ENTREVISTA A BOLA Filipe Çelikkaya: «Hugo Viana vai ter êxito no Man. City e Rúben Amorim chegará ao topo»
Trabalhou com o diretor desportivo e com o treinador quatro épocas, e não tem muitas dúvidas quanto ao futuro dos dois
— Como é que correu o estágio recente no Manchester City?
— Tinha umas expectativas muito altas e essas expectativas foram correspondidas na íntegra. Houve muita qualidade, desde o momento em que sou recebido pelo rececionista, até ao momento em que saio do centro de treinos diretamente para o aeroporto para apanhar o avião novamente para Lisboa, portanto estar a ver os treinos do Pep Guardiola, que acaba por ser uma referência, assim como o José Mourinho, como o De Zerbi, como o Paulo Fonseca ou como Luís Castro… E estar lá, ter a oportunidade de falar com ele, ver jogadores daquele nível a trabalhar, ter a possibilidade de ver o que fazem em treino e ver se no jogo também o fazem; ter a oportunidade de falar com o diretor desportivo durante algum tempo e partilhar algumas ideias que acho que poderão ser muito importantes para o meu desenvolvimento enquanto treinador noutras ligas e numa equipa profissional; são experiências que nos marcam até porque acima daquele patamar não há.
— Hugo Viana vai para o Manchester City. Acha que ele vai ter êxito?
— Sim, assim como teve no Sporting, é uma questão do tempo que dão a esse mesmo diretor, porque, por norma, em ligas diferentes como é a liga inglesa, que se calhar é a melhor liga do mundo, se nós formos avaliar há uma noção de tempo para essa pessoa fazer esse trabalho. Foi um trabalho no Sporting no qual eu estive muito ligado ao Hugo e ao Rúben, em que vi, na íntegra, aquilo que se fez; penso que ele vai fazê-lo a um patamar superior a lidar com jogadores de nível superior mas não tenho dúvidas nenhumas que o conhecimento que ele adquiriu ao longo destes anos a negociar contratos mais baixos e mais altos de todo o tipo de jogadores faz com que esteja mais que preparado para responder a esse nível, até porque o cargo diretor desportivo não é só contratar e vender jogadores, há uma relação que ele tem que ter, e todos nós sabemos, o treinador inclusive. Tem que ter essa relação com todos os departamentos, até porque o treinador não consegue chegar a tudo e tem que ter pessoas que olhem de uma forma, de perspectiva, para perceber como é que as coisas estão a funcionar. Ele tem isso, tem essa mesma experiência ao longo destes anos, e portanto eu desejo-lhe a melhor sorte do mundo, pois vai ser uma nova etapa na carreira dele e vai ser com certeza a continuação de muito êxito.
— É amigo de Ruben Amorim, como é que o vê como treinador? Ele pode chegar a esse patamar do topo do futebol mundial?
— Sim, sim, sim. Mais tarde ou mais cedo vai chegar. Não quer dizer se é para o ano, se é daqui a dois anos, daqui a três, mas tem todas as condições para chegar ao topo do futebol mundial.
— Mas se ele for para o City, o legado de Guardiola não lhe vai pesar demasiado?
— Sinceramente, não acredito, porque quando chegamos a um patamar em que a nossa abstração é tal, que tudo o que possa vir não nos influencia. E ele vai estar nesse patamar.
— Ele é mesmo diferenciado?
— Sim. Ele tem muita qualidade naquilo que faz, vai ter que subir patamares, como se calhar eu estou a subir, como outros treinadores estão a subir, porque este é um patamar intermédio para chegar a um patamar mais alto, no qual vai ter outro tipo de desafios, aos quais vai ter que responder positivamente, para a sua carreira continuar a evoluir e ele a fazer aquilo que mais gosta. Eu não tenho dúvidas nenhumas, e isso aplica-se também a mim: essa subida de patamar é exatamente igual e cada um no seu espaço, como é óbvio, mas eu penso que ele tem todas as condições, assim também é preciso ter alguma sorte na forma como a bola entra dentro da baliza.
O City é a melhor equipa do mundo
— O Sporting vai defrontar o City na Champions. Como será?
— O City é a melhor equipa do mundo. Uma equipa dominadora, de nível técnico excelente, com uma construção limpa, que joga entre linhas a um nível muito alto, ataca a profundidade com muita qualidade, tem um para um quando necessário, tem remate exterior…coloca muitos jogadores em zonas de finalização, sempre muito equilibrada, por vezes até assume homem a homem atrás. Por esta descrição, dá para perceber o nível que esta equipa apresenta com bola. Sem bola, é uma equipa que defende alto e de forma compacta, exerce uma enorme pressão sobre o portador da bola, o que dificulta muito a construção adversária. Defeitos? bem…pode ter problemas se os adversários procurarem a profundidade após saírem da primeira pressão, ou mesmo quando a bola é recuperada e conseguirem transitar rapidamente com saídas por fora, porque por dentro e perto da bola não é fácil. Acabam por ser dominadores em todos os momentos do jogo, e por isso é que são muito bons. Mas é só um jogo, tudo pode acontecer.