São de Ronaldo e gritam por Portugal

INTERNACIONAL19.06.202400:42

Outra forma de sentir a Seleção; na ‘fan zone’ de Estugarda a maior parte dos adeptos vestiam as cores lusas mas não são portugueses nem falam a língua; o clube deles chama-se CR7 e veem o jogo sob uma perspetiva individual

Vestem camisolas de Portugal, gritam por Portugal mas não falam o idioma nem são portugueses. São alemães, turcos, ingleses, argelinos, mas são acima de tudo adeptos de Cristiano Ronaldo, embora tenham vibrado tanto com o golo de Francisco Conceição como se tivesse sido o ídolo cujo nome trazem às costas a marcar.

«Ronaldo é um deus aqui na Alemanha», dizia-nos uma das poucas portuguesas que veio à Schlossplatz, uma das praças principais do centro da cidade, para participar na festa. Uma celebração coletiva modesta comparada, horas antes,  com o mar de gente na vitória da Turquia sobre a Geórgia, cuja comunidade está para este país como os portugueses para França.

 Era fácil circular por ali. «Os portugueses ou vêm na segunda parte ou só no sábado porque estão a trabalhar», explicou outra adepta, 15 minutos antes do apito inicial. Duas amigas (uma delas de baixa, mas que não resistiu a pegar na bandeira e assistir à ação junto ao enorme ecrã gigante) treinavam cânticos em português, mas que eram prontamente abafados por uma mistura de línguas cuja única palavra universal era naturalmente o nome do capitão da Seleção.

«Desculpe, é português?» «Nein», «No». A prova do algodão seria no momento de ouvir A Portuguesa. Poucos sabiam a letra, alguns apenas murmuravam qualquer coisa, mas quando o foco incidiu no madeirense a praça entrou em delírio, uma Ronaldomania que resiste no tempo e está muito para lá da tradicional forma de ver um jogo de futebol. Bastava ao avançado fazer aquelas simulações inconsequentes que terminavam em passes laterais curtos o delírio tomava conta do espaço.  Mais do que uma seleção, ou mesmo um desporto, a adoração pelo melhor jogador português de todos os tempos está ao nível das maiores estrelas pop da história.

Finalmente, quando a realização apanhou o abraço de Francisco Conceição a CR7 mal soou o apito final os decibéis voltaram a subir, o final feliz que este público queria ver. Porque não faz sentido aplaudir Portugal se a referência maior não for sempre a personagem principal. Cristiano Ronaldo FC é a paixão deles e a Seleção Nacional uma espécie de segundo clube. Têm simpatia, mas a paixão é outra.