Professor em greve não ensinou Rúben: a crónica do Olivais e Moscavide-Sporting

Professor em greve não ensinou Rúben: a crónica do Olivais e Moscavide-Sporting

NACIONAL22.10.202300:15

Sporting experimental, sem unidade e sem inspiração. Rúben fez emendas decisivas. Como é diferente este Sporting com Gyokeres.

Havia uma promessa clara de Rúben Amorim. Ia demonstrar que tinha aprendido a lição da época passada quando o Sporting saiu da Taça logo na primeira fase da prova, tendo sido eliminado pelo Varzim. Agora seria impossível que a História se repetisse, porque treinador e jogadores estavam avisados. Mesmo considerando que o adversário, o Olivais e Moscavide, era uma equipa do quinto escalão, ninguém iria facilitar, até porque o Sporting, atual líder do campeonato, reafirmava a sua vontade e determinação de levar a Taça de Portugal a sério e, por isso, ser sério candidato a conquistá-la.

No fim, só meia promessa cumprida. O Sporting passou, como aliás seria quase inevitável, esta eliminatória, mas a verdade é que Rúben Amorim não aprendeu a lição, eventualmente, porque o  professor entrou na onda de reivindicações da recuperação do tempo de trabalho não contabilizado pelo governo e fez greve. 

O perigo de começar a perder

No onze escolhido por Rúben Amorim, a evidente tentação do risco com uma defesa muito pouco jogada (Fresneda, St. Juste, Neto e Matheus Reis), com Essugo como médio mais defensivo e com Pedro Gonçalves como ala no corredor esquerdo. Na frente, na ausência de Viktor Gyokeres, eventualmente a recuperar psicologicamente do traumático jogo da seleção sueca em Bruxelas, um solitário e desinspirado Paulinho, apoiado na versatilidade de Trincão.

Uma equipa desenhada em Excel, mas que viria a mostrar-se demasiado dependente das competências individuais dos seus jogadores e, por isso, sem consistência de um grupo profissional.

Pior o panorama se tornou, quando o Olivais e Moscavide chegou a uma inconcebível vantagem, logo aos 8 minutos, num penalti tão evidente quanto despropositado.

Sabe-se que existem duas situações de perigo para as equipas grandes neste tipo de jogos de Taça. O primeiro, é demorar muito a marcar o primeiro golo, porque o adversário começa a acreditar que pode fazer história. Pior, só quando o adversário é o primeiro a marcar. E foi precisamente isso que sucedeu ao Sporting.

De emenda em emenda

Faltavam apenas dois minutos para o intervalo quando o Sporting chegou ao empate. Demasiado tempo para construir um golo e, mesmo este, também num penalti escusado. Muito tempo esbanjado num futebol ostensivamente atacante, mas feito de pedras soltas, sem cimento que o unisse. Daí que tudo se tivesse tornado cansativo e cinzento como anoite chuvosa da Reboleira.

A partir do intervalo, Rúben Amorim foi emendando o erro. Emendas atrás de emendas e todas elas esclarecidas e esclarecedoras. Primeiro, a entrada de Geny Catamo para defesa direito a dar a velocidade que esse flanco nunca tinha tido. Depois, com a repetição da receita para o flanco esquerdo com a entrada de Nuno Santos. A partir daí, o Sporting ganhou o jogo e se passou por um pequeno susto final, com o resultado ainda na margem mínima (1-2), foi porque a equipa se tornou, também, inexplicavelmente perdulária em sucessivos lances de golo estrondosamente desaproveitados.

Honra também devida ao Olivais e Moscavide que conseguiu o principal objetivo de não ser um género de bombo da festa da Taça. A equipa esteve sempre organizada e chegou a inquietar o Sporting. Defendeu bem, sem pontapés para a bancada, jogou a bola quando a conseguiu ter e deu sinais de que o futebol ao nível regional (I divisão da AFL) já não é jogado com bola quadrada.

É inevitável que os treinador e jogadores do Olivais e Moscavide sintam, com orgulho, a noção de um dever cumprido e isso, em boa verdade, já seria a vitória que este grupo poderia ambicionar.

Deve, entretanto, o Sporting e o seu treinador regressarem rapidamente ao planeta Terra. Vêm aí jogos com outro grau de dificuldade e, para já, torna-se urgente que Gyokeres ocupe o seu lugar. Com ele, o Sporting é muito diferente.