FC Porto sofreu golo e os jogadores do Benfica mandaram calar os seus adeptos
A equipa do Benfica que tinha jogadores que mandavam calar os adeptos por acharem que o árbitro lhes anulara bem um golo. Foto: DR

HISTÓRIAS DO CLÁSSICO FC Porto sofreu golo e os jogadores do Benfica mandaram calar os seus adeptos

NACIONAL25.09.202316:44

Na primeira vez em que os portistas defrontaram benfiquistas em Lisboa, levantou-se «berreiro contra o árbitro» e os jogadores de Cosme Damião acharam que o alarido se devia, afinal, a «público ignorante». O que aqui se conta é essa história e outras desses primeiros jogos entre o Benfica e o FC Porto…

O Benfica chegara pela primeira vez a bicampeão de Lisboa – e chamou o FC Porto (que por Lisboa ainda não fizera qualquer jogo de futebol) a torneio integrado nas comemorações da Implantação da República. Por essa razão, o desafio entre ambos disputou-se a 5 de Outubro de 1912, no Campo das Laranjeiras, à beira do Jardim Zoológico. Foi a primeira vez que os portistas defrontaram benfiquistas em Lisboa – e perderam por 5-1. 

Vendendo-se 773 bilhetes, apurou-se um «benefício» de 112 escudos e 76 centavos. De imposto de selo e de arranjo do campo pagaram-se 6 escudos e de policiamento 3 escudos e 10 centavos. O bilheteiro recebeu 15 tostões e os três porteiros 6 tostões cada. (10 tostões era um escudo e, por essa altura, na publicidade que cruzava jornais e revistas parecia haver uma… obsessão, a «obsessão pelos seios das mulheres» - razão porque habitual, por lá, era o «reclame» das Pílulas Orientales, prometendo, através de frascos «encomendados de Paris», a 15 tostões, o rápido «endurecimento dos seios» a «damas e meninas»…) 

O ÁRBITRO ERA «DISSIDENTE» DO SPORT LISBOA E FORAM OS BENFIQUISTAS QUE ACABARAM COM «BERREIRO» NO GOLO QUE LHES ANULARAM 

A arbitragem desse primeiro Benfica-FC Porto da história coube a Daniel Queirós dos Santos, que tendo sido um dos casapianos que fundaram o Sport Lisboa, fora um dos «dissidentes» que o deixaram seduzidos por José de Alvalade – e, por essa altura, já era vice-presidente do Sporting, a presidente da AG subiria logo depois. Mantendo o SLB a tradição de não acolher estrangeiros nas suas fileiras, seis estrangeiros tinha, no seu onze principal, o FC Porto: Peter Janson, Charles Allwood, H. Webber, W, Best, Harrisson e J. Jones. Os portugueses do «team» eram Magalhães Bastos, Vitorino Pinto, Américo Pacheco, Camilo de Figueiredo e Camilo Moniz – e, estando, à beira do intervalo, o resultado em 1-1, no Sport de Lisboa (jornal que Cosme Damião fundara e tendo a redação à sede do Benfica, não era, por vontade de Cosme, o seu diretor, «simples panfleto do clube») contou-se: «Os avançados do Benfica ficam ansiosos por meter goal e colocam-se constantemente em off-side. Perdem assim algumas ocasiões boas, até que um chuto certeiro lhes dá o segundo goal, no fim da primeira parte. Depois fazem um terceiro que o árbitro não validou, porque fora feito em off-side. Levanta-se grande celeuma por parte de um público ignorante e parcial, especializando-se na bronca o povo de fora de portas. Apazigua-se rapidamente o berreiro porque alguns jogadores do Benfica têm o bom senso de levantar os braços, fazendo sinal de que efetivamente não era goal...»

Em 1912, o Benfica era claramente superior ao FC Porto no seu jogo. E grande era igualmente o «fair-play» dos seus jogadores. Foto: DR

Nessa «primeira categoria» do Benfica que cometera a proeza histórica de «desfazer o que era a hegemonia dos ingleses do Carcavelos» jogavam então Paiva Simões; Henrique Costa e Francisco Belas; Carlos Homem de Melo, Cosme Damião e Artur José Pereira; João Martins dos Reis, Francisco Pereira, Luís Vieira, José Domingos e Virgílio Paula – e o «match» com o FC Porto fechou com 5-1 no placard.

