16 março 2025, 12:45
FC Porto: Anselmi confortou Samu, que não conteve as lágrimas
Avançado espanhol não conseguiu faturar frente ao Aves SAD. Jovem marcou apenas dois golos em 2025
Ponta de lança não esconde que passou por momentos muito complicados quando era criança e relata momentos em que «não havia nada para comer». Das raízes em Sevilha aos vizinhos que também o ajudaram bastante. O presente de satisfação nos dragões e o desejo de conquistar títulos. Representar a seleção de Espanha é «um privilégio»
De coração aberto. Assim foi a mais recente entrevista de Samu à imprensa espanhola. Em declarações ao Jornal ABC, num momento em que se encontra no país vizinho para representar a sua seleção, o ponta de lança do FC Porto fez uma viagem à infância e recordou momentos marcantes. Alguns deles tristes, muito complicados de gerir para uma criança, mas cujo espírito de sacrifício da mãe e a ajuda de vizinhos acabaram por ser determinantes para a mudança de vida. E o futebol, claro.
Mas antes de ser alguém no mundo do desporto-rei… houve tempos conturbados. Sendo que, antes disso, já a mãe tinha deixado a Nigéria para rumar a Espanha. E Samu quer um dia conhecer as origens. «Não tive a sorte de ir. Espero poder tirar férias no futuro. Temos muitos jogos agora e não há muito tempo, mas depois espero ir. Estou ansioso por conhecer as origens da minha mãe. Ela também tem o sonho de regressar, mas como não queria deixar-me sozinho com a minha irmã, mudou de ideias e não regressou desde que eu nasci. Tenho muitos familiares em África, mas não os conheço. Não é que a minha mãe fale muito sobre isso, mas sei que ela conversa bastante com eles», começa por dizer, antes de ser instado a pronunciar-se sobre a história dos irmãos Williams, estrelas do Athletic Bilbao e cuja família também emigrou de África, neste caso, do Gana, para Espanha: «Sim, ouvi algo sobre isso. No final, todos nós que viemos de África temos de passar praticamente pela mesma coisa. É uma história de superação, como a da minha mãe. No final, tanto ele como eu temos orgulho das mães que temos e a verdade é que todos nós devemos isso às nossas mães.»
E como foi o início da mãe em solo espanhol? «Ela também não gosta de contar-me essas coisas. Diz-me que depois conta. Mas imagina como é um lar adotivo, não deve ser deve ser fácil passar por lá. Mas ela lutou muito para ter uma vida melhor e graças a Deus deu tudo certo», salienta, abordando depois a mudança para a Andaluzia: «Sinceramente não sei porque fomos para Sevilha, mas acho que não poderia haver lugar melhor para crescer do que no meu bairro. É um lugar de gente humilde, onde passei toda a minha infância e a verdade é que recordo sempre com grande carinho.»
Foi em Sevilha, precisamente, que começou o futebol para Samu. «Desde muito novo que amava o futebol. Lembro-me de pessoas que me diziam que eu chutava coisas que via no chão. O futebol sempre me atraiu e a verdade é que as coisas não estão a ir nada mal», confessa recordando mais detalhes: «No início, o campo onde jogava era perto de minha casa, a cerca de dois minutos, e eu ia a pé para lá. A minha mãe tinha de trabalhar para cuidar de mim e da minha irmã. E graças a Deus que tivemos uma vizinha que considero minha segunda mãe, a Juani. E o seu marido, que descanse em paz, era António. Foi ele que me inscreveu na primeira equipa de futebol onde joguei. Eu e a minha irmã passávamos muitas horas com eles. E a minha mãe trabalhava para nos dar um prato de comida todos os dias. Ela fazia um pouco de tudo, trabalhou em muitas coisas. Não tinha um emprego estável e precisava de ganhar a vida.»
