João Marçal até rima com futsal (e ninguém pode levar a mal)
João Marçal com a mulher Patrícia, as filhas Leonor, Beatriz e Clara e os filhos João Maria, Miguel e o pequeno Francisco (D. R.)

REPORTAGEM João Marçal até rima com futsal (e ninguém pode levar a mal)

FUTSAL24.03.202409:30

Antigo jogador é figura incontornável da modalidade; através de A BOLA revive momentos mágicos; Jardim da Amoreira é projeto consolidado

O nome de João Marçal faz parte da lista de figuras notáveis do futsal nacional, modalidade que começou a jogar aos 15 anos e depressa se apaixonou, tendo feito de tudo: foi capitão, sagrou-se campeão pelo Sporting e pelo Benfica, representou a Seleção Nacional, criou uma escola de futsal, é treinado, professor, comentador, fundou um clube e ainda tratou «de fazer uma equipa de futsal, mais um suplente», como diz, a rir: «Tenho seis filhos, três raparigas e três rapazes».

Então comecemos por aí mesmo. Com uma vida tão preenchida com o futsal, como foi gerir a chegada de (tantos) herdeiros? «Vejo pouca televisão [risos]. Agora a sério. Eu e a minha mulher, a Patrícia, sempre quisemos ter uma família grande. Não é uma vida fácil, a logística é muito, mas mesmo muito complicada, dá muito trabalho, mas é muito gratificante. Primeiro vieram as meninas: a Leonor tem 13 anos, pratica ginástica acrobática, a Beatriz tem 12, a Clara, nove, joga futsal, depois chegaram os rapazes, o João Maria, tem seis, o Miguel cinco e o Francisco um aninho.»

A família é o grande apoio de Marçal, aqui ladeado pela mãe Justina, a mulher Patrícia, a irmã Ana Paula, os filhos, Leonor, Beatriz, Clara, João Maria, Miguel, o pequeno Francisco e o sobrinho João Marçal Moura

Recordemos agora a carreira de Marçal. Começou a jogar no Brinca N´Areia, seguiu-se o ACO antes de chegar ao Sporting, onde integrou um plantel recheado de estrelas. Seis anos volvidos mudou-se para o SL Olivais e no ano seguinte assinou pelo Benfica, onde esteve três anos, «uma mudança pacífica, porque não saí diretamente de Alvalade para a Luz», diz. Regressou ao SL Olivais, seguiu-se AMSAC, Burinhosa, Leões de Porto Salvo e terminou a carreira, no ano passado, no clube que fundou, o Jardim da Amoreira.

João Marçal terminou a carreira no ano passado, ao serviço do Jardim da Amoreira

Em quase 30 anos de carreira, há dois momentos que ficam para sempre gravados na história do futsal nacional. Marçal foi autor do primeiro golo num dérbi, com a camisola do Sporting, e cinco anos depois, marcou pelo Benfica no jogo do 100.º golo.

«Lembro-me perfeitamente. A Nave de Alvalade estava à pinha. O lance foi disputado com o Nélito, o Zé Carlos saiu da baliza, rematei e fiz golo. Até me estou a arrepiar. Foi o arranque do sucesso da modalidade em Portugal, com a entrada do Benfica na competição, o investimento feito, na altura pelo Luís Moreira, passámos para uma realidade completamente diferente, e também a aposta que o Freixieiro e a Fundação Jorge Antunes fizeram», recorda.

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Nave de Alvalade, 23 de dezembro de 2001, primeiro dérbi da história do futsal, João Marçal, com a camisola do Sporting, marcou o primeiro golo, aos 17 minutos.

Marçal jogou seis épocas no Sporting (Miguel Nunes)

Mas, nesse primeiro dérbi acabou expulso, aos 38 minutos: «Tinha a mania que era artista  [risos]. Com 21 anos era um jovem rebelde, tinha sangue na guelra, foi num lance com o Nuno Monteiro, vimos os dois cartão vermelho.»

Depois, de águia ao peito, voltou a fazer história: «Também foi especial, sem dúvida dois momentos marcantes da minha carreira. No Benfica acabei por não jogar muito e depois fui dispensado. Voltei ao SL Olivais, das melhores coisas que me aconteceram. Um grupo fantástico, com pessoas muito humanas e honestas, algo difícil de encontrar na elite do futsal. Depois vivi quatro meses alucinantes no Burinhosa. Fiz muitos sacrifícios para ir de Lisboa para lá treinar, mas conseguimos mudar uma equipa caótica e ainda conseguimos ir ao play-off de manutenção e ficar na 1.ª Divisão. Fiz lá grandes amigos e, atualmente, sou embaixador da formação do clube.»

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Pavilhão da Luz, 30 de setembro de 2006, jogo em que foi marcado o centésimo golo, João Marçal inaugurou o marcador, com a camisola do Benfica, no primeiro minuto.

João Marçal com a camisola do Benfica (Helena Valente)

Foi importante ‘partir pedra’, perder, tentar melhorar, equilibrar resultados e colher frutos

Geração do ‘quase que dava’

Somou 34 internacionalizações pela Seleção e marcou oito golos. O que significou para si jogar de quinas ao peito? «É o sonho de qualquer jogador. Fiz parte da geração do ‘quase que dava’, mas o certo é que abrimos caminhos, foi importante que tenha havido esse processo. Tivemos de ‘partir pedra’, perder, tentar melhorar, equilibrar resultados para depois colher frutos. O mister Orlando Duarte foi fundamental para chegarmos a este patamar e com o Jorge Braz, com visão mais alargada, para chegarmos ao ponto atual, um trabalho fantástico», realçou.

