Madureira fala em tribunal: «É esta m*** que vocês querem para presidente?»
Ex-líder da claque Super Dragões presta declarações no âmbito do processo Operação Pretoriano
Depois de ter chegado ao Tribunal São João Novo, no Porto, sob fortes medidas de segurança, Fernando Madureira, antigo líder da claque Super Dragões, quis prestar declarações na primeira audiência do julgamento do processo Operação Pretoriano.
Acompanhado por quatro elementos do GISP — Grupo de Intervenção dos Serviços Prisionais —, Madureira, visivelmente abatido e mais magro, começou por dizer o seguinte: «Começamos pelo dr. Adelino [Caldeira]. No início, o Ministério Público dizia que o plano era do dr. Adelino, que me pediu e ao Saul que levássemos os sócios para a Assembleia Geral para que votassem. Eu na altura disse logo que era mentira. Eu não falava para o dr. Adelino três meses antes disso. Eu e a minha esposa dissemos ao falecido presidente [Pinto da Costa] que se quisesse ganhar as eleições tinha de tirar o Adelino Caldeira e o Fernando Gomes da lista. O dr. Adelino soube e depois virou-nos a cara, a mim e ao Saul», disse, sendo de imediato interrompido por uma das juízas, que o lembrou que Adelino Caldeira, ex-administrador da SAD do FC Porto, não faz parte do processo.
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Respondendo à juíza por que razão a Assembleia Geral era um ato tão importante, Madureira frisou: «Esta Assembleia Geral era como umas primárias. Não sei se era braço no ar. No Dragão Arena era impossível ser braço no ar, era muita gente. Eram umas primárias porque ele ia sentir o pulso. Houve uma campanha orquestrada nas redes sociais e na comunicação social.»
«Eu não tive nada a ver com a elaboração dos estatutos», afirmou, garantindo que a mudança dos mesmos «nada mudaria» na claque.
«O que mais se falava era na questão do voto eletrónico. Quem poderá explicar melhor são os membros do conselho Superior», disse, acrescentando: «Quiseram-me também colar ao caso do zelador e aos Super Dragões, afinal era um caso de delinquência».
Madureira aborda também dois arguidos que já não estão no processo, António Sá e Tiago Aguiar. «A acusação diz que ameacei o Henrique Ramos. Ele é meu amigo, já o conheço há 23 anos. Nunca me aproximei dele, depois da Assembleia fomos ao Barril comer um prego e uma cerveja. Nos dias seguintes brincámos por ele ter ido à Assembleia com uma gabardine. Devia ir para o prestigiado museu Madame Tussaud para rivalizar com a de José Mourinho», disse.
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«Também quero falar do pseudo ataque à liberdade de imprensa do Vítor Catão. Ligaram-me a dizer que havia problemas, eu estava no ginásio. Quero falar da minha relação com os arguidos», adiantou, com a juíza a referir que Madureira surge no processo como cabecilha. «Existiu ou não uma ação concertada da claque no sentido da presença na assembleia?», questionou, ao que o arguido respondeu: «Eu mobilizei os Super Dragões para irem apoiar o Pinto da Costa, conforme o Villas Boas mobilizou os seus apoiantes. Eu só disse para irem e para votarem em conformidade com o presidente».
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A juíza questiona: «O senhor soube que aquilo deu para o torto?». Eis a resposta de Madureira. «Vi o senhor Bruno Branco (que não é arguido) puxar o braço a um senhor de idade. Vi outra altercação do Vítor (Aleixo), é aí que eu apareço num vídeo a gesticular, esse vídeo até já se tornou viral. Nunca pedi a ninguém para mudar de bancada. Fiquei muito nervoso, transtornado, irritado e triste por ver sócios do Porto uns contra os outros. Eu disse: 'é esta m*** que vocês querem para presidente? Veio dar uma entrevista, foi para casa. A esta hora está com os c*** sentados no sofá e vocês aqui à porrada», disse, pedindo à juíza para usar palavrões.
«Vi só a garrafa de água a voar, isso eu vi. Uma garrafa de plástico que voou de uma bancada para a outra». «Quem eram os fozeiros? Os betinhos da Foz?», perguntou a juíza. «Sim, eram os apoiantes do Villas-Boas. Não me recordo se fiz a credenciação para entrar na Assembleia. Estava sempre dentro e fora. Eu sugeri a uma das meninas que estava a dar as pulseiras se não era melhor distribuirmos pelas filas e ela disse não. Nisto, o Hugo 'Polaco' pega na caixa das pulseiras, eu tirei-lhe as pulseiras.»
«Mas depois o 'Polaco' tem pulseiras na mão», afirma a magistrada. «Isso já não sei», diz Macaco.