NA PRIMEIRA VITÓRIA DO FC PORTO EM LISBOA, CRÍTICAS AOS… LISBOETAS QUE ASSOBIARAM O CIF!

No dia seguinte, conseguiram os portistas a sua primeira vitória em Lisboa: 3-2 ao CIF, ao CIF que Guilherme Pinto Basto fundara ao terminar a aventura do Foot Ball Club Lisbonense (que criara para ir, em 1893, defrontar o Foot Ball Club do Porto de António Nicolau de Almeida e que não tardaria a cair no limbo…) – e cronista (obviamente lisboeta) abespinhou-se com o comportamento do que ele achava que eram adeptos do Benfica: ««Quando o team de Lisboa entrou em campo, foi muito assobiado. Não compreendemos o motivo porque certos espetadores menosprezaram os jogadores do CIF, que nenhum mal lhes fizeram. Dava-se o caso de jogar um team do Porto e outro de Lisboa. E isso bastava para que o grupo que representava a nossa cidade fosse recebido com carinho, pois ia defender-nos sportivamente contra os sportmen do Norte. A falta de educação de certa gente é, porém, comparável à sua curta inteligência e, por isso, assistemos a tão estranha receção feita ao grupo lisbonense...»

Para o CIF-FC Porto, a bilheteira baixou para 83 escudos e 12 centavos – e, assim, em receita bruta, o torneio (em Honra da Implantação da República) gerou 195 escudos e 88 centavos. Como, contudo, só nos transportes dos portistas em comboio se gastaram 162 escudos, juntando-lhes outras despesas, deu prejuízo. O prejuízo dividiu-se pelos dois clubes, o CIF suportou pouco menos de 9 escudos, o Benfica suportou pouco menos de 13 escudos…

ANTES DO FC PORTO VIR JOGAR A LISBOA, TINHA O BENFICA IDO JOGAR AO PORTO…

Por esse ano de 1912, o soldo diário de um assalariado agrícola andava pelo tostão e meio (algo como 150 réis) – e quando, pouco antes, os escudos (da República) ainda não tinham sido substituídos pelos réis (da Monarquia) o Benfica gastara, na compra de sete bola de futebol, 29 920 réis. 

Pouco antes, também, dos réis passarem a escudos (e mil réis passar a ser um escudo), soltou-se notícia de que em greve entraram as costureiras de Lisboa porque, pagando-lhes «200 réis por 11 horas de trabalho diário», exigiam «mais 50 réis» - e fora a 28 de abril de 1912 que se dera o primeiro duelo entre portistas e benfiquistas, soltando-se, em destaque, a nota de um jornal do Porto: «Entre a assistência via-se grande número de senhoras que davam ao agradável recinto do vasto campo um aspeto alegre e festivo».

Na primeira vez que o FC Porto defrontou o Benfica em Lisboa perdeu por 5-1. Semanas antes, no Porto os benfiquistas tinham ganho por 8-2. Foto: DR

Disputado no primeiro campo do FC Porto, no campo que começara por chamar-se Campo da Rua da Rainha (e com a implantação da República a rua deixou de ser da Rainha, passou a ser de Antero de Quental). Meses antes, a GNR matara duas trabalhadoras das conservas em Setúbal numa manifestação em que elas exigiam apenas que os seus salários passassem de 40 réis à hora para 50 – e, para se ver o jogo teve de pagar-se bilhete, bilhete como já se pagara um mês antes, na partida em que os portistas conseguiram a sua primeira vitória internacional: 4-1 sobre o Fortuna de Vigo. Cada um custou 320 réis (sim em réis porque ainda era na moeda da monarquia que se faziam as contas…) -e, com as contas feitas à receita de bilheteira o tesoureiro portista rejubilou – de lá levou «146 mil réis» (que, oficialmente, já eram, pois, 146 escudos). 

NO PRIMEIRO FC PORTO-BENFICA, PIOR PARA OS PORTISTAS FOI O RESULTADO

No dia desse primeiro FC Porto-Benfica, o JN anunciara: «Os jogadores lisboetas chegaram ao Porto no Rápido, às 11.57 da noite, acompanhados de grande número de sócios do Benfica e de outros clubes de Lisboa.»

Ao contrário dos franceses do Medoc, que lá tinham estado na semana anterior, o Benfica não exigira «cachet», exigiu apenas despesas pagas – e, por isso, os dirigentes do FC Porto suplicaram à CP desconto nas tarifas, conseguindo a «boa vontade de um corte de 50%». Como os benfiquistas levaram duas equipas (uma de primeira e outra de segundas categorias) – os portistas acabaram, mesmo assim, por ter prejuízo, um «prejuízo de 13 réis». 

Não sendo nada mau, muito pior foi o que aconteceu em campo: o Benfica venceu por 8-2 a partida de primeiras categorias. (Na de segundas, pela manhã, ganhara por 2-1.)

JOÃO CAL FOI O MARCADOR DO PRIMEIRO GOLO EM JOGOS ENTRE PORTISTAS E BENFIQUISTAS (O QUE NÃO SE SABE É QUEM MARCOU OS 8 DO BENFICA)

O FC Porto até abriu a contagem - João Cal tornou-se, assim, o primeiro jogador a marcar golo num desafio entre as suas equipas principais – e também foi dele o segundo. Tão pouco foi, todavia, o destaque que se viu nos jornais, que nem sequer se ficou a saber (por eles) quem marcou os oito golos do Benfica (sim, o «match» fechou com a vitória do Benfica por 8-2) – o que se soube foi, por exemplo, o que está reproduzido na História do Futebol Clube do Porto, a primeira história do clube que se publicou, escrita por Rodrigues Teles: «No grupo de Lisboa distinguiu-se Artur José Pereira, um jogador extraordinário e, sem dúvida, o melhor da equipa. Além deste, há a destacar os defesas, especialmente o direito. (Não se lhe dizia o nome, era Henrique Costa.) Cosme Damião, o médio centro, muito correto e trabalhador. Por fim, de destacar ainda Luís Vieira, o avançado centro...»

Por um jornal do Porto soube-se, no entanto, de lance insólito – a marcar a partida: «Um jogador do Benfica meteu uma bola na própria baliza, sofrendo a seguir um pontapé de canto, porque o refree achava que assim rezava a lei»!!!

Pinto Basto e Cosme Damião, os capitães do Benfica e do CIF, que trouxeram o FC Porto a jogo em Lisboa pela primeira vez. Foto: DR

POR «MÁ EDUCAÇÃO NO CAMPO», COSME DAMIÃO PRENDEU O SEU CRAQUE NO QUARTO DO HOTEL

Depois do primeiro jogo da história entre o FC Porto e o Benfica, deu o Benfica salto à Corunha – para os seus primeiros jogos no estrangeiro. Numa semana, fez três desafios com o Real Corunha, ganhou um, perdeu dois. 

No último, a favor dos «Niños Descalzos», ante presença das «senhoras de mais alta sociedade galega», Artur José Pereira desentendeu-se com um adversário que lhe fizera falta rude – e quando ele se levantou para lhe pedir desculpa, o que é que aconteceu? Aconteceu o que assim se contou (num sinal do que era o futebol, por esse tempo): «Desatou a insultar o outro jogador perto da tribuna da presidência em condições que vexaram Cosme Damião, como capitão de equipa. Cosme, disciplinador, para marcar bem a sua reprovação pela atitude assumida por Artur, castigou-o em público, expulsando-o e ajudando, até, a fazê-lo sair do campo. Quando chegaram ao hotel, Cosme deixou o fogoso jogador fechado à chave, no quarto, para que ele não fosse ao jantar que o Real Corunha ofereceu aos seus hóspedes...»