João Marçal de Quinas ao peito

Faltou-lhe cumprir um sonho

E no meio de carreira tão preenchida ficou alguma coisa por fazer? «Sim. Gostava de ter jogador em Espanha, mas nunca aconteceu. Tive uma ou duas propostas para países que não me despertavam interesse», confessa.  

Pavilhão é (quase) uma realidade

Face à quantidade de equipas que o Jardim da Amoreira tem, uma das grande dificuldade que a Direção do clube tenta solucionar é conseguir ter espaços disponíveis para que os atletas possam treinar diariamente.

Equipa de Benjamins que se sagrou campeã distrital (2011/2012)

«Há alguns anos que trabalhamos num ringue da Ramada, onde, curiosamente, comecei a jogar futsal, no Brinca N´Areia. Parece mesmo que todos os astro estão alinhados, não é? Estamos a tentar ficar com esse espaço, temos a ajuda da Câmara Municipal de Odivelas e, recentemente, concorremos ao programa do Fundo Crescer 2024, da Associação de Futebol de Lisboa e fomos um dos clubes a assinar contrato programa. Vai levar algum tempo até conseguirmos ter o nosso próprio pavilhão, mas temos de batalhar, sem nunca baixar os braços», conta João Marçal.  

Desde 2011 que o Jardim da Amoreira é um família sempre em crescimento

Refira-se que trata-se de um projeto da Federação Portuguesa de Futebol, em estreita colaboração com a AF Lisboa, que vai capacitar 21 clubes para melhorias nas suas infraestruturas, num investimento que já ultrapassa um milhão de euros.  

João Marçal aquando da assinatura do programa Fundo Crescer 2024 com a AF Lisboa

«Ser elogiado e respeitado é o meu grande legado»

Club Desporto Jardim da Amoreira é o nome do clube que João Marçal fundou, a 4 de maio de 2011. Um nome diferenciado, que tem um objetivo.
«Criei um clube para acabar a carreira quando quisesse [risos], fazia-me sentido terminar num projeto meu. Quisemos um nome abrangente, desporto porque queremos mais modalidades além do futsal, neste momento temos ginástica rítmica, com 42 atletas. Jardim da Amoreira era a urbanização onde vivia, havia lá um café onde nos reuníamos e era quase a nossa sede, tinha troféus, cachecóis. Já não moro lá, mas tanto o símbolo como o nome dizem-me muito, nunca será mudado», explica.

João Marçal foi homenageado pela Câmara Municipal de Odivelas

Orgulhoso, Marçal realça que o Jardim da Amoreira é o clube com mais atletas masculinos federados, com 252, e o segundo na totalidade de masculinos e femininos (263) - o Leões de Porto Salvo tem 292. 
«Isto é sinónimo de paixão e trabalho. Ser elogiado e respeitado é o meu grande legado, mas nada disto seria possível sem a ajuda dos pais e de todas as pessoas da Direção, que se desdobram em funções de organização para que nada falte aos nossos atletas, há muitas coisas a fazer. Temos todos os escalões de formação e nalguns mais do que uma equipa, já com muitos troféus», destaca.

Eis a primeira equipa do Jardim da Amoreira

Isto é sinónimo de paixão e trabalho. Nada disto seria possível sem ajuda de pais e Direção

Além de ser fundador do clube, criou um projeto em que leciona futsal e ainda arranja tempo para comentar, tal como já fez em A BOLA TV.«Só quando estou a dormir é que não penso em futsal, mas sonho [risos]. ‘Crescer com futsal’ é uma atividade extracurricular que lecionou em alguns colégios, duas vezes por semana, é algo que me dá muito gosto, passar ensinamentos para os mais jovens, e, desde 2022, faço comentários de futsal para a televisão, também gosto muito», diz, a sorrir. 

Marçal a ensinar a modalidade aos mais novos

Equipa de estrelas

Por fim, com tanta experiência vivida, fica o repto para apresentar  seu cinco ideal: «Fazia tantos cincos... Mas há quem me tenha marcado muito. Na baliza, João Benedito, enorme figura; Ricardinho, o melhor de sempre, treinava como jogava, não gostava de ver ninguém encostado; Vitinha, ensinou-me tanto; Pedro Costa, figura de destaque, capitão no Mundial da Guatemala e dos primeiros a ir para o estrangeiro e Zézito, que raça.»

Caderneta de cromos

João Marçal fala, orgulhoso, de mais um objetivo concretizado: o lançamento da caderneta de cromos do Jardim
da Amoreira.

«Demorou, mas, finalmente conseguimos ter a nossa caderneta! Todos estivemos envolvidos, mas o grande responsável é, sem qualquer dúvida, o Paulo Tápia. São 400 cromos e já está a ser um reboliço no clube [risos]. A caderneta foi lançada no passado domingo e vamos ver se temos quantidade suficiente para conseguirmos responder à procura. É mais um passo, que deu muito trabalho, é certo, mas que em muito nos orgulha», regozija-se.

Empenho da Direção do Jardim da Amoreira e dos pais tem sido uma simbiose perfeita