17 março 2025, 12:11
Madureira fala em tribunal: «É esta m*** que vocês querem para presidente?»
Ex-líder da claque Super Dragões presta declarações no âmbito do processo Operação Pretoriano
Ex-Oficial de Ligação aos Adeptos do FC Porto prestou depoimento no julgamento da Operação Pretoriano
Fernando Saul começou hoje a ser ouvido no julgamento do processo Pretoriano, que decorre no Tribunal São João Novo, no Porto. O antigo OLA (Oficial de Ligação aos Adeptos) do FC Porto começou por dizer: «Eu era funcionário do FC Porto, não fazia parte da claque. Fui funcionário durante 25 anos, era Oficial de Ligação aos Adeptos e o 'speaker' do Estádio do Dragão. Cheguei à Assembleia tarde, já estava tudo a sair do auditório. No Dragão Arena estive só com a Sandra Madureira. Estava tudo tranquilo. Eu fiquei na bancada Sul que era onde tinha lugares. As outras bancadas estavam cheias», disse.
17 março 2025, 12:11
Ex-líder da claque Super Dragões presta declarações no âmbito do processo Operação Pretoriano
A juíza quis saber sobre quando se apercebeu Fernando Saul da confusão. «Depois do discurso do Pinto da Costa ouviram-se insultos, apupos. Passados uns minutos eu vi que na bancada Norte houve um tumulto e vejo as pessoas a afastarem-se. Aquilo terminou, a Assembleia retomou e só na parte afinal há uma altercação com o senhor Henrique Ramos», respondeu.
E prosseguiu: «Vi a dona Sandra a discutir com um adepto e eu conheço-a devido às minhas funções. Isso foi na bancada Sul. Eu só disse: ó Sandra deixa lá isso, anda embora. Ela estava a discutir por causa de umas mensagens e de uns vídeos, por causa das filhas. Eu disse para ela sair dali e ela saiu. Não chegou a existir qualquer problema», refere, garantindo que não esteve na reunião magna com Fernando Madureira: «Ele passou por mim uma ou duas vezes, mas não estivemos juntos».
Fernando Saul terá publicado a seguinte mensagem nas redes sociais: «Vai levar tudo nos cornos. Aleixo e pessoal está avisado.»
Mas o ex-OLA justifica essa mensagem: «Isso foi três meses antes, nem se sabia que ia existir Assembleia. Eu tinha um problema com o Henrique Ramos, que ele andava a difamar-me. Eu disse às pessoas para terem cuidado com ele. Isso era só para o senhor Henrique Ramos. Era só ele, mais ninguém. Eu disse ao 'Macaco' que o Henrique Ramos não era de confiança, ele era amigo dele. [Vai haver mocada, a Assembleia vai ser quentinha, vai dar merda, outra mensagem]. Isso foram mensagens que eu enviei para amigos. Era a perceção que eu tinha como Oficial de Ligação aos Adeptos. Desde há uns meses que existiam muitas páginas de apoio ao Villas-Boas a difamar a Direção, falavam muito nas redes sociais. Eu, mesmo não sendo da segurança, alertei que ia mais gente do que o costume e que devia existir mais segurança. Alertei o diretor de segurança e de marketing. Eu, pelo que via nas redes sociais, percebia que ia muita gente e que os ânimos estavam exaltados. Em várias páginas de apoio a Villas-Boas diziam para irem todos à Assembleia, para se filmar tudo, que o Porto dos mamões ia acabar», afirma.
E continuou o seu depoimento: «Curiosamente os únicos diretores que continuam são estes (de segurança e de marketing). Isto é extraordinário», disse Fernando Saul, levantando suspeições. «Não consigo perceber como é que um diretor de segurança que prepara jogos não acaba logo com a Assembleia quando percebeu que não cabia toda a gente no auditório. Podia ter evitado isto tudo. Mas deve ser por isso que ele lá continua», contesta.