Ao sabê-lo, elogiando Cosme pelo seu fair-play – Carruncho, o capitão galego, pediu-lhe que cessasse o castigo a Artur, oferecendo-se para o acompanhar ao hotel, a buscá-lo – e assim foi…

Depois da primeira goleada ao FC Porto e de Cosme o deixar «preso no quarto», Artur JoséPereira foi para o Sporting como primeiro futebolista pago em Portugal. Foto: DR

ARTUR JOSÉ PEREIRA DE «CASTIGADO» A PRIMEIRO FUTEBOLISTA PAGO (PELO SPORTING)

Não muitos meses depois, Artur José Pereira voltou à ribalta (por causa das suas já «famosas rebeldias). Pedro Franco, o dono da Farmácia Franco (onde se fundara o Sport Lisboa…) dera-lhe emprego na farmácia, o emprego não era bem emprego, o que se dizia era: «O que o Artur José tinha a fazer, pouco era. A maior parte do tempo passava-o com o patrão, que não escondia a admiração que tinha pelo seu jeito para a bola, a jogar bilhar numa loja próxima ou a conversarem sobre futebol no café ao lado…»

Depois de ter levado o Benfica a campeão de Lisboa de 1913/1914 (mas só depois disso, claro...) anunciou-se que o clube o suspendera por seis meses, Cosme Damião justificou-o assim: «De um instante para o outro, Artur José Pereira recusou-se a treinar como qualquer outro jogador».

Sabendo-o castigado, Francisco Stromp desafiou-o para o Sporting, oferecendo-lhe 36 escudos por mês. Artur José Pereira tornou-se, assim, o primeiro o primeiro futebolista assumidamente remunerado da história de Portugal (contrato assinado nunca houve, houve apenas entre ele e Stromp acordo de palavra e isso bastou…) — e outros privilégios lhe couberam: «prioridade no uso da única banheira de água quente do estádio» e, para que a «pirraça aos benfiquistas fosse maior ainda», ainda se decidiu «nomeá-lo para o honroso cargo de capitão de equipa», deixando, assim, Francisco Stromp de o ser. (36 escudos por mês era fortuna? Depende. Francisco Lázaro, o maratonista que sonhara ganhar os Jogos Olímpicos e morrera em Estocolmo/1912 - ao deixar Lisboa ganhava 6 tostões por dia como carpinteiro no Bairro Alto, fazendo 25 dias de trabalho ficava com 15 escudos. Pela sua vitória no Concurso Hípico do Porto, o capitão Lusignan de Azevedo ganhou 500 escudos de prémio. E por 12 escudos vendia-se o Zodiac, aparelho de electro-massagem, que os fabricantes garantiam «curar nevralgias e reumatismos, ciáticas e lumbagos, gota e dor de estômago, desfazer perturbações nervosas e rugas e pés de galinha – e, continuando a arrastar-se, estranha ou talvez não, a «obsessão» também prometia «alindar os seios das senhoras, renovando-lhe e conservando-lhe a firmeza»...)

A razão do corte com o Benfica, Artur José Pereira (que em 1946 Cândido de Oliveira consideraria em A BOLA o melhor jogador português de todos os tempos...) deu-a, ele, singelo, assim: «Quiseram castigar-me, beliscaram a minha dignidade, fui-me embora» - e, logo nesse ano (de 1914) campeão não foi o Benfica, foi o Sporting. 

No FC Porto havia jogador um pobre, o Farrapa, que pôs os companheiros numa «rebelião» por causa de «dinheiro de baixo da mesa». Foto: DR

A REBELIÃO ENTRE OS JOGADORES DO FC PORTO POR UM DELES NÃO TER PAGO DESPESAS…

Andando-se já por 1917, havia no Benfica um massagista particular: o sueco Boo Kulberg, que era também seu treinador de atletismo e preparador físico do futebol. Pagava-lhe por todo o serviço, 40 escudos por trimestre. Não, o FC Porto ainda não se dava a tais luxos – e, por essa altura, em algumas das viagens a terras mais distantes (se tal não fosse da responsabilidade de quem desafiava…) até eram os próprios futebolistas que suportavam as despesas de alimentação e de transportes. Por isso, quando achavam acanhadas ou em falha as suas finanças, alguns pediam dispensa. Era o que teria acontecido a Joaquim Reis, o Farrapa, certa vez, se para ir com a equipa a Viana (onde ganhou por 6-0) o clube não lhe tivesse pago as despesas «por baixo da mesa».

