Paços de Ferreira «É uma falta de respeito, há coisas no futebol português que não têm explicação»
Consumada a descida à Liga 2, depois de o Marítimo ter vencido esta sexta-feira o Vizela, César Peixoto projetou o encontro de amanhã com o Rio Ave, que serve apenas para cumprir calendário, mas no qual o treinador dos castores pretende somar os três pontos para sair da temporada com dignidade.
-- Que sentimento tem após a descida do Paços de Ferreira?
-- É uma falta de respeito, não só pelo Paços de Ferreira ou Santa Clara, mas pelo futebol, pelos adeptos e pelo espetáculo do futebol. Uma coisa é jogarmos todos à mesma hora, termos o estádio cheio, com emoção, com o resultado indefinido, isto é o futebol. Outra é jogarmos sabendo que já descemos de divisão. Não faz sentido nenhum, a verdade desportiva fica em causa. Em termos de valorização do futebol não faz sentido. Há coisas no futebol português que não têm explicação. Não consigo entender como jogos decisivos que ditam muita coisa num clube, nas carreiras dos jogadores, do treinador, se criam regras de forma tão leviana, estragando o espetáculo. Os meus jogadores estão frustrados e vão entrar em campo da forma em que não é a melhor. Não concordo nada. As duas, três últimas jornadas deviam ser à mesma hora entre as equipas que lutam pelo mesmo objetivo, isso seria valorizar o futebol e a verdade desportiva.
-- Como está o grupo depois da descida?
-- A tristeza é enorme da parte de todos. Pela recuperação que fizemos na segunda volta, merecíamos discutir a permanência até ao último jogo. Foi uma manhã muito difícil, mas enfrentámos o problema de frente. Sinto-me frustrado porque quando voltei estava muito confiante que ia conseguir o objetivo, fizemos um bom trabalho no sentido em que conseguimos competir até ao final, mas não foi positivo porque descemos. O estado anímico é de muita frustração.
-- Onde esteve o problema deste desfecho?
-- O problema foi o início da época, não foi agora. Eu estou incluído porque fui eu que iniciei a época, não estou a retirar-me dessa equação. A culpa é de todos. Foi uma pré-época muito difícil, um mercado que foi difícil, o Paços de Ferreira é um clube que não tem investidor e quando vai para competir em termos de mercado tem mais dificuldade que os outros e isso é muito difícil. A construção do plantel também se arrastou um pouco e não era tão competitiva como depois do mercado de inverno, em que trouxemos jogadores mais enquadrados com o nosso campeonato, mais experientes e vieram acrescentar rendimento no imediato. Foram acontecendo muitas coisas que temos a noção de ser um objetivo falhado.”
-- Vai continuar no P. Ferreira na próxima época?
-- O meu objetivo é acabarmos com dignidade. Tenho mais um ano de contrato, mas não estou a pensar em mim neste momento. O meu pensamento é ser competitivo contra o Rio Ave e Braga e cairmos de pé. Quando cheguei, disse que não era este trabalho que ia definir a minha carreira enquanto treinador. Em Portugal temos muito a tendência de ser a morte de um treinador ou de um jogador se as coisas não correm bem. Não vejo as coisas dessa forma.
-- Mas tem estratégias para a próxima época na liderança da equipa?
-- Essa pergunta não deve ser feita a mim. Sou o treinador e tenho contrato. Estou aqui para trabalhar, dar o meu melhor e amanhã apelar ao orgulho dos jogadores. Essa questão não depende só de mim, depende da direção e terá de haver uma conversa para falar do projeto que se quer para o Paços de Ferreira. isso terá de ser perguntado a outra pessoa que não seja a mim. Estou aqui para trabalhar até que as pessoas me digam, continuamos ou não continuamos tendo contrato. Não consigo ter certezas de nada.
-- O que espera do jogo com o Rio Ave?
-- É uma boa equipa, fez um campeonato tranquilo. Os nossos jogadores têm toda a informação, vamos ter dificuldades, vamos defrontar uma equipa confortável, mas queremos acabar de forma honrosa este campeonato. Vamos lutar pelos três pontos.