas foi uma época muito boa, muito positiva, além da qualidade do jogo que tínhamos. Tirando o SC Braga B e o Sporting B éramos a equipa mais nova, tínhamos um plantel muito novo...

«Qualidade de jogo da Académica levou-me para a Jordânia»

7 dezembro 2024, 10:00

«Qualidade de jogo da Académica levou-me para a Jordânia»

Tiago Moutinho teve curta experiência no Al Hussein, ao serviço do qual teve pela frente dificuldades inesperadas, e está de regresso a Portugal, em busca de novo projeto. O treinador conta várias peripécias, entre as quais a do jogo que começou com muito atraso, porque havia duas equipas já em campo

- Parece que estás a apresentar contra-argumentos…

 - Para não ter ficado! Gosto muito das pessoas lá, da direção, do presidente, do diretor desportivo, o David Caiado… Gostei muito do clube e foi com alguma tristeza que não fiquei… Foi pública a proposta de ficar mais um ano, mas na altura queria dar um salto para uma liga acima, uma vez que já havia ali uma outra possibilidade, um outro contacto também, com equipas da Segunda Liga, que acabaram por não se concretizar. Depois, surgiu a Jordânia, mas sim, marcou-me muito, porque é um clube com uma dimensão muito grande. Não é só o dia a dia, porque se vive muito ali com a Imprensa. Há dois jornais diários em Coimbra, constantemente preocupados com o que se passa no clube, conferências de Imprensa…

- Se o lugar hoje estivesse vago voltarias para a Académica?

 - É uma boa questão. Acho que sempre que surgir a possibilidade Académica irei pensar muitas vezes, porque é um clube que está aqui no coração, sem dúvida, até pelas pessoas que estavam na direção. Realmente, olhando para o contexto da Académica, de uma Liga 3, tem de estar mais acima, numa Primeira Liga, porque tem condições para isso. É uma pena estar onde está, não conseguimos… Dizia, quando começou a segunda fase, «vamos sonhar juntos» e sonhámos, mas foi pena aquele final. Temos ali um outro jogo, com o SC Braga B, que faz um golo aos 96, mas aos 96 não podes sofrer um golo, não é? Isso dar-nos-ia, depois, a possibilidade de estarmos mais acima no final, mas fica uma boa imagem nossa, tanto foi que no final da época o Diogo Amaro, agora no Qatar, foi vendido, o Juan Perea também… quer o Diogo quer o Stitch foram à seleção de sub-20… e um clube de Liga 3 meter dois jogadores na seleção sub-20… Conseguimos alguns feitos importantes, foi um projeto à minha imagem, em que também tive a possibilidade, principalmente no segundo ano, com o David Caiado, de construir uma equipa à nossa imagem, de colocar as ideias em prática, de colocar aquilo que é o Tiago Moutinho, enquanto treinador, em campo. Fui para a Académica sem equipa técnica e lembro-me de perguntar ao presidente «Quem tem na formação? Tem alguns treinadores competentes em que veja a possibilidade de me acompanharem na equipa A?» Falou-me do Pedro Roma, do Sam [Jegen]. O Fábio [Monteiro] já lá estava e lá continua, também muito competente. Foi uma equipa técnica também de gente nova, com muita competência, vontade de trabalhar, aprender… Foi criada uma dinâmica muito boa, comigo, com eles, o que é muito importante, e com os jogadores também e toda a estrutura. Foram 15 meses muito positivos.