O percurso de Akram Afif, o craque catari que é a sensação da Taça Asiática 2023
Akram Afif, jogador do Catar (Sun Fanyue/IMAGO)

O percurso de Akram Afif, o craque catari que é a sensação da Taça Asiática 2023

INTERNACIONAL09.02.202408:30

Exploramos a história e as características da grande figura do torneio de seleções da Ásia

À partida para a Taça Asiática, encontramos muitos nomes conhecidos na competição. Para além de Taremi, Morita e Rashid, jogadores do campeonato português, estrelas como os sul-coreanos Heung-min Son e Min-jae Kim, os japoneses Takefusa Kubo e Kaoru Mitoma ou, até, jogadores sauditas como Al-Dawsari, que jogam em equipas como o Al Hilal, de Jorge Jesus e Rúben Neves, ou o Al Nassr, de Cristiano Ronaldo, Luís Castro e Otávio e que, pela presença portuguesa, cada vez têm mais impacto no nosso quotidiano, vão chamando a nossa atenção.

É, no entanto, de uma das seleções mais inesperadas (ou talvez não) que surgiu a estrela maior da Taça Asiática. Chama-se Akram Afif, tem 27 anos e joga «em casa». O jogador do Catar representa o Al-Sadd, do mesmo país, e é um destaque de nome próprio na Qatar Stars League. Agora, e depois de não ter tido sucesso na Europa, volta a mostrar-se ao mundo, quatro anos depois de ter vencido o troféu pela sua seleção.

É a principal estrela do conjunto catari que, cerca de um ano após não pontuar no Mundial que organizou, acolheu a Taça Asiática e vai, no próximo sábado, disputar a final com a Jordânia. Exploremos então a carreira deste atleta que, mesmo que não leve o tão cobiçado título de campeão da Ásia, irá, certamente, ser coroado como o melhor jogador da prova.

Akram Afif (IMAGO/AFLOSPORT)

O início da carreira

Akram Afif nasceu em 1996 e desde cedo começou a chamar a atenção do mundo do futebol. Filho de um futebolista - Hasan Afif - foi ao serviço da academia Qatar Aspire que se destacou na Europa, mais concretamente num torneio em que jogou pelo Sevilha. Em 2014, saiu do banco na final da Taça Asiática sub-19 para marcar o golo da vitória frente à Coreia do Norte e acabou, mais tarde nesse ano, por se juntar ao Villarreal. 

Afif, num jogo particular frente ao SC Braga (Pedro Benavente/IMAGO)

Xavi Hernández, na altura no Al-Sadd, do Catar (do qual falaremos bastante mais à frente), destacou essa transferência. «Uma das melhores notícias para o futebol do Catar é que Akram Afif assinou pelo Villarreal. É muito bom para a Aspire, para o Al-Sadd e para toda a população do Catar que haja um jogador em La Liga. Permite que as pessoas em Espanha e na Europa saibam que o Catar está a fazer as coisas bem e a preparar-se bem», disse, antes de deixar grandes elogios ao próprio jogador: «Akram é um jogador de futebol do presente e do futuro e será um dos líderes da geração em 2022. Tudo depende dele - tem talento natural e qualidades futebolísticas para mostrar em Espanha que é um grande futebolista.»

No submarino amarelo, Afif não conseguiu afirmar o seu talento e capacidade e seguiram-se sucessivos empréstimos. Primeiro, durante duas épocas, esteve no Eulan, da Bélgica, clube que ajudou a subir da segunda para a primeira divisão. Seguiu-se o Sporting Gijón e um regresso ao Eulan e ao futebol belga, mas, ainda assim, o clube não achou que o catari estava pronto para fazer parte do plantel e, com apenas 21 anos, Afif voltou à liga do Catar. E que bela decisão tomou...

Akram Afif ao serviço do Eulan, da Bélgica (Nicolas Lambert/IMAGO)

A explosão no Al-Sadd e a influência portuguesa

Na segunda metade da época 2017/18, Jesualdo Ferreira, treinador do Al-Sadd, deu espaço para Afif «abrir as asas». Em 19 jogos, o avançado catari fez cinco golos e duas assistências, o que valeu uma renovação do empréstimo.

No ano seguinte, o último do técnico português no clube catari, o jovem Afif, com apenas 22 anos, explodiu. Ao longo da época, fez 31 golos em 34 jogos pelo Al-Sadd, foi o principal motor do 14.º campeonato do mais titulado clube do Catar e apareceu da melhor forma na Taça Asiática. Fez, em apenas sete jogos, 10 assistências para golo e foi um dos principais jogadores na conquista do título de Campeão Asiático. 

No final do ano, após todo o sucesso que construiu, foi aclamado pela Confederação Asiática de Futebol como o Melhor Jogador Asiático de 2019, algo que orgulhou Jesualdo Ferreira. «Estou muito feliz por ver o Akram vencer o prémio. A minha felicidade multiplica-se porque treinei-o durante quase dois anos e vi todo o seu progresso», disse.

No final da época 2018/19, o Al-Sadd pagou um milhão de euros para adquirir o passe de Akram Afif. Desde então, o jogador já foi campeão e o melhor jogador catari por mais duas ocasiões. É a principal figura do seu clube, que conta com jogadores como Uribe e Gonzalo Plata, que já passaram, respetivamente, por FC Porto e Sporting, e é, à chegada à paragem do campeonato, o jogador com mais contribuições diretas para golo da Qatar Stars League. 

A Taça Asiática 2023

A jogar em casa, o Catar pretendia fazer esquecer o desastre que foi o Mundial 2022: três jogos, três derrotas, zero pontos conquistados. Não se esperaria, porém, que o percurso fosse tão brilhante: no próximo sábado, a seleção liderada pelo espanhol Tintín Márquez vai defrontar a Jordânia e pode, quatro anos depois, voltar a ser campeã da Ásia. E quem tem sido a principal figura do torneio? Nem mais nem menos: Akram Afif.

Em seis jogos, leva cinco golos e três assistências. Nas meias-finais, frente ao Irão, iniciou a reviravolta, ao assistir para o empate e ao marcar um enorme golo para colocar os anfitriões em vantagem. Caminha a passos largos para mais uma conquista por seleções - a terceira, se contarmos com o futebol de formação - e deverá ser, seja qual for o desfecho na final, o Melhor Jogador da prova. 

O que distingue Akram Afif?

Para além do seu distinto penteado, é com a bola nos pés que Afif mais se destaca no relvado. Dono de uma grande velocidade e agilidade, sabe ir no um para um e tem uma mais-valia no seu arsenal que, não raras vezes, falta a muitos atletas: a consequência das suas ações. É muito raro vermos Afif - que, ainda que já não seja propriamente um jogador jovem, está longe de estar no ocaso da sua carreira - tomar uma decisão errada dentro de campo. É isso que o leva a marcar tantos golos e a melhorar aqueles que o rodeiam. Amealha golos e assistências que levam a títulos: desde 2018, já são 10.

O futuro de Afif

Para Akram Afif, o futuro está onde está o futebol de alto nível: no Velho Continente. Após a vitória por 3-0 sobre o Líbano, o jogador foi bastante perentório nas suas palavras. «Quero jogar na Europa. Se for possível, já amanhã.» Resta saber se esse desejo será concluído porque, pelos últimos anos, a capacidade para jogar ao mais alto nível parece já ter sido provada, uma e outra vez. Aos 27 anos, parece que o céu é o limite para Afif.

Akram Afif é o principal candidato a melhor jogador da Taça Asiática 2023 (IMAGO/NurPhoto)
Tags: