Jorge Braz: «Só me voltam a ver a 7 de outubro»
Jorge Braz, selecionador nacional, procura o bicampeonato Mundial/Miguel Nunes

ENTREVISTA A BOLA Jorge Braz: «Só me voltam a ver a 7 de outubro»

FUTSAL10.09.202411:00

Selecionador nacional revela a promessa feita à família, antes da participação no Campeonato do Mundo, no Uzbequistão, entre 14 de setembro e 6 de outubro, do qual Portugal é o atual detentor do título. Refere que o passado vitorioso — que incluiu ainda o bicampeonato europeu e a Finalíssima — não chega e assume o objetivo de chegar ao final da prova. E explica  as escolhas finais na convocatória.

— Portugal gera grandes expectativas para este Mundial, no qual vai defender o título. O bicampeonato mundial é a principal meta a atingir?

— É evidente que olhamos para isso de uma forma confiante, ambiciosa, mas consciente das dificuldades de chegar aí. Olhamos do tipo: 'já chegámos lá uma vez, porque não uma segunda?' De uma forma muito objetiva, a intenção é chegar ao final da competição. Nós temos de passar os quartos de final e ficar para as meias-finais e, depois, logo se vê. Essa é meta, porque isto vai ser passo a passo.

— Sente que é mais difícil ser bicampeão mundial do que ser bicampeão europeu?

O Mundial tem mais uma série de seleções de enorme qualidade, apesar de o futsal na Europa estar cada vez mais desenvolvido e muito difícil. Em termos de Campeonato do Mundo, há uma Argentina, Brasil, Irão... que vêm acrescentar dificuldade. É mais difícil ser campeão do mundo.

— Caso vença o Mundial, vai cumprir alguma promessa?

— Não [risos], talvez uma longa caminhada, que preciso de fazer. Tenho a promessa à família, de que só me voltam a ver dia 7 de outubro [um dia depois da final].

— O selecionador já alertou que está num grupo com as seleções emergentes do futsal, casos de Panamá, Tajiquistão e Marrocos…

Nós conhecemos Marrocos. Toda a gente está a salientar de uma forma muito vincada que é um candidato pela qualidade e pelo que tem feito nestes últimos anos. Está num patamar que num dia não tão competente de um Portugal, Brasil ou Argentina, ganha. Todos temos essa consciência. Tajiquistão foi uma das surpresas da Copa da Ásia, em que ficou de fora o Japão. Apresentaram um nível de jogo brutal, foram 4.º classificados e perderam a medalha de bronze nas grandes penalidades. Panamá foi campeão da Concacaf, deram aquele saltinho de jogadores individualmente com muita qualidade e agora são mais bem organizados. O grupo embora desconhecido para a maioria das pessoas, é muito difícil.

— O facto de Portugal não vencer os três últimos jogos de preparação [uma derrota e dois empates] pode trazer maior pressão para a estreia no dia 16 de setembro frente ao Panamá?

Eu nem me lembrava que não tinha vencido os últimos três jogos, honestamente, de tão focado no processo que tínhamos de fazer. Tivemos sete jogos de preparação, com problemas de superação muito bons. No último jogo ante o Paraguai, não ganhámos, mas estava mais satisfeito com o final do processo de preparação, que foi importante para crescermos e melhorarmos. Agora, é uma etapa nova.

— Na lista final, retirou o Bernardo Paçó, optando pelo André Correia e o Edu no lote de guarda-redes. Qual foi o critério da escolha?

Tínhamos três guarda-redes, optámos por levar dois. O Edu jogou mais na qualificação, o André fez uma época brutal e o Bernardo tem uma qualidade enorme. Dos três, brincava com eles a dizer que confiava em qualquer um, mas tive de tomar uma decisão e levo o Edu e o André, que têm estado connosco desde a qualificação.

— Além de André Correia, há mais dois estreantes em competições internacionais, os jovens Kutchy e Lúcio Rocha. O que eles podem trazer a esta equipa?

— Aquela irreverência, juventude, o querer jogar. Essa ambição desmedida que, às vezes, os jovens têm, mais alguma irresponsabilidade da idade aqui e ali. Isso é bom, porque traz criatividade, sem receios e hesitações. Independentemente de quem for, o Campeonato do Mundo permite sempre proporcionar oportunidades aos jovens jogadores portugueses, porque tem um processo longo de preparação, o que torna mais fácil a integração para trabalharem connosco. É normal que haja dois, três ou quatro jovens que se estreiam em Campeonatos do Mundo. É importante proporcionar essas oportunidades, quando eles já estão no patamar de maturidade competitiva, de competência e esses dois jovens trazem muita competência e irreverência, que são importante.

— Leva apenas o Zicky Té como pivô de raiz para a posição. Mais à frente, sente que poderá arrepender-se desta opção?

Sempre que ganhámos, só levámos um. Mais do que olhar para essas questões, é olhar para a variabilidade estratégica das soluções que temos. Está apenas o Zicky, mas temos outros jogadores, que desempenham essa função muito bem. São estes 14 como equipa, uma família, que vai ter de superar muitas dificuldades que vão surgir numa competição desta exigência. Com estes 14, vou até ao fim do mundo e não estou preocupado com esta ou aquela solução mais estratégica, porque temos uma variabilidade dentro da equipa muito grande.

— O Zicky Té foi poupado em alguns jogos…

Não valia a pena o risco. Foi gerido com menos minutos em alguns jogos, outros não jogou. Aconteceu com ele, como com outros. Sempre foi feita essa gestão em função do processo de preparação e para equilibrar toda a gente para que no dia 16 os 14 estarem no máximo da sua forma.

— De que forma a lesão do Pauleta, à última da hora, influenciou os seus planos?

Quando aconteceu a lesão do Pauleta, não estava preocupado com a lista final. Naquele timing entre 5 de agosto e 5 de setembro, o foco era preparar 16 jogadores [posteriormente reduzidos a 14] para estarem no melhor nível. O que lamento muito é que o Pauleta estava num nível fantástico, a crescer imensamente. Esteve muito bem no jogo de preparação ante a Ucrânia e estas coisas que acontecem, que não controlamos, no desporto, é que lamentamos. Tira a oportunidade à pessoa que é, mas faz parte do processo. O Pauleta e o Bernardo estarão sempre connosco, com esta equipa, mentalmente e no fundo do coração de todos.

— O que é que esta Seleção mantém ou tem de diferente em relação às outras equipas, que foram vencedoras no passado?

A experiência e maturidade competitiva podem ser uma das vantagens. Agora, uma competição como o Mundial é jogo a jogo, perceber a sequência da história que queremos construir e esta Seleção já pode perceber isso melhor do que as gerações anteriores. Não é preciso motivação para jogar um Campeonato do Mundo. É preciso sim trabalhar na forma como nos preparamos e dedicamos todos os dias e essa foi a nossa palavra desde o primeiro dia de estágio: todos os dias é para acrescentar algo, o que já fizemos não chega. É muito fácil definir objetivos, o problema é lembrar do objetivo definido. Aí, é onde entra, talvez, a nossa função de equipa técnica e liderança dizer assim: 'queremos chegar ao final de um Campeonato do Mundo, mas lembrar-nos do que estamos a definir.' Tenho de lembrar todos os dias do que estamos a sonhar. Nós aqui temos de estudar para o 20 todos os dias. Essa é a forma de ser e estar e com esta equipa tem sido mais fácil, porque são os primeiros a perceber isso e a querer. De vez em quando, lá se esquecem, mas uma pessoa relembra de que essa tem de ser a postura diária.