«Regressaria a Portugal com agrado»

Entrevista «Regressaria a Portugal com agrado»

NACIONAL07.08.202308:45

Encerrada a etapa Hapoel Beer Sheva (Israel), o futuro de André Martins aponta a várias hipóteses. O regresso à Liga, ao fim de sete anos, ou a permanência no estrangeiro são possibilidades que o médio de 33 anos pondera para a sua carreira, sendo que a sua decisão irá ao encontro de «um bom projeto».

- Passou sete temporadas fora de Portugal: terminada a ligação ao Hapoel Beer Sheva, é hora de regressar a ou admite continuar no estrangeiro perante um bom projeto?

- Essa é a palavra- chave... Sendo um bom projeto, em Portugal ou no estrangeiro, é o mais importante para mim. Tenho uma filha de um ano. Não é uma situação urgente regressar já a Portugal. Ambiciono um bom projeto, se possível vencedor, que é o que mais me interessa neste momento.

- Aos 33 anos, que desafio tem em mente para a sua carreira?

- É verdade que estou há alguns anos fora, com várias experiências muito boas. Vejo-me a continuar fora, mas um regresso a Portugal teria outro sabor. Já estou há uns anos fora, a Liga portuguesa tem aumentado os níveis de qualidade. Vejo-me a regressar à Liga portuguesa com agrado. Como se tem visto nos últimos anos, têm chegado jogadores de muita qualidade. É um campeonato atrativo. E ficaria perto da família e dos amigos. É uma questão de esperar, ver o melhor projeto e tomar a melhor decisão.

- Já se perceberam algumas saudades da nossa liga: tendo em conta a sua experiência profissional, em que patamar colocar o nosso campeonato?

- Dos campeonatos em que joguei, provavelmente coloco-o no topo. É muito competitivo, com jogadores de muita qualidade. Tem vindo a aumentar de qualidade ano após ano. Consegue trazer jogadores de muita qualidade.

- Despediu-se do nosso público em 2016: que diferenças encontra no homem e no jogador que daqui saíram nessa altura?

- Sou um jogador mais experiente, consigo gerir jogo, a energia, o cansaço. Vejo o jogo de outra maneira. Apesar dos 33 anos, gosto de aprender, de gerir ritmos, ler o jogo, saber o que o jogo pede. Tenho uma filha e a vida mudou completamente. A minha companheira tem-me apoiado na minha carreira, tornando as coisas mais fáceis quando se tornam mais complicadas. Como homem e jogador estou completamente diferente. Os anos passaram e aprendi muito. Sinto que mudei para melhor, evidentemente.

- Foi formado no Sporting, regressou a Alvalade após duas cedências e realizou mais de uma centena de jogos pelo clube: foi tudo o que tinha imaginado?

- Quando fui para o Sporting, com 12 anos, o meu sonho era representar o clube no patamar mais alto. Tive essa oportunidade, fazendo parte do plantel principal durante algumas épocas. Foi dos primeiros sonhos concretizados. O Sporting é o meu clube de coração. É sempre um motivo de orgulho. Guardo uma enorme gratidão pelo Sporting, por tudo o que me deu.

- Venceu uma Taça de Portugal e, entretanto, prosseguiu o seu trajeto na Grécia (Olympiacos), na Polónia (Légia de Varsóvia) e em Israel (Hapoel Beer Sheva), tendo conquistado títulos em todas as paragens: que balanço faz da sua caminhada?

- Muito positivo. Tive a felicidade de sair do Sporting e representar grandes clubes na Europa, sendo o Olympiacos e o Légia Varsóvia os maiores clubes da Grécia e da Polónia. Ganhei títulos por todas as equipas que passei. Num balanço essa são as coisas que ficam, isso e as memórias muito boas. Estou muito orgulhoso do meu percurso. Alcancei títulos em equipas diferentes, o que me deixa muito confiante para agarrar o próximo projeto.

- O Sporting não ganhou qualquer competição na época passada: é obrigatório juntar um troféu ao seu palmarés em 2023/2024?

