Gil Vicente: «Castillo ganhou a intensidade que precisava»
Tiago Nunes treinou o médio no Sporting Cristal. Brasileiro muito satisfeito com evolução do peruano
Jesús Castillo é uma das boas surpresas deste início de temporada. Contratado ao Sporting Cristal na época transata, o médio peruano de 23 anos teve dificuldades de adaptação e terminou a campanha com apenas 13 jogos. Agora, sob o comando de Bruno Pinheiro, é outro jogador. Afirmou-se no onze do Gil Vicente e também ganhou um lugar na seleção do Peru.
O consagrado treinador brasileiro Tiago Nunes, que já tem uma Taça Sul-americana (2018) e uma Copa do Brasil (2019), ambas conquistadas ao serviço do Athletico Paranaense, no currículo, conhece como poucos Castillo, pois treinou-o no Sporting Cristal no início da carreira. «Tive a oportunidade de trabalhar com ele no Peru, no Sporting Cristal. Foi a minha primeira experiência fora do Brasil. O Castillo foi formado no clube e quando cheguei encontrei um jogador com uma boa capacidade técnica, um bom passe, um bom controlo. Faltava-lhe um pouco de intensidade física, da capacidade de sustentar um ritmo físico mais alto. Um dos primeiros trabalhos que tive com ele foi consciencializá-lo para a questão da intensidade, do ritmo», conta Tiago Nunes, muito satisfeito com a evolução do médio.
«Artur Jorge conquistará um título este ano!»
Antes de rumar ao Chile, Tiago Nunes esteve no Botafogo, depois de Luís Castro e Bruno Lage e antes de Artur Jorge. Dificilmente há alguém mais habilitado para falar dos treinadores portugueses, que estão cada vez mais valorizados, principalmente no Brasil. «O Artur Jorge chega depois da minha demissão. Com ele chegaram também sete, oito, nove reforços de nível internacional. Com isto somado à qualidade de trabalho dele, tenho a certeza que vai conquistar um título este ano!», é claro o treinador, que depois dá a sua versão do desastre do Botafogo, que desperdiçou uma vantagem de 13 pontos (!) no final da 1.ª volta e viu fugir o título da Série A, para o Palmeiras.
«Já pensei muitas vezes nisso, claro. Creio que a equipa não conseguiu aguentar o ritmo depois da saída do Luís Castro. E vejo isso com naturalidade, pois, ao contrário deste ano, o Botafogo tinha um plantel muito curto, apenas 14, 15 jogadores ao mesmo nível e depois não conseguiu manter o ritmo a nível físico. Foi uma bola de neve… Primeiro o Bruno Lage e depois eu. Agora é diferente, o Botafogo tem duas equipas.»
«Penso que a época menos boa em Portugal teve muito a ver com a adaptação. Ele foi um jogador titular na Copa Libertadores. Jogou comigo como um segundo volante, um oito, box-to-box. Jogou em alguns jogos também como um seis, um jogador de primeiro passe, de primeira saída. Inclusive num jogo da Libertadores, com o Fluminense, no Brasil, jogou como defesa pela direita, numa linha de três. Acabou por ser um jogador bem polivalente comigo. Tenho a certeza que esta experiência em Portugal trouxe-lhe não só o entendimento do jogo, mas também mais ritmo, a necessária intensidade física. É um jogador de equipa», destaca.
Castillo não pára de evoluir e Tiago Nunes acredita que possa atingir outros patamares. «Confesso que no início tinha dúvidas, até porque somou poucos minutos. Não sabia como é que ele ia reagir para uma segunda temporada, mas agora estou muito satisfeito por ver que está a atingir o melhor nível. Está mais adaptado e isso dá-lhe outra confiança. É titular do Gil Vicente e ganhou também um lugar na seleção», diz Tiago Nunes, atual treinador da Universidade Católica, do Chile, um passo justificado como um investimento na carreira. «Abri mão de questões económicas, abri mão de estatuto no Brasil e procurei equipas grandes nos seus países, que pudessem lutar por títulos nacionais e disputassem competições internacionais. Por isso treinei o Sporting Cristal e agora estou na Universidade Católica.»
«Escrete é para um brasileiro»
A seleção brasileira é um dos assuntos do momento. Seja a qualidade do escrete, seja qual o treinador indicado para o levar à glória do passado. Dorival Júnior é o atual timoneiro, mas a contestação é grande, dadas as pálidas exibições da canarinha. Para muitos, o eleito deveria ser estrangeiro.
«O treinador da seleção espanhola deveria ser espanhol, como é. O da Argentina deveria ser argentino, como é. O da seleção portuguesa deveria ser português, mas não é. O selecionador deveria ser do próprio país. O Brasil tem uma cultura de futebol própria, uma idiossincrasia que transcende a questão desportiva e passa a ser social. Mas acredito que em algum momento vai acontecer que um treinador estrangeiro dirija a seleção brasileira, porque, infelizmente, a gente tem uma síndrome de vira-lata muito grande. A gente valoriza muito mais o que é de fora do que temos dentro», diz Tiago Nunes, que sublinha que é preciso dar tempo à seleção brasileira.