Edin Terzic: a redenção do adepto que apurou o Dortmund para a 3.ª final da Champions
Edin Terzic festeja passagem do Dortmund à final da Liga dos Campeões (Foto: Moritz Müller/IMAGO)
Foto: IMAGO

Edin Terzic: a redenção do adepto que apurou o Dortmund para a 3.ª final da Champions

INTERNACIONAL08.05.202415:52

Em 2012, assistiu no meio da muralha amarela, à conquista do título de campeão; na época passada perdeu-o por quatro minutos; esta temporada resistiu ao despedimento e vai estar em Wembley

Há um novo herói em Dortmund. Depois de Ottmar Hitzfeld em 1997, Jürgen Klopp em 2013, Edin Terzic tornou-se o terceiro técnico a apurar o clube para a final da Liga dos Campeões. Filho de pai bósnio e de mãe croata, nascido em Menden, uma pequena localidade perto do Ruhr e a este da cidade hanseática, o fã de sempre do Borussia auri-negro já garantiu o seu lugar nos livros de história qualquer que seja o desfecho em Inglaterra.

A sua vida futebolística resume-se a três atos: em 2012, assistiu da bancada do Westfallenstadion, no meio da Muralha Amarela, à conquista do 8.º e último título de campeão alemão pelo clube, então com Jürgen Klopp ao comando; na época passada viu a saladeira da Bundesliga escapar-se-lhe entre os dedos ao não conseguir bater o Mainz em casa na última jornada (2-2), ao mesmo tempo que um golo de Jamal Musiala aos 89 minutos em Colónia (1-2) oferecia o 11.º campeonato seguido ao todo-poderoso Bayern; e na passada terça-feira, depois de uma temporada recheada de críticas pela fraca campanha interna (é 5.º a 24 pontos do já campeão Leverkusen, com duas jornadas por disputar), em que sobreviveu por diversas ocasiões à pressão para o seu despedimento, apurou die Schwarzgelben para nova final de Wembley, onde, em 2013, foram derrotados pelo Bayern (1-2).

Pelo meio, está um curso de Ciência do Desporto na Universidade do Ruhr e  uma carreira modesta de avançado nas divisões secundárias do país (SF Oestrich-Iserlohn, Westfalia Herne, Wattenscheid 09, BV Cloppenburg e Borussia Dröschede), pendurando as botas precisamente em 2013. Nessa altura, já trabalhara como scout de Klopp – o irmão Alen ainda hoje desempenha funções semelhantes do clube – e treinador das camadas jovens, mais concretamente nos sub-17. Seguiu viagem para a Turquia para ser adjunto no Besiktas de Slaven Bilic, com quem já tinha colaborado com a análise de adversários em 2012 quando este era selecionador croata, acompanhando-o depois na aventura em Inglaterra, no West Ham.

Em 2018, com a licença UEFA Pro emitida pela federação inglesa, voltou a Dortmund para ser o adjunto de Lucien Favre. Tornou-se interino com o despedimento do suíço em 2020 e ainda conquistou a Taça, porém a aposta recaiu em Marco Rose, até aí no outro Borussia, o de Moenchengladbach. Em vez de voltar à posição de adjunto, ocupou o cargo criado à sua medida de diretor técnico e voltou a baixar ao banco em 2022/23, com a saída do agora timoneiro do Leipzig. Levou então esse duro golpe corporizado no quase que o levou a chorar convulsivamente diante da Muralha Amarela que tinha integrado poucos anos antes. Nunca o slogan do clube fez tanto sentido: Echte Liebe! Amor verdadeiro.

Um resistente

Terzic foi resistindo a tudo. Primeiro às saídas. Há dois verões, ficou sem Erling Haaland e Axel Witsel, e no arranque para a época atual perdeu Jude Bellingham. Depois, à forma de alguns jogadores, como Jadon Sancho, completamente destroçado depois da passagem infeliz pelo Manchester United. Manteve a aposta, continuou a acarinhá-lo como se calhar Erik ten Hag nunca acarinhou, e agora o extremo inglês parece de novo imparável. Por fim, às críticas. A direção continuou a acreditar, juntou os ex-jogadores Nuri Sahin e Sven Bender à sua equipa técnica e as pontas soltas ter-se-ão ligado outra vez. Pelo menos, na caminhada europeia. Passou o grupo da morte, apurando-se ao lado do PSG, e deixando Newcastle e Milan pelo caminho, e eliminou depois PSV e Atlético de Madrid, antes de surpreender com o afastamento dos parisienses, que há muito perseguem o caneco.

Ao mesmo tempo, parece especialmente dotado para jogos de maior grandeza e a eliminar, sabendo alternar na perfeição o nível de agressividade da sua equipa consoante o momento. Dominou, em 2012, por completo o RB Leipzig de Julian Nagelsmann na final da Taça, triunfando por 4-1 no Olympiastadion de Berlim, colocou ainda inúmeras dificuldades ao Manchester City de Pep Guardiola das quatro vezes em que os dois técnicos se defrontaram na Champions e agora bateu o PSG nas duas mãos, mostrando uma organização extraordinária, embora sem deter o domínio da bola em ambas as partidas. É preciso não esquecer que ainda acrescentou a tal a felicidade de ter recebido seis bolas nos ferros (dois em casa, de Mbappé e Hakimi; e quatro em Paris, por Zaïre-Emery, Nuno Mendes, de novo Mbappé e Vitinha), porém ninguém pode negar que os germânicos jogaram no máximo das suas possibilidades.

Alguns conceitos do modelo de Terzic

Depois de ter tentado o 3x4x3 à moda do Ajax de Louis van Gaal, com um losango no meio-campo, Terzic estabilizou no 4x3x3 com a variável do 4x2x3x1. Na construção a partir da baliza, com os laterais baixos, procura bolas rápidas ou longas para os avançados que se aglomeram no corredor central a fim de se recuperar segundas bolas ou procuram espaços nas costas. Há uma clara intenção de construir pelo meio, o que favorece a reação à perda, ainda mais com a presença de uma linha defensiva bem subida no terreno. A ideia passa também por atacar o espaço entre lateral e central contrários com 2x1 sobre as alas, colocar bastante gente na área e fora desta para finalizar o maior número de vezes possível. O técnico pretende que a equipa seja veloz e objetiva no contra-ataque, e sem bola alterna entre a pressão alta e o bloco médio, consoante o momento e o adversário.

Apesar de herói já assumido, o técnico também joga o futuro em Wembley. As críticas estão para já adormecidas, quando muitos adeptos já apontavam a falta de experiência e de solidez tática para lutar por títulos, e pediam a sua substituição. É que o amor verdadeiro pode não chegar na altura de fazer todas as contas. A taça da Liga dos Campeões sim. Como é óbvio.