Inglaterra: o guia
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EURO 2024 Inglaterra: o guia

INTERNACIONAL22.05.202412:00

Guia da seleção inglesa escrito por Jacob Steinberg para o The Guardian

Expectativas

Que comece o psicodrama. A Inglaterra é a melhor equipa do mundo. Seria um grande ato de traição não ganhar o EURO 2024. Seria assim porque são ‘woke’. É porque os seus jogadores outrora se ajoelharam. Mas, já agora, alguém mais está preocupado pela falta de laterais-esquerdos aptos, Harry Maguire ainda ser titular e o problemático terceiro lugar no meio-campo? Esperem lá. Será que a Inglaterra vai passar da fase de grupos? Porque é que todos os defesas estão lesionados? Será que viram algum jogo do Harry Winks a época passada?

As opiniões podem ser extremas no que toca a falar da Inglaterra antes de um torneio. A realidade é que são provavelmente a segunda melhor equipa da Europa. Uma potencial desforra com a França, que os eliminou do Mundial 2022, seria fascinante. A Inglaterra esteve tão perto de ganhar naqueles quartos de final no Catar. Podiam ter ido até ao fim se Harry Kane marcasse aquele segundo penálti.

As margem são impossivelmente finas. A Inglaterra devia ter ganho o EURO 2020, apenas para perder a final nas grandes penalidades para a Itália. Desde aí, contudo, a equipa melhorou. Passaram confortavelmente da qualificação, acabaram confortavelmente à frente de Itália e Ucrânia, e têm uma grande amostra de talento atacante. A apoiar Harry Kane estarão Jude Bellingham, Bukayo Saka e Phil Foden, com Declan Rice a patrulhar o meio-campo. Cole Palmer pode ser opção para bater um penálti. Mas as dúvidas do costume persistem.

O principal lateral-esquerdo, Luke Shaw, falhou a grande maioria da época. A defesa pode estar vulnerável contra adversários de elite. O equilíbrio perfeito no meio-campo continua elusivo e Southgate ainda tem de provar que tem a mestria tática para ganhar um jogo grande. A ideia de que devem ganhar facilmente o EURO é apenas a euforia desmedida do costume.

O selecionador

Gareth Southgate é selecionador de Inglaterra desde 2016. Foto: IMAGO

Pode ser o último hurrah de Gareth Southgate. O seu contrato termina em dezembro e quase foi embora depois do último Mundial. Talvez saia pela porta grande. Talvez garanta outra eliminação nos quartos de final. Talvez deixe a federação feliz ao ficar até ao Mundial 2026. A FA não quererá que Southgate abandone o cargo. Há questão legítimas sobre as suas táticas e parece ter uma preferência por um certo central do Manchester United, mas o técnico de 53 anos continua a ser uma mais-valia para Inglaterra. Outrora, os jogadores ingleses temiam as datas internacionais. Southgate, com a sua calma, dignidade e inteligência constante, transformou os estágios em algo feliz.

O ícone

Jude Bellingham (IMAGO)

«A sua mentalidade é incrível», diz Southgate sobre Jude Bellingham, a superestrela de 20 anos que passou a época a brilhar no Real Madrid. Uma panóplia de golos decisivos, uma coleção de prémios de homem do jogo, uma primeira final da Liga dos Campeões: não é uma má forma de te anunciares ao mundo depois de te juntares ao maior clube do mundo por 88,5 milhões de libras. «Para nós ele é obviamente o melhor», disse o treinador do Real Madrid, Carlo Anceloti, embora ainda esteja para se ver se Bellingham consegue levar o seu país à glória. Uma pequena preocupação são pequenos sinais de temperamento. Vamos esperar que Bellingham não vá tomar banho mais cedo após pisar um Cristiano Ronaldo a piscar-lhe o olho.

Para ter debaixo de olho

Kobbie Mainoo foi internacional pelas camadas jovens (IMAGO)

Kobbie Mainoo mostrou ser destemido quando fez sua estreia completa pela seleção frente à Bélgica, em março. O médio de 19 anos foi calmo em posse e um raro ponto positivo para o Manchester United na época passada, inclusive marcando na final da FA Cup frente ao Manchester City. É preciso algo especial para brilhar nesse ambiente. «Ele está a absorver tudo», disse Southgate, em março. «Falando com ele taticamente, parece que entende todos os conceitos. Consegues ver o quão confortável está com a bola e a recebê-la em espaços apertados.»

Espírito rebelde

Conor Gallagher. Foto: IMAGO

O mais jovem de quatro irmãos, Conor Gallagher aprendeu cedo a ser rijo. «Estávamos sempre a bater-lhe e ele só se ria. Era maluco», recordou um dos irmãos, Jake, a propósito dos jogos no jardim. Médio combativo, nem sempre sabe quando deve parar, e por isso foi expulso por acumulação de amarelos ainda na primeira parte do jogo entre o Chelsea e o Brighton, da última época. Mas Mauricio Pochettino mostrou fé nele e até lhe deu a braçadeira. Os adeptos do Chelsea estão desagradados com a decisão da administração, que admite ouvir propostas pelo médio.

A espinha dorsal

Há familiaridade entre elementos da equipa. Jordan Pickford tem sido o guarda-redes titular desde 2018 e nunca deixou mal a equipa. John Stones é uma parte vital da defesa, a velocidade de Kyle Walker na lateral-direita faz dele uma escolha obrigatória e Southgate não quer imaginar um mundo no qual Harry Kane, capitão e recordista de golos pela seleção, esteja lesionado. Mas a emergência de outros ajudou a equipa a crescer. Declan Rice tornou-se indiscutível no meio-campo. Recupera as bolas e permite que Bellingham progrida. A preocupação é que a Inglaterra não tenha um substituto de Rice. Têm sorte de que seja tão incansável.

Onze provável

4-3-3 - Pickford - Walker, Stones, Guéhi, Shaw - Rice, Gallagher, Bellingham - Saka, Kane, Foden.

Adepto famoso

Quem se pode esquecer do entretenimento ao intervalo durante a vitória de Inglaterra frente a Gales no Catar? Os presentes no Janoub Stadium viram boquiabertos – ou confusos –, na altura em que a sensação pop dos anos 90, Chesney Hawkes, cantava aquela música que ele sabe. «É a minha primeira atuação num estádio em 30 anos», disse antes do grande espetáculo. «É só uma música e não vale adivinhar qual. Provavelmente consigo cantá-la a dormir.»

Petisco

Algo frito, coberto em molho picante, num pão. Sim, vais querer com extra queijo. E bacon. Cebolas crocantes, também. É o tipo de coisa que enche o Instagram do influencer Eating With Tod. Tem de vir dum espaço de restauração e vir acompanhado de batatas fritas, servido por um homem da moda e tatuado, chamado Milo, que insiste em dizer «meu amigo». Quando acabares desloca-te a um ecrã grande, compra uma cerveja caríssima e atira-a alguém quando a Inglaterra marcar. Atira-a a alguém se a Inglaterra perder nos penáltis, também.