- Acho que sim. Todos os anos são importantes para o Sporting conquistar algum troféu ou algum título. É importantíssimo para a grandeza do Sporting. Sporting tem sempre lutado por troféus, tem ido à luta. Evoluiu muito com a chegada do Rúben Amorim e com a entrada do presidente Francisco Varandas. Tem formado uma equipa muito forte, coesa e para qualquer sportinguista é bonito ver esta evolução. Tenho a certeza que vai ser uma época positiva. Tem vindo a crescer ao longo dos anos. Vão lutar pelos títulos.

- Depois de ter sido campeão nacional há dois anos, Rúben Amorim é o homem certo para recolocar a equipa na rota das vitórias?

- Sim, completamente. É um treinador que conhece muito bem o campeonato, os jogadores, a sua disposição, consegue tirar o melhor proveito dos jogadores que tem. É um treinador inteligentíssimo, lê muito bem o jogo. Já era assim como jogador. É uma vantagem, é um sinal mais para o Sporting continuar com Rúben Amorim como treinador.

- De que clube falamos hoje em dia? Existe uma distância maior para Benfica e FC Porto ou não é bem assim?

- Apesar dos investimentos de Benfica e Porto serem sempre muito superiores, na atualidade não vemos essa diferença tão grande como já houve. Evoluiu muito como equipa e clube. Está muito próximo de Benfica e FC Porto, mas os investimentos são diferentes. Combater isso dentro de campo, claramente.

- Da sua altura, são raros os jogadores que integram o atual plantel: Ricardo Esgaio, então um extremo promissor, é um deles. Como avalia a capacidade de resposta e de superação do lateral em contextos, por vezes, adversos?

- Está à vista de todos. Somos amigos, é um grande homem, para além de grande jogador e apesar de todas as adversidades, tem um espírito de superação incrível e muita qualidade. Está a demonstrá-lo. Agarra o lugar quando joga e mostra a confiança. Até o treinador já falou sobre isso. Gosta de trabalhar e aprender, vai ter um futuro risonho. Desejo-lhe toda a sorte do Mundo.

- Lembra-se onde estava no dia 10 de junho de 2013? (Foi a data da sua estreia pela Seleção Nacional, que venceu a Croácia por 1-0 num particular realizado em Genebra)

- Onde??? Pois, foi… Não me tinha lembrado… É arrepiante ouvir o hino nacional representando o país. É o sonho de qualquer profissional e consegui concretizá-lo. É muito emocionante, era outro dos sonhos que tinha. Mais ainda por estar entre os melhores jogadores portugueses, partilhando o balneário e treinando ao lado de Cristiano Ronaldo, o melhor jogador da história.

- Três anos depois dessa data, Portugal foi campeão europeu: podia ter feito parte desse elenco?

- Depois de ser campeã europeia, não havia nada a acrescentar aquela equipa. Saindo de Portugal, apesar de titular indiscutível nas equipas onde alinhei, seria sempre muto difícil de regressar à Seleção. Sabia do nível e qualidade dos jogadores chamados. Sempre fui muito realista. Sempre sonhei em representar a seleção, mas sempre fui realista, devido à qualidade dos jogadores chamados e a aparecer nessa altura.

- Qual o sentimento quando se joga em representação do País? A camisola pesa mais um bocadinho?...

- É um sentimento de orgulho, é muita emoção junta. Representar o país, de milhões de pessoas, e estar no lote dos melhores jogadores portugueses… São muitos pontos positivos, muitos motivos de orgulho. Temos as nossas famílias, que vibram muito com um acontecimento destes. Também lhes diz muito.

- Somou as duas internacionalizações pela mão de Paulo Bento, que também o orientou no Olympiacos: foi um treinador especial na sua carreira?

- Claro. Muito! Foi com ele que me estreei pela seleção, também tivemos momentos muito bons no Olympiacos e já tinha sido assim no Sporting, quando era júnior e me chamou à equipa principal. Sempre me marcou. E como ele, houve outros que me ajudaram muito, que fizeram de mim o jogador que sou hoje.