ENTREVISTA A BOLA João Carvalho: «Gosto de procurar outros desafios»
Em final de contrato com o Olympiakos, médio assume, em conversa com A BOLA, que o ciclo no emblema grego deve terminar. Fala da integração dos jogadores recrutados à Liga portuguesa, em janeiro, recorda a curta etapa com Carlos Carvalhal e traça novos desafios
Como tem corrido esta temporada de regresso ao Olympiakos após o empréstimo ao Estoril na época passada?
— Está a correr bem. Os objetivos ainda estão por cumprir, estamos dentro de duas competições importantes, o campeonato e a Liga Conferência. Na Taça não conseguimos passar à meia-final, mas temos duas provas para ganhar, e numa delas o Olympiakos é o principal candidato, e estamos a dar tudo para alcançar o título. Na Liga Conferência queremos chegar o mais longe possível. Não pagamos para sonhar, por isso é tentar chegar o mais longe possível, e logo se vê no final.
— A nível individual soma 24 jogos, mas apenas oito como titular. Esperava jogar mais neste regresso, ter outra presença no onze?
— Tem sido uma época de altos e baixos. Acima de tudo, tenho aproveitado todos os minutos para dar o meu melhor, e no final o que interessa é a equipa conquistar os objetivos. Claro que todos querem jogar, mas muitas vezes não é assim que acontece. Dou o meu melhor, e depois cabe ao treinador escolher quem joga e quem não joga, mas o que interessa é a equipa somar três pontos e depois conquistar troféus.
— Estamos habituados a ver o Olympiakos como crónico campeão grego. Nos últimos tempos não tem sido assim, tem existido mais equilíbrio. A que se deve esta mudança?
— As outras equipas têm aumentado o nível do plantel, dos jogadores. O Olympiakos tem sempre a melhor equipa, mas depois há a sorte e o azar, há qualquer coisa que não funciona bem. Mas só o ano passado é que não conquistámos o título. Há dois anos, quando eu estava cá, fomos campeões, e este ano esperamos ser também. Não está fácil, mas tudo é possível até ao final. Acima de tudo as outras equipas têm apostado mais, têm investido mais, pois todas querem destronar o Olympiakos como equipa com mais troféus.
— A convivência com o diretor desportivo Pedro Alves e com a equipa técnica de Carlos Carvalhal acabou por ser curta. Ficou com pena, até por serem compatriotas?
— Claro que sim. Há sempre um carinho especial com os nossos. É sempre um prazer trabalhar com portugueses no estrangeiro. É sempre uma ajuda, estamos lá uns para os outros, podemos ajudar, a comunicação é mais fácil… Quando o mister Carlos e o Pedro estavam cá, sentimos um carinho diferente, se calhar estávamos mais confortáveis, sentimo-nos mais em casa, mas é o futebol. É tudo à base de resultados, e o mister Carlos não teve sorte nesse aspeto, e depois o Pedro… já são outras questões, não faço a mínima ideia. Fico triste pela passagem rápida, mas é o futebol, seguimos para a frente.
— E como foi a integração dos jogadores portugueses recrutados em janeiro, e de outros que, não sendo portugueses, tinham ligação ao campeonato luso? Já é algo habitual no Olympiakos, um mercado muito aproveitado pelo emblema grego…
— Sim, é muito apetecível. O Olympiakos é um clube grande, é como se fosse um dos três grandes de Portugal, com muitos adeptos, e que luta por títulos. Os jogadores gostam de olhar para o palmarés no final da carreira e ter títulos. O Podence chegou no início, mas já é da casa, mais do que eu até [risos]. Esteve muito tempo aqui. Mas com os outros também foi tranquilo. Nessa altura ainda estava o mister Carlos e o Pedro, e foi mais fácil para eles. Tentei também que se sentissem bem. Tudo o que perguntavam sobre a Grécia, sobre viver aqui, lugares para ir, tentei ajudar. É sempre mais fácil quando chegam portugueses, pois temo-nos uns aos outros. Acho que foi fácil para eles.
— Tem falado muito do Benfica com o Chiquinho e com o André Horta?
— Falamos às vezes. Das exibições, do que está bem e do que está mal, não mais do que isso, sinceramente…
— Mas é dos colegas portugueses que está mais próximo no balneário?
— Não, temos um grupo grande. Temos argentinos, temos o Rodinei, que é brasileiro. Temos espanhóis, também. O plantel é muito unido, não há grupos fechados. É um bom balneário, estamos todos juntos nas refeições, também combinamos coisas fora algumas vezes. O grupo é muito mais do que os portugueses.
— O Olympiakos está nos quartos de final da Liga Conferência, e o Benfica na Liga Europa. Como vê esta possibilidade de chegar a uma final europeia, para ambas as equipas?
— O Benfica tem uma percentagem muito maior de [possibilidade de] ganhar a Liga Europa do que nós a Conferência. Temos de fazer mais jogos de três em três dias. Nós temos plantel para isso e acho que o Benfica também. Por isso são duas grandes equipas. Há mais vantagens do que desvantagens. É óbvio que há cansaço, mas as vitórias sabem muito bem, transformam-se em confiança, que é muito mais difícil de parar.
— O João está a três meses do final de contrato com o Olympiakos. O mais provável é fechar-se o ciclo?
— Não sei. Já tivemos conversações, já pararam, e depois houve conversas novamente. Trabalho todos os dias para que o Olympiakos esteja contente com o meu rendimento, e depois logo se vê, até final da época. Também quero dar outro passo, conhecer novos campeonatos, acho que é importante. Há ciclos que terminam, há ciclos que duram, e o meu aqui, até ver, parece estar a terminar, mas nunca se sabe o que vai acontecer daqui para a frente…
— Mas fica a sensação, pelas suas palavras, que é mesmo o mais provável, até porque já não falta muito…
— Sim, claro. Estamos próximos do mercado, depende também do que vai acontecer, mas o futebol é isto. Também gosto de procurar outros desafios, não gosto de me sentir confortável. Foi isso que aconteceu quando saí do Benfica, e é isso que um jogador também procura, novos desafios, sentir-se desafiado.
— E um regresso a Portugal também encaixa nesses novos desafios, ou a ideia é continuar no estrangeiro?
— Depende. Não podemos fechar portas em lado nenhum. No Estoril, o ano passado, senti-me muito bem. Senti-me confortável, em casa, até porque há muito tempo que não estava em Portugal. Vai depender do projeto. Gosto de sentir-me confortável, de sentir-me bem, de ter estabilidade, isso é muito importante. E um bom projeto, acima de tudo, é o que vou procurar, caso não se proporcione nada com o Olympiakos.
— O João disse que se sentiu bem no Estoril. Em termos desportivos foi o que esperava?
— Quando somos emprestados é para jogar muito tempo, e foi isso que aconteceu. A época teve muitos altos e baixos. O Estoril é um pouco isso. É das equipas que joga melhor futebol, e foi também por isso que decidi ir para lá, é o que cativa os jogadores. O Estoril ajudou-me muito, estou mais jogador depois dessa passagem. Também foi a primeira vez que tive um balneário com muita malta mais nova do que eu, e isso também foi importante. Para a equipa não correu tão bem, pois esperávamos mais, e tínhamos qualidade para mais, mas conquistámos o objetivo mais importante, que era a manutenção.