Sporting-E. Amadora, 5-1 O leão tem mais encanto na hora da despedida (crónica)

NACIONAL01.11.202423:11

No primeiro dia do resto da vida deles (de Rúben Amorim e dos jogadores) o campeão fez demonstração de um impressionante poder ofensivo, mas apenas possível graças a Gyokeres, um fenómeno para inglês ver

Os clubes não precisam da ajuda da imprensa para comprar jogadores, mas não haverá sportinguista que nesta sexta-feira não terá pensado que talvez já chegasse de tanto Gyokeres. Com tanto jornalista inglês em Alvalade para contar a história do primeiro dos últimos três jogos de Rúben Amorim antes de rumar a Manchester, o avançado sueco decidiu fazer o primeiro póquer ao serviço do Sporting, uma daquelas exibições que deixam qualquer investidor de cabeça à roda e à espera que janeiro chegue rapidamente para apresentar o cheque de €100 milhões e resgatar um dos craques do momento do futebol europeu.

No primeiro dia do resto da vida deles (dos jogadores e de Amorim, que se preparam para assumir caminhos separados), quis a equipa e o técnico brindar os adeptos com nova demonstração de poder ofensivo cuja dimensão superlativa só é possível porque o sueco é um fenómeno sem comparação ao nível da classe média alta, daqueles que não tem substituto e cuja saída deixará quase tantas saudades quanto a do treinador - uma está confirmada, a outra será apenas uma questão de tempo.

O adversário também ajudou. Não apenas pelos erros que cometeu, mas pela abordagem arrojada do Estrela da Amadora que se por um lado obrigou Franco Israel a mostrar a razão de ter arredado Kovacevic da baliza leonina, destapou demasiado a manta frente à melhor equipa portuguesa que não perdoa no último terço.

Durou 19 minutos a resistência tricolor, antes do primeiro golo da conta pessoal de Gyokeres, resultado de um ressalto feliz, mas potenciado pela pressão e insistência do avançado, que à saída de Bruno Brígido atirou cruzado. Alvalade era um caldeirão de sentimentos contraditórios e aquela explosão era a primeira de muitas que misturaram alegria, revolta, sentimento de perda, honra e foco num objetivo muito claro. Porque, é bom não esquecer, este não era um jogo de pré-época, mas uma partida da Liga, a décima que deveria ser traduzida em outras tantas vitórias (e uns impressionantes 35-3 em golos marcados/sofridos) porque independentemente do nome que se senta, sentou ou sentará no banco, há um campeonato para conquistar.

O Estrela ajudou o Sporting a manter-se concentrado na meta. Porque soube explorar o espaço entre Debast e Quenda (um dos pontos mais débeis do leão) para vários passes de rotura que Nilton Varela nem Jovane Cabral (um regresso) deram o melhor seguimento. Era o sinal de que era preciso aumentar a pressão na primeira zona de construção estrelista, o calcanhar de Aquiles que os leões exploraram de forma consistente. Provocar o erro era a solução mais inteligente e numa dessas ações Drame entregou o ouro ao bandido: Pedro Gonçalves e Trincão abafaram o central, tiram-lhe a bola, entregaram-na a Gyokeres e dali saiu um tiro cruzado, à saída do guardião.

Alvalade vibrava, mas a tensão não desaparecia. O golo de Rodrigo Pinho (35') trazia incerteza, mantinha o jogo aberto e quando há espaço... há Gyokeres. Mesmo que seja de bola parada: aos 42' chegou o hat trick, de penálti. Aquele seria um momento-chave: porque nunca mais houve reação dos homens da Reboleira. A história poderia ter conhecido outra nuance se o 3-2 de Pinho não tivesse sido anulado, a intervenção do VAR representou uma conclusão antecipada. Porque o resto do jogo serviu para gerir o esforço de alguns, gerir o fogo de Gyokeres (mais um golo e outras ameaças), ver a estreia de Maxi Araújo a marcar e começar a pensar num futuro pós-Amorim. O campeão tem mais encanto na hora da despedida.