O regresso do menino que não gostava de comer salada

Benfica O regresso do menino que não gostava de comer salada

NACIONAL26.06.202300:28

Na balança das expectativas o fator idade tem um peso muito inferior a tudo o que Di María pode aportar ao Benfica. Os 35 anos podem causar alguma apreensão, mas não desconfiança. E à qualidade como futebolista e experiência de um campeão do Mundo que representou alguns dos melhores clubes europeus junta-se um dado recordado pelos antigos colegas que com ele trabalharam no Seixal e na Luz entre 2007 e 2010, três anos que deixaram marca: ele já conhece o clube.


«É um benfiquista que regressa a casa». Podia ser uma frase para estampar numa 't shirt', mas Pedro Mantorras não está a estudar marketing, aquilo é o coração e as memórias a falarem mais alto. «Di María sente o Benfica. Ele é um guerreiro que vive o clube», explica o antigo avançado das águias, realçando a «experiência»  do argentino que poderá ser «muito importante para os jogadores mais jovens». «Ele aprendeu muito no Real Madrid, PSG, Juventus... é um campeão do mundo», reforça Mantorras, falando com propriedade sobre talento - e que ainda jorra a rodos no pé esquerdo de Angelito.
«Se não tiver lesões será um jogador muito importante no Benfica», reforça o angolano.


Quim subscreve: «A idade conta. Não mata, mas mói. Mas se ele não tiver lesões pode ajudar muito o Benfica. Já não é o mesmo Di María que saiu em 2010, mas está agora mais experiente e pode trazer essa experiência para o balneário, que também é muito importante.»


Para o guarda-redes campeão em 2005 e 2010 é fundamental uma «boa gestão» da condição física de Di María - esse aspeto foi bastantes vezes focado pelo antigo internacional português.


«A idade pesa, claro, não há como negar, mas penso que se o Benfica o quer, saberá fazer bem essa gestão», destaca Luís Filipe. O antigo lateral-direito do Benfica considera o antigo camisola 20 das águias «um jogador de topo mundial» desde que esteja em boas condições, esperando, na condição de amante de futebol, que Di María «não tenha lesões, como na época passada», na Juventus.


«HUMILDADE», MESMO AOS 35

Di María já não é o «mesmo jogador» que saiu para o Real Madrid porque, entre outras coisas, ganhou outra maturidade tática. Com Carlo Ancelotti, por exemplo, aprendeu a jogar muito mais por dentro. «É um percurso normal dos extremos: irem saindo da linha e ganharem outras capacidades, tornando-se mais cerebrais», analisa Luís Filipe, que não considera o argentino um «construtor de jogo», isto é, espera vê-lo a jogar no último terço na estratégia de Roger Schmidt. «Ele continua muito forte no um para um e mantém a irreverência, só que agora fá-lo mais numa zona central.»


«Ele faz muito bem as três posições do ataque», observa Quim, também insistindo nas qualidades «no um para um» do antigo colega que aos 35 anos tem uma forma de trabalhar totalmente diferente dos tempos em que chegou a Lisboa proveniente do Rosário Central, com 19 anos e na companhia de Andrés Díaz (hoje com 40 anos e que se retirou do futebol em 2011),  numa transferência de €6 milhões por 80% do passe (mais €2 milhões seriam pagos em 2008 pelos restantes 20%).


«Ele teve mesmo de fazer um trabalho específico de reforço muscular. E não gostava de comer saladas nem massas. Teve de ser ensinado, aprendeu a importância da nutrição, do trabalho permanente de ginásio. Isso vê-se agora e graças a isso ele fez grande carreira», afirma Pedro Mantorras, realçando ainda outra característica do esquerdino: a «humildade».


«Este é um valor muito importante no Benfica», justifica o angolano, que na  sua habitual forma apaixonada de se expressar eleva a identidade coletiva em prol das qualidades individuais, por muitas que sejam as do internacional argentino: «Se o Benfica se torna mais forte com Di María? O Benfica é sempre forte e entra sempre para ganhar. Qualquer jogador que chega ao clube tem de saber isso. Foi o que aprendi com os históricos e é isso que deve ser ensinado aos mais jovens. Di María já sabe o que é o Benfica e isso é fundamental.»