PARTE 3 - Mafalda Barbóz fala sobre o crescimento do futebol feminino em Portugal e do recente recorde de espetadores quebrado no Dragão numa partida da Seleção. Revela referência futebolística e perspetiva futuro
- Recentemente foi quebrado o recorde de assistências em jogos de futebol feminino em Portugal no Estádio do Dragão, numa partida da Seleção. A Tatiana Pinto afirmou no final do encontro que esses números devem ser normalizados. Concordas?
- Acho que são números que devem ser normalizados, mas eu pessoalmente gosto de olhar e acho que é importante olhar para cada uma de nós, focar-nos no nosso rendimento, na nossa performance, no espetáculo ser mais bonito. É uma bola de neve e as pessoas vão acabar por vir, e os investimentos… tudo vai subir. Acho que já está a ser… o Dragão cheio, também aqui no Norte, já estamos a ver frutos desse trabalho que é para continuar, porque de nada vale estarmos a desviar-nos muito. Acho que vem de nós. Se o nosso espetáculo for bom, se nós continuarmos a render, se nós nos focarmos em sermos melhores atletas, aqui e até para fora, a maneira como olham para nós portuguesas, isso sim. É uma bola de neve e é bonita. Não posso obrigar as pessoas a irem ao estádio, posso melhorar o meu futebol para ser mais chamativa e elas virem ver-me. E acho que é isso que está a acontecer. É uma questão de tempo para nós mostrarmos que somos constantes no nosso rendimento e que vale a pena virem sempre bater palmas para nós.
PARTE 1 - Mafalda Barbóz, capitã da Seleção nacional de sub-23, vem de uma época de sucesso na Suécia, ao serviço do Malmo, onde se sagrou campeã e garantiu a subida ao primeiro escalão. Em conversa com A BOLA, recorda os primeiros toques com a bola, o percurso até chegar ao Benfica, a aventura em Espanha com apenas 19 anos e a importância do Valadares para a sua carreira
- Consideras que o desempenho recente da Seleção tem ajudado a chamar mais público aos estádios?
- Eu acho que tudo ajuda, mas acima de tudo, o desempenho cada vez melhor das jogadoras portuguesas. Das que estão aqui, das que estão na Seleção, das que não estão, das que estão lá fora. Parece que é só desse tamanho, daquilo que nós vemos na televisão ou nos estádios, mas é uma coisa muito grande e que está a ser bem estruturada, mas que tem a ver com estas… das que estão, das que não estão, da maneira como lá fora olham para nós, depois os patrocínios e depois querem abrir os estádios. Voltando àquilo que eu disse há bocado, acho que cada uma de nós que viva, que tente ser a melhor atleta que conseguir e se muitas nós quisermos fazer isso, no geral, a coisa vai ficar bonita.
- A transferência da Kika [Nazareth] para o Barcelona, por exemplo, pode ter ajudado nesse aspeto, para elevar ainda mais o nome do futebol português lá fora?
- Da Kika, da Seiça, da Ana Dias, de toda a gente que está lá fora e está a render. Se nós não procurarmos ou não quisermos saber, aquilo que nos aparecer à frente é a única coisa que nós vamos... E vai ser só aquilo. E está tudo bem, é normal com muitas áreas. Mas é muita gente. Muita gente. E ajuda.
- Que passo falta dar para o futebol feminino crescer ainda mais?
- Falta continuar a caminhar, porque estamos a dar e é caminhar. E às vezes desviamo-nos um bocadinho, depois voltamos e é como tudo no futebol e em qualquer sítio neste momento. Futebol feminino... acho que mesmo assim, às vezes estamos a correr um bocado, então às vezes vamos correr, outras vezes vamos andar, é como tudo. Portanto, acho que falta continuar a fazer o que fazemos bem. E depois dar tempo para ver onde é que chegamos.
PARTE 2 - Mafalda Barbóz sagrou-se campeã pelo Malmo esta temporada, depois de uma época em destaque no Valadares. E conversa com A BOLA, a médio de 22 anos relata a sua experiência em solo nórdico, traçando comparações com a realidade portuguesa, e aborda uma possível chamada à Seleção A pela primeira vez
- A igualdade salarial nas seleções tem dado muito que falar. Qual é a tua opinião sobre o tema?
- Aquilo que eu gostava, que eu desejava, todas a receber milhões. Agora, coisas pequenas é que vão influenciar essa bola maior. Portanto, o que eu gostava é milhões para toda a gente, tudo igual, termos pelo menos as mesmas condições para fazer o mesmo trabalho. Sobre aquilo que nós recebemos e que vem para o nosso bolso, tem a ver com o valor que nós damos. Acho que é como todos os negócios. É melhoramos o nosso espetáculo. Desde que tenhamos a mesma oportunidade para sermos melhores, condições de trabalho, não estou a dizer o salário que nós ganhamos. Condições de trabalho, melhores campos. É um investimento que têm de fazer primeiro, para haver retorno, como qualquer negócio. Agora, o salário que nós vamos receber depende de nós sozinhas, todos os dias, como temos feito até agora, melhorarmos o nosso espetáculo, que é uma bola. As oportunidades devem ser as mesmas para nós trabalharmos e para nós podermos evoluir todos. A partir daí, o valor que nós geramos, havemos de chegar lá.
- Quem é a tua referência no futebol? Tinhas alguma quando estavas a crescer?
- Quando eu estava a crescer, tinha. E agora vão saber o meu clube, que era o Pablo Aimar. Agora, neste momento, vejo e há um bocadinho de cada jogador que eu tiro. Mas lembro-me de quando era pequenina, era isso que eu via. Por acaso isso [posição no campo] depois surgiu, porque eu não tinha posição nenhuma. Eu gostava daquilo, gostava de ver aquilo. E agora confessei o meu clube, porque eu gostava de ver os jogos e aquilo era... Mas de resto, não tenho. Tenho aspetos de cada um, que juntos, dariam um bom robô, a meu ver, mas uma pessoa específica, não tenho.
- Que planos tens para o futuro?
- Ser a melhor jogadora de futebol que eu conseguir. A melhor atleta que eu conseguir. E logo se vê o que a vida me traz. Vai ser proporcional, é a bola.