Madureira lembra, entretanto, que se entrava na assembleia com pulseiras, descreve como era o espaço e por onde seguiam, explicando, depois, a imagem onde parece que faz um gesto para apanhar algo.
A acusação diz que as pulseiras foram dadas a pessoas que não eram sócias do clube.
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Confrontado com as mensagens de WhatsApp que enviou após a AG do terror, Madureira explicou: «Agradeci aos Super Dragões, porque se comportaram de forma exemplar na Assembleia Geral. O que se passou na AG não teve nada a ver com os Super Dragões. Foi tudo criado pela máquina de campanha do André Villas-Boas para ganhar as eleições.»
A juíza pergunta: por que é que o senhor diz algo [na AG] e as pessoas se levantam todas da bancada? «Isso foi na bancada Sul, estavam lá algumas pessoas dos Super Dragões. Eu disse que eles ali estavam deslocados, que não iam conseguir ver nada», disse, sendo prontamente questionado. Não foi para as pessoas se misturarem com o público em geral e fazerem pressão? «Não, de modo algum. Era proibido filmar, era uma reunião de família. Também era proibido bater e dar cachaços? Eu não bati em ninguém, nem dei cachaços», afirmou.
Madureira revela que estava zangado com Vítor Catão há sete anos e, olhando para Catão e quase fala diretamente para ele, dando conta de que só fizeram as pazes após a assembleia.«Se vir a minha postura corporal é falso. Não ia estar a sorrir se estivesse a dizer isso», afirma 'Macaco' quando questionado se fez ameaças e chamou 'betinhos'. «Cantamos Pinto da Costa duas ou três vezes, Força Grande Porto estou apaixonado. Não ouvi essas coisas. As pessoas daquele grupo não agrediram ninguém, depois era uma maneira de me expressar para eles. Foram situações antigas, problemas que já existiam».«Foram atos isolados, que foram potenciados pela máquina de campanha do André Villas Boas para alguém ficar bem nas eleições», explica referindo-se a ameaças.
Processo de credenciação na Assembleia
«E isso é crime? Sou sócio há 30 anos com quotas em dias. Cartões de sócios? Só me vieram colocar questões. Houve pessoas que passaram à frente, mas uns eram Villas-Boas, outros Pinto da Costa. Foi constante isso de pessoas a passar à frente. Cheguei a passar um grupo de senhores de idade para não estarem horas à espera na fila. Até Villas-Boas furou a fila»
Pedido aos chefes dos núcleos
«Pedi [aos chefes dos núcleos] para levarem três, quatro pessoas, mas nunca pedi para baterem em ninguém. Aquilo eram umas primárias. Há 14 meses que digo isto, eram umas primárias. André Villas-Boas usou aquilo como umas primárias. Para mim a votação era indiferente, eu só queria que apoiassem o Pinto da Costa. Andavam a dizer nas redes sociais 'o velho tem de morrer', era uma total falta de respeito»
Procuradora lê mensagens de WhatsApp
Numa mensagem é pedido um cartão de sócio a Madureira. «Ela pediu-me um cartão de sócio de mulher, eu disse que sim, que sim, que sim. Mas depois deixei-a na mão. Ela fazia campanha pelo André Villas-Boas e isto foi para a castigar»
Numa outra mensagem dizia: «Amanhã lá estaremos, contra tudo e contra todos». «Este grupo tinha cerca de 300 participantes. Se deixava de ir lá meia hora tinha logo 500 mensagens, era impossível ver todas as mensagens».
Pergunta da Procuradora: alguém entrava ou ousaria entrar numa assembleia extraordinária do FC Porto pertencendo aos Super Dragões contra a sua vontade? «Sim, era possível. Obviamente que sim. Eu não mando nas pessoas. Não posso responder pelos atos dos outros. Tenho de responder apenas pelos meus atos. Não fui eu que escrevi. São pessoas a falar umas com as outras, não tive conhecimento, nem responsabilidade. Eu não estou na cabeça das pessoas, estou apenas na minha cabeça e só sei por isso responder pelos meus atos». Terminam as perguntas do Ministério Público.
