Opinião Que Ano Novo teremos no Porto e em Oeiras?
Há desafios muito importantes no novo ano, para o futebol português, para o jogo a nível mundial e para protagonistas bem identificados
Quase todos os anos é assim. Aproveitamos o virar de página nos calendários para atualizar desejos, comentários, previsões. E sempre queremos que se concretizem na exata medida do que pensamos. Será que é isso mesmo que vai acontecer já no primeiro bimestre, com duas eleições essenciais para a visão construtiva, de médio e longo prazo, que se almeja para as duas principais estruturas do futebol português?
Na Federação Portuguesa de Futebol, termina um longo período de liderança o mais que provável futuro Presidente do Comité Olímpico de Portugal.
Fernando Gomes deixa obra e ideias estruturantes. Não é razoável pensar-se em imitações de estilo ou de programa para a principal cadeira da Cidade do Futebol, da mesma forma que é essencial que os candidatos já anunciados mantenham identidade, já que o estigma, esse, apenas se conquista com o exercício dos cargos, com as decisões tomadas, com a legitimidade adquirida ao longo do tempo. E, nesse particular, são bem diferentes os caminhos propostos e, sobretudo, o modo ab initio de encarar a função de Presidente da FPF.
Um dos nomes emerge do chamado futebol profissional, um edifício pouco mutável de 36 emblemas de clube ou de sociedade desportiva com interesses próprios, específicos do exercício da sua atividade supostamente lucrativa, profissional, organizada e promovida. Curiosamente, numa altura em que uma das competições organizadas pela Liga Portugal é minimizada a um sistema competitivo mínimo e profundamente criticável.
O outro advém da componente associativa, de uma prolongada experiência numa das maiores associações de futebol do país. E é incontornável reconhecer que esse é um upgrade para quem quer assumir funções federativas. O verdadeiro movimento de base e de sustentação da FPF é, justamente, o associativo, o panorama da heterogeneidade social e humana das 22 estruturas que dão forma ao futebol na sua génese.
Resta confrontar os dois planos, as duas personalidades, os dois projetos, os dois futuros para corresponder a um legado de imensa qualidade deixado por Fernando Gomes ao seu sucessor.
Do mesmo modo, a Liga Portugal vê o seu Presidente de há vários anos deixar estrutura forte, seja no plano organizativo e administrativo, seja na componente patrimonial. O novo edifício, recentemente inaugurado no Porto, é o reflexo do sonho do futebol profissional, que se alarga, agora, à perspetiva formativa (com a criação da Business School), e à aposta forte na relação com os adeptos e na passagem da mensagem de uma liga verdadeiramente competitiva.
E aí talvez tenhamos, na inevitável comparação entre FPF e Liga Portugal, um primeiro ponto de fratura. Enquanto a entidade federativa dispõe de uma invejável posição de competitividade no que à seleção A diz respeito, no plano das competições internacionais (bem como, tradicionalmente, no âmbito da formação), a Liga Portugal não conseguiu — é essencial reconhecê-lo — alavancar por completo a imagem e a capacidade de penetração no mercado internacional da sua competição-âncora, a primeira liga de futebol.
O projeto tão propalado de colocar a liga portuguesa logo atrás das Top 5 (Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e França) está muito longe de ser conseguido, e não vale a pena atirar areia para os olhos. Nas estruturas dos clubes, na organização, planeamento e cativação de novos sponsors, na projeção da marca a nível internacional.
Os dados financeiros disponíveis demonstram crescimento no mercado global, mas ainda um importante diferencial para as que são, de longe, as mais mediáticas, com maior e melhor acolhimento por parte do público internacional e com maiores garantias para potenciais investidores.
Tirando, pela exposição gerada pelas recorrentes presenças nas competições europeias de clubes (sobretudo a UEFA Champions League), FC Porto, Benfica e Sporting, experimentem propor a difusão (com o máximo respeito, claro, para os envolvidos…), de um Gil Vicente-Estrela ou de um Casa Pia-Arouca a uma qualquer grande estação internacional de televisão…
Portanto, muito mais difícil do que o desafio para quem suceder a Fernando Gomes na Cidade do Futebol (desde que o faça com conhecimento estrutural, experiência de trabalho com as bases do futebol português e compromisso com todos os agentes do desporto-rei nacional), será o trabalho de quem se dispuser a liderar a Liga Portugal, porque deparará, eventualmente, com um projeto deixado a meio do seu pleno desenvolvimento e sem o rumo que, há alguns anos, lhe tinha sido traçado.
Estes são dois desafios maiores para 2025. A nível nacional, importa também rever a ridícula fórmula de disputa da Taça da Liga. Mais valia não existir e, assim, libertar algumas datas no calendário para os poucos privilegiados que têm acesso à prova, no atual modelo.
E também é essencial olhar para a tipologia, frequência de realização e processos de admissão nos cursos de treinadores. A respetiva associação nacional, que tanta verborreia exibe em momentos inoportunos, terá talvez, em primeiro lugar, de perceber se esse é mesmo o rumo que quer trilhar na dignificação e engrandecimento de uma classe profissional tão fundamental como mal defendida, nos últimos anos, em Portugal.
Cartão branco
Se alguém, no panorama futebolístico português, merecia a oportunidade de treinar uma das maiores marcas do futebol mundial, era Sérgio Conceição. Depois da mal explicada saída do FC Porto, o homem do leme de um dos períodos de melhor rendimento desportivo dos azuis-e-brancos (sabe-se lá, por vezes, com que problemas internos para gerir e resolver…), tem um cunho incontornável: duro, de rosto fechado, profissional total, competidor inveterado e defensor do seu balneário. No Milan terá condições para mostrar (ainda mais) o que vale.
Cartão amarelo
Não vai ser fácil. Sabia-se que jamais seria, pela idiossincrasia do clube e pela particularidade da liga inglesa. Mas talvez Ruben Amorim não contasse com tamanho labirinto entre os corredores do United de Manchester. Não ajudam, por exemplo, as declarações de Cristiano Ronaldo sobre uma casa em que reentrou e da qual voltou a sair quase à mesma velocidade. Não é disso que se precisa em Old Trafford. Será que Amorim vai conseguir sair ileso da tempestade?