Saúde mental: é de pequenino que se torce o pepino
Simon Biles foi uma das estrelas do desporto a falar de problemas do foro mental e emocional (fotos Imago)

Saúde mental: é de pequenino que se torce o pepino

FPF lançou Manual de Boas Práticas com o objetivo de aumentar a literacia emocional de atletas, treinadores, familiares e funcionários de clubes no contexto do desporto de formação

O mote é simples - «Não há saúde sem saúde mental» - e o objetivo é chegar a todos os envolvidos no desporto de formação em Portugal. A FPF lançou na manhã desta quinta-feira o Manual de Boas Práticas do projeto Sentinelas da Saúde Mental, com o intuito de promover, prevenir e aumentar a literacia emocional no contexto dos jovens que praticam desporto.

Stress, ansiedade e depressão não tocam apenas os outros. Nem somente os mais velhos. E muito menos escapam dos que praticam desporto - como se viu em casos recentes de estrelas como Simon Biles, multimedalhada olímpica de Ginástica, ou de Michael Phelps, maior campeão olímpico de natação.

Com efeito, cada vez mais, grande parte dos problemas mentais e emocionais começam a revelar-se em tenra idade e é com isso em mente que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em conjunto com o Grupo de Atuação em Psicologia e Performance (GAPP) e com o ministério da Saúde, deu início em outubro do ano passado a um estudo e a uma série de sessões de formação junto de 1300 pessoas e mais de 300 clubes e que, agora, resultam no manual apresentado esta quinta-feira na Cidade do Futebol, pela coordenadora científica do projeto, Ana Bispo Ramires, e pelo investigador principal do GAAP, João Lameiras.

Ana Bispo Ramires, coordenadora científica do projeto Sentinelas da Saúde Mental, apresenta o manual na Cidade do Futebol

O vice-presidente da FPF, João Vieira Pinto, assistiu também na apresentação e, no final, deixou a sua opinião sobre o tema da saúde mental no Desporto, depois de ouvir que é entre os jovens que há menos literacia emocional e que o repouso e o apoio psicológico são fundamentais «para ajudar a construir um futebol e uma sociedade» melhores.

João Vieira Pinto, vice-presidente da FPF (foto: Miguel Nunes)

«Felizmente, hoje, fala-se muito mais e de uma forma muito mais natural da saúde mental do que se falava há uns anos. Eu recordo-me que quando era jovem e comecei na formação, aqui na FPF, já tínhamos psicólogo, com o professor Carlos Queiroz. Só que, entretanto, não foi dado seguimento a isso...», afirmou o dirigente federativo e antigo internacional português, bicampeão do Mundo sub-20 com Queiroz no comando, em 1989 e 1991.

«Felizmente, hoje em dia, faço parte de uma direção que tem essa preocupação e que quer dar mais ênfase e importância a esta questão, porque eu acho que é fundamental, sobretudo nos dias que correm, com a velocidade com que o tempo corre, com a pressão que existe no desporto, mas em todas as outras áreas também. Cada vez mais é importante a saúde mental», concluiu João Pinto.

Stress, ansiedade e depressão 'atacam' cada vez mais no desporto de alta competição (foto: Imago)

Por fim, o vice da FPF sublinha a preparação cada vez maior dos jovens relativamente ao tema da saúde mental: «Sim, mais preparados e, sobretudo, muito mais receptivos. Aceitam muito melhor e sabem que é uma questão fundamental para a sua própria carreira, que vai ajudá-los a progredir e, ao mesmo tempo, a evitar casos como os que tivemos no passado, infelizmente, de meninos que aos 16 anos tiveram de abandonar porque não tiveram um acompanhamento adequado. Este tipo de iniciativas também ajuda que a saúde mental deixe de ser um estigma também na área do desporto.»