Advogada do FC Porto
Sofia Ribeiro Branco, a advogada do FC Porto, confrontou Fernando Madureira com o facto de sócios da claque, que estavam no grupo de WhatsApp, mas que não eram sócios do Porto, irem à Assembleia. «O que é que iam lá fazer?», questionou. «Não sei. Eu sou sócio há 30 anos, com quotas pagas e por isso fui à Assembleia. A maior parte das pessoas que estavam na Assembleia nem sabia o que ia ser votado. Era como se fossem umas primárias e iam votar no que Pinto da Costa votasse. Não ia obrigar ninguém. Cada um fazia o que queria»
Sofia Ribeiro Branco confrontou Fernando Madureira com uma alegada ameaça nas redes sociais a uma apoiante de Villas-Boas, «Bárbara SD», que tinha deixado uma mensagem de apoio ao agora presidente do FC Porto. «Vais começar a pedir bilhetes ao Villas-Boas. Na próxima vez que fores a um jogo, vens pelos cabelos para a rua». Madureira explicou que era no sentido figurado, que tinham mulher e filhas e era incapaz de fazer isso. "Eu à data era líder dos Super Dragões e estava em mais de 80 grupos. Eu muitas vezes dizia 'ok, ok', mas era só para despachar. Por vezes era gozado e até me chamavam de ok, ok».
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«Quem falhar sofrerá as consequências», dizia Madureira num grupo, onde exigia a presença de elementos de núcleos dos Super Dragões. «Arranjem cartões de sócios, amigos, familiares», dizia Madureira também. «Amanhã valem tudo», dizia ainda. «Não sei o que queria dizer, era o vale tudo. Mas não era incentivar a baterem em ninguém», esclareceu.
Ainda sobre as filmagens na assembleia, Madureira diz que não pediu a ninguém para não filmar.
Susana Mourão, advogada de Vítor Catão, Susana Mourão, começa a colocar questões. Madureira começa por negar que Catão tenha alguma vez pertencido aos Super Dragões. «Ele é sócio há vários anos, mas nunca esteve na bancada dos Super», afirma. Outros causídicos colocam questões sobre a relação de Madureira e os arguidos. Sobre Hugo Polaco, Madureira diz que «não faz ideia» se era sócio do FC Porto. «Em 20 anos de Estádio do Dragão estive presente em todas as assembleias». «Já fui a dezenas de assembleias».
Fernando Madureira revelou que quem organizou a Assembleia Geral terão sido os diretores de Marketing e diretores de Segurança. Questionado por Cristiana Carvalho, advogada de Fernando Saul, Madureira confirmou que todos os diretores do clube foram despedidos após Villas Boas ter ganho as eleições, à exceção precisamente desses dois. E que a empresa de segurança, a SPDE, continua a prestar serviços ao FCPorto. E Madureira afastou a tese de que estavam a apoiar Pinto da Costa para tentar manter as regalias porque «o protocolo com os Super Dragões mantém-se exatamente igual» ao que estava antes das eleições e da vitória de Villas-Boas.
«André Villas-Boas não está aqui a ser julgado», alerta juíza
«O Henrique Ramos alguma vez lhe disse que o Saul lhe bateu?», questiona a advogada de Fernando Saul. «Não isso nunca aconteceu», diz Madureira. A juíza chama agora à atenção de que «André Villas-Boas não está aqui a ser julgado» e que por isso algumas questões não fazem sentido na sua ótica. «O que pretende demonstrar? Que houve incitamento e que isso justifica a ação dos arguidos?», questiona a magistrada, que diz que o que está aqui em causa é a ação dos arguidos.
Agora é o advogado de Vítor Manuel 'Aleixo' e do filho Vítor Bruno 'Aleixo'. «Quando cantavam 'Pinto da Costa, olé' era um cântico de alegria?», pergunta o advogado. «Sim era, nós agora até chamávamos o Pinto da Costa de rei», diz, que explica que se sentia muito triste sempre que alguém atacava Pinto da Costa.
O antigo chefe da claque refere que num grupo de Whatsapp dos Super Dragões está também «o neto do Pinto da Costa, o Cândido Costa, ex-jogador», assegurando que que não tem mal nenhum estar no grupo.
Estatutos do FC Porto
Miguel Marques Oliveira, advogado que representa o Sandra Madureira, vai colocar algumas questões para a defesa de Sandra. «Esteve na assembleia com a Sandra?», questionou. «Por acaso não nos cruzamos», diz Madureira, relembrando apenas uma situação onde a viu. Depois, Gonçalo Cerejeira Namora, advogado de Madureira, questiona o arguido. «O senhor alguma vez leu os estatutos?», questiona o advogado. «Não, não li», diz Fernando.
«Na Assembleia vi elementos dos Super Dragões envolvidos com elementos dos Super Dragões», disse. «Quantos episódios de violência viu?», perguntou o advogado. «Vi só duas, três altercações. Algumas vi na televisão», assegura.
«Por que é que o senhor era o bombeiro de serviço?», pergunta o advogado. «Porque sempre foi assim ao longo dos anos, tentei sempre acalmar os ânimos, muitas vezes eu ia lá e nem era preciso chamar a polícia», afirmou Madureira, que diz que muitas vezes os spotters coordenavam tudo consigo. Termina o depoimento de Fernando Madureira.