Ao sabê-lo, os restantes companheiros levaram ao presidente abaixo-assinado exigindo «o reembolso do dinheiro gasto, visto que um colega, segundo era do seu conhecimento, fora indemnizado». Henrique Mesquita convocou os futebolistas para uma reunião no seu gabinete, garantindo-lhes: «Apenas o Farrapa, um dos maiores jogadores da nossa época, recebeu as despesas, recebeu-as por se tratar de um elemento muito pobre. De resto, antes da partida fora-lhe prometido o reembolso por estar provada a sua incapacidade financeira».  Que então, assim, estava certo, foi a resposta, em coro.

Usado como «estimulante», anúncio ao Vinho Nutritivo de Carne da Farmácia Franco (onde se fundara o Sport Lisboa). Foto: DR

Nos despojos da I Guerra Mundial, jornal contava que no matadouro de Lisboa se abatia apenas um boi por dia para abastecer 600 mil habitantes. 3 tostões custava o quilo de alcatra que se importava da Argentina. E a Farmácia Franco, a farmácia onde nascera o Sport Lisboa, o Sporting Lisboa que depois se tornou Sport Lisboa e Benfica, vendia em barda o Vinho Nutritivo de Carne de Pedro Franco, com o conselho vincado nos anúncios que se espalhavam por jornais e revistas: ««Eficaz na pobreza do sangue e sempre que é preciso levantar forças, um cálice representa um bom bife». 

NA PRIMEIRA VITÓRIA DO FC PORTO EM LISBOA, A MÁGOA DO SILÊNCIO (E OS BENFIQUISTAS COM VINHO NUTRITIVO DE CARNE DA FARMÁCIA FRANCO) 

Com alguns dos jogadores do Benfica (os que lhe podiam, claro, suportar o custo se o não tivessem por cortesia…) a tomarem o Vinho Nutritivo de Carne de Pedro Franco – só a 4 de abril de 1920 se deu piparote na história: no Campo de Sete Rios, o FC Porto conseguiu, enfim, bater os benfiquistas (por 3-2). Estiveram a vencer por 3-0, graças a dois golos de Alexandre Cal e de Joaquim Reis (o Farrapa do privilégio das despesas pagas) – e, com o resultado em 3-1, ainda falharam duas grandes penalidades: «Uma foi enviada às mãos do guarda-redes do Benfica, outra passou ao lado da baliza». 

A receita com bilhetes ficou à beira dos 650 escudos, os custos roçaram os 615 escudos – e, dois dias depois, Alexandre Cal (que era o capitão-geral portista) publicou no Primeiro de Janeiro carta marcada a lamento: «O desafio jogado contra o Benfica foi ganho pelo FC Porto por 3-2. Este resultado não veio em nenhum jornal dos que mantém secção desportiva. A razão deste silêncio? É simples: Lisboa em futebol há dez anos ou mais que estava habituada a vencer o Porto conseguindo quase sempre mais ou menos fáceis vitórias. Este ano, o Porto quis vencer e venceu e para isso trabalhou com vontade, desfazendo a ideia que muitos tinham de ser impossível tão cedo o Norte triunfar sobre o Sul. Eis a razão porque foi tão pouco falada a vitória. Quanto aos jornais desportivos, um deles, que por sinal costuma trazer uma resenha bastante desenvolvida dos bons desafios, limita-se a fazer uma pequena apreciação que por acaso não condiz com o título, e essa mesma feita em tipo pequeno, como que a ver se passava despercebida. Inclusivamente, em vez de dizer: o FC Porto venceu o Benfica, diz: team do Porto vence o Benfica. Faço esta pequena observação, que poderia parecer sem importância, mas é para que todos fiquem sabendo que o grupo que foi a Lisboa é única e exclusivamente de elementos do FC Porto e não com alguns do Oporto Cricket Club, como um jornal desportivo da capital fez constar, talvez por más informações...»

Nesse jogo, nasceu uma estrela em azul celeste – o Norman Hall. Era inglês sim, mas vivia no Porto desde os oito anos. Apesar dessa primeira derrota com o FC Porto, essa foi grande época para o Benfica: ganhou o Campeonato de Lisboa pela oitava vez.