Sem pausas, continuou a prestar declarações perante a juíza: «Toda a gente sabia que o André ia ser candidato, até pela máquina que já estava a funcionar. No dia anterior à Assembleia, o Villas-Boas fez um apelo para que se fosse à assembleia. Eu acho que ele quis chamar as pessoas dele para estarem com ele. Mesmo sendo funcionário do FC Porto existiam pontos (nos estatutos) que eu ia votar contra», disse, sendo depois questionado pela magistrada se tinha falado com Fernando Madureira sobre o facto de ir muita gente à reunião magna. «Sim, falei com ele algumas vezes», afirmou, negando, contudo, ter dado indicações de como deviam agir na Assembleia.
«Levou nos cornos esse boi, mas dei-lhe lá dentro, ninguém viu», escreveu Saul num grupo com amigos onde mandou um vídeo de Henrique Ramos. Confrontado, o arguido nega agressão: «Foi para me vangloriar aos meus amigos. Isso não aconteceu»
A advogada do FC Porto foi a primeira a colocar questões, depois da pausa de almoço. «Na sua perspetiva a alteração dos estatutos teria alguma influência nas eleições de abril?» «Na minha opinião não, era apenas uma questão de modernidade para o clube. O senhor Fernando Madureira disse-me só que queria apoiar o Pinto da Costa»
«O senhor Fernando Madureira dominava os Super Dragões?», pergunta a advogada. «Ninguém domina ninguém, mas ele era o líder. Dava-nos informações importantes para organizarmos os jogos, tinha uma boa relação com as autoridades».
A advogada questiona: referiu que o diretor de segurança podia ter sugerido a suspensão da assembleia. Sabe se foi suspensa e por quem? «Ele podia ter sugerido ao presidente da mesa da assembleia. O diretor de segurança relatou-me que quando existiram os primeiros tumultos, foi contactado pela PSP a perguntar se era preciso intervenção e ele disse que não».
Alguma vez ouviu gritos ou pessoas em pânico? «Não. As pessoas saíram do auditório para o Dragão Arena de forma ordeira».
«Existe um aquário no Dragão Caixa e a mando do diretor de segurança está lá um colaborador do Porto e um segurança da SPDE», esclareceu Fernando Saul, sendo que Assembleia Geral as câmaras foram desviadas. Ve-se mais mensagens que Saul trocou, em janeiro de 2024, com amigos após uma publicação feita por Henrique Ramos, onde, segundo Saul, este o denegria. «Tem de levar nos cornos», dizia um amigo. Fernando Saul respondia «vou matá-lo».
Após a Assembleia Geral, Fernando Madureira e Saul trocaram mensagens: «O Presidente não de se deve recandidatar. Vai ser humilhado», escreveu Saul, com Madureira a responder: «Vamos à guerra, morremos, mas morremos de pé».
«Isto era a perceção que eu tinha, que o Presidente ia perder as eleições», disse Saul.
«Porque é que é uma afronta alguém se candidatar a um clube querer numa assembleia pessoas que o apoiem?», questiona a juíza. «É perfeitamente normal que quisesse juntar o maior número de pessoas numa Assembleia onde iam discutir os estatutos. Onde está uma afronta?», insistiu. «Para mim é uma afronta. O senhor André Villas-Boas nunca tinha ido a uma Assembleia, era uma afronta porque estava a arregimentar pessoas. Meses antes surgiram várias páginas de pessoas que nem existiam, isto era uma cartilha. Nem que fosse falar mal das pessoas, criar problemas. Não estou a dizer que foi o senhor André Villas-Boas, mas isto estava um ambiente muito mau. Ele [André Villas-Boas] teve de criar uma máquina de campanha para tirar uma pessoa que estava há vários anos. A afronta está no que vem de trás, no historial. Não houve nenhum plano para que isso acontecesse. Há pessoas que deram uma chapada apenas por amor ao clube. A tal Assembleia do terror não existiu. Não houve nenhum clima de terror. O ambiente estava inflamado na assembleia. Uns queriam chegar ao poder e outros queriam manter-se no poder. Dou-me por muito feliz por ter sido sempre leal ao senhor Presidente, ao contrário de muitos», diz.
«Ele [André Villas-Boas] teve de criar uma máquina de campanha para tirar uma pessoa que estava há vários anos. Nem que fosse falar mal das pessoas, criar problemas», afirma. Termina o depoimento Fernando Saul.