16 março 2025, 12:45
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E pensando na «segunda família», neste caso, no vizinho António, as recordações não poderiam ser de maior gratidão. «Sim, quando a minha mãe não podia, levava-me ele. Quando fui para a segunda equipa em que joguei lá em Sevilha, que também era humilde, chamava-se Dom Bosco, conheci uma pessoa, que era o treinador, chamado Ismael, que me levava para os jogos e depois trazia-me de volta. Quando assinei pelo Sevilha, tinha 7 ou 8 anos, a minha mãe levava-me com mais frequência à cidade desportiva. Mas levávamos uma hora e meia de caminho quase todos os dias. Não foi uma situação fácil», garante, antes de falar de forma ainda mais profunda: «Mas houve situações em que não havia nada para comer e isso foi difícil. Não acho que nenhuma criança deva passar por isso. Foi complicado. Pensa-se em muitas coisas nessas alturas, como o porquê de estar a acontecer comigo e connosco. Mas graças a Deus conseguimos sair dessa situação e agora estamos muito melhores.»
A progressão na carreira permitiu-lhe chegar ao patamar em que está hoje, mas, para isso, o goleador portista teve também de abdicar dos estudos.
«Sou muito calmo e sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Levei isso muito naturalmente. Tem sido um pouco mais difícil para a minha mãe porque é uma mudança muito abrupta e há coisas que ela acha difíceis de administrar. Como as emoções, por exemplo. Quando acontece algo comigo ou quando há coisas que ainda não entendi completamente. Eu queria ter sucesso no futebol, o meu sonho era ser jogador, mas tive de abandonar a escola. Conversei com a minha mãe para lhe dizer que iria concentrar-me no futebol. Estava a tirar um curso de marketing. Quando cheguei a Granada, no meu segundo ano, estava habituado a treinar à tarde e a estudar de manhã, mas eles alteraram a minha agenda. Treinar de manhã e estudar à tarde era muito difícil para mim. No final, a minha mãe entendeu que eu deveria abandonar a escola».
E como se passa da terceira divisão espanhola para a Seleção em apenas dois anos? «Sim, não é muito comum. Mas agora as gerações jovens estão a crescer muito, estão a chegar longe, e eu sinto-me muito orgulhoso. Sou muito exigente comigo mesmo, coloco pressão em mim. Penso muito nas coisas, não vou mentir, é algo que tenho de melhorar. Se vale a pena, se não vale. A ajuda psicológica é fundamental para mim», relata, sem querer desenvolver as razões que levaram a que não tivesse oportunidades no Atlético Madrid: «São coisas que acontecem no futebol e aprendemos com tudo. Nem sempre se pode ter o que se pensa. Também não quero falar muito sobre isso».
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Ponta de lança do FC Porto recorda infância difícil
Chegou, pois, a hora de rumar ao FC Porto e a primeira época está a ser recheada de sucesso a nível individual: 20 jogos em 34 jogos. «A verdade é que estou muito bem, grato principalmente ao meu clube pela oportunidade e espero que as coisas continuem como estão e que possamos ganhar títulos juntos. Golos? Sempre marquei, graças a Deus. É uma coisa que tenho dentro de mim e a verdade é que estou muito bem. O golo é o mais valioso do futebol e o jogador que marca golos ganha mais dinheiro. E se eu não puder marcar golos, pelo menos posso ajudar a equipa com o meu trabalho», refere o camisola 9 dos azuis e brancos.
A expressão que ganhou nos dragões levou-se à seleção de Espanha e o orgulho não poderia ser maior: «São jogadores de classe mundial, é um privilégio estar aqui. O selecionador disse-me para ser eu mesmo e fazer o que me trouxe até aqui. Estou muito agradecido pela confiança que me deram e estou muito feliz.»
A concluir, Samu foi desafiado a falar sobre a questão do racismo e se alguma vez tinha sido vítima de discriminação. «A Espanha ajudou muito a minha família. Sou muito grato, não só por mim, mas por todas as famílias que têm menos recursos e que foram ajudadas. Nunca tive problemas com racismo, apenas uma vez em Avilés, a jogar pelo Granada. São pessoas que não se colocam no lugar dos outros e eu não vou sequer falar sobre elas», concluiu o jovem ponta de lança do FC Porto, que já se estreou na principal seleção espanhola e que é uma das opções de Luis de la Fuente para os dois próximos compromissos de La Roja, diante dos Países Baixos, relativos aos quartos de final da Liga das Nações.