«Foi o destino que Deus me deu», diz Renato Paiva. «Tenho muito orgulho, por tudo o que estudei, por tudo de que me privei», acrescenta, sobre o percurso ascendente
O miúdo Renato, que treinava remates contra um galinheiro em forma baliza na pequenina Pedrogão Pequeno, perto da Sertã, poderia imaginar que o mister Renato Paiva treinaria um campeão brasileiro e sul-americano em palcos como o Maracanã ou o Morumbi? «Não», responde o próprio.
«Em Pedrogão Pequeno, perto da Sertã, onde nasci, porque o meu pai trabalhava nas barragens da EDP e a família andava sempre atrás do trabalho dele, tínhamos um galinheiro, mas sem galinhas, que me servia de baliza, porque eu nasci com uma bola no braço, não consegui ser jogador, porque tive de optar entre o estudo e o jogo, mas no futebol amador e no futsal eu já era sempre capitão e perguntava tudo aos treinadores», recorda.
«É um desafio gigantesco, mas desde que comecei a treinar foi nisto que sonhei», diz o treinador do campeão Botafogo, em entrevista a A BOLA. Encantado com o clube, o patrão Textor, a academia e a atitude do plantel, técnico português atribui o favoritismo teórico ao Palmeiras e Flamengo. «Mas na prática vamos ver»
«Depois conheço o José Mourinho em Setúbal, para onde fui aos 12 anos, e ele incentivou-me ‘vai, tenta’, então tirei cursos, fiz estágios, entrei no Benfica e pus como meta o futebol profissional mas, enfim, o destino é o que Deus nos dá», prossegue. «Lembro-me como se fosse hoje do primeiro jogo oficial pelos sub-14 do Benfica num pelado no Zambujeiro e agora vejo-me num Maracanã, num Morumbi, num Azteca, isso enche-nos de orgulho, por tudo do que me privei, por tudo o que estudei.»
«Primeira vez que chorei foi com o Brasil de 82»
Sem supor que um dia treinaria no país, foi a seleção do Brasil (e a matreira Itália de Paolo Rossi) quem arrancou as primeiras lágrimas do jovem adepto Renato Paiva, então com 12 anos. «Quando era miúdo, gostava de ver jogar o Benfica do Eriksson mas curiosamente a primeira equipa que me fez chorar no futebol foi a do Brasil, em 1982, na derrota para a Itália [2-3], com Sócrates, Zico, Éder, Falcão, Junior, aliás, essa equipa do Brasil, até ao Barcelona de Guardiola, foi a que mais me encantou». conta. «E a segunda vez que chorei foi na meia-final do Euro-84, no célebre Portugal-França [2-3]...»
«Carvalhal, a mais importante entre muitas outras referências»
Renato Paiva cita 11 treinadores que acompanhou, em maior ou menor grau, mas destaca Carlos Carvalhal como referência. «No Benfica vi a pré-época de Trapattoni, Camacho, Koeman, Fernando Santos, Quique Flores, Jesus, mas a pessoa mais importante para mim foi o Carvalhal, que me abre a porta para estagiar quando chega ao Vitória de Setúbal, estava eu no futsal do clube”». «Estava exatamente a ler na altura a tese dele, são sinais...». «Depois, há o Luís Castro, mesmo estando ele na formação do FC Porto e eu na do Benfica, desenvolvemos uma amizade improvável até hoje... e ainda observei Guardiola no Barça, Sampaoli no Sevilha, Simeone, no Atlético, e todos me ensinaram muita coisa.»
«Campeão? Agora não descarto ninguém»
Nem Sporting, nem Benfica, nem FC Porto nem mesmo o SC Braga do mentor Carvalhal estão afastados do título, segundo Renato Paiva. Mas os leões, com Ruben Amorim, estavam lançados. «Não coloco ninguém de fora, nem FC Porto, nem SC Braga, com plantel muito bom e com um extraordinário treinador, o Carvalhal, mas colocaria todos de fora se o Ruben Amorim tem continuado no Sporting, para mim era evidente que seria campeão, nada a ver com quem veio depois, mas era um trabalho de qualidade e continuidade, agora está tudo muito equilibrado, não descarto ninguém». «Mas não vou ver, porque com tanto jogo aqui não terei tempo, só vou procurar saber quem ganha [risos].»