Como pode vir a jogar o Manchester United de Rúben Amorim

INTERNACIONAL29.10.202417:20

Um exercício ao atual plantel dos 'red devils' antes do mercado de janeiro

Rúben Amorim chegou a 5 de março de 2020 ao Sporting. Frederico Varandas pagou 10 milhões de euros ao SC Braga para trazer o técnico, o mesmo valor que os leões recebem agora com a saída deste para o Manchester United, mesmo depois de dois campeonatos, duas Taças da Liga e uma Supertaça conquistada ao leme dos leões. É o valor da cláusula de rescisão, que os red devils, com a anuência de Amorim, depositam na conta bancária do emblema de Alvalade. Não deixa de parecer pouco para a maior figura do sucesso dos verde e brancos nos últimos anos.

Bruno Fernandes deixara Alvalade a 29 de janeiro, pouco mais de um mês antes. Raphinha, Thierry Correia, Bas Dost, Domingos Duarte, Jonathan Silva, Iuri Medeiros, Carlos Mané, André Pinto e Romain Salin, entre outros, tinham saído no início da temporada, ainda com Marcel Keizer, que antecedeu Silas (Leonel Pontes ainda fez a transição durante quatro partidas) e o atual treinador.

Se os primeiros meses foram sobretudo para conhecer mais profundamente os jogadores, com apostas em jovens como Eduardo Quaresma, Nuno Mendes e Matheus Nunes, no verão seguinte, no primeiro ataque ao mercado, foram garantidos Pedro Gonçalves, Bruno Tabata, Feddal, Nuno Santos, Adán e Antunes a título definitivo, e ainda João Mário, por empréstimo do Inter, Pedro Porro, do Manchester City, e Rúben Vinagre, do Wolverhampton, este com cláusula de compra obrigatória.

Paulinho – Tiago Tomás e Jovane iam fazendo a posição de avançado-centro; Sporar acabou emprestado ao SC Braga e depois ao Middlesbrough, antes de sair em definitivo, em 2022, para o Panathinaikos –, João Pereira e Matheus Reis completariam o leque de contratações na segunda janela, em janeiro. Wendell, Acuña, Matheus Pereira, Luciano Vietto, Rosier, Alan Ruiz e Battaglia foram transferidos.

Ao longo dos primeiros meses, Rúben Amorim foi-se libertando dos pesos pesados, eventualmente egos mais inflamados, abrindo espaço para jogadores mais próximos do perfil que desejava e também para a afirmação dos melhores da formação. Será esse o trabalho que o espera em Old Trafford, além da óbvia implantação de um 3x4x3 ao qual se agarrou desde os primeiros passos na carreira.

Um 11 do Manchester United em 3x4x3 (um exercício)

No Manchester United, a pressão será obviamente enorme, embora se tenha diluído a urgência de conquistar títulos, uma vez que Old Trafford se tornou um cemitério de treinadores no pós-Alex Ferguson. O mercado está fechado e Rúben terá de se ajustar ao que tem. Exatamente como aconteceu quando chegou a Alvalade.

Na baliza, André Onana não tem escapado a algum criticismo, mas as exibições ao serviço dos italianos do Inter são prova das suas capacidades: um guarda-redes competente entre os postes e com capacidade técnica para participar na primeira fase de construção, embora por vezes com excesso de confiança.

Com Leny Yoro à beira da recuperação depois da lesão na estreia, o técnico português tem pelo menos uma boa notícia no arranque. Se o francês de 18 anos ainda não estiver em condições, será talvez Lindelof a ocupar o posicionamento de central da direita. Acreditando-se que Rúben Amorim verá em Harry Maguire e Matthijs de Ligt soluções para o miolo, lembrando-se também da forma como os três defesas ajudaram muito ao crescimento de Coates, os cinco centímetros a mais do inglês, até tendo em consideração o rendimento do neerlandês nos últimos anos, poderão conferir-lhe inesperada primazia. No centro-esquerda, há o canhoto Lisandro Martínez, que compensa a baixa estatura com boa elevação, concentração e resiliência, e Luke Shaw, que, sendo uma adaptação, também poderá aí ser utilizado.

Na ala, à direita, surgem Dalot e Mazraoui. Talvez a maior capacidade de explosão do marroquino acabe por convencer o treinador, mas não é um dado adquirido. À esquerda, Malacia ainda recupera de lesão grave, Luke Shaw não convence propriamente e o jovem Harry Amass, de 17 anos, poderá rapidamente entrar na equação. Ou talvez levar o português a pensar em Álvaro Carreras mais cedo do que o previsto? Sem duvida, será uma posição a reforçar assim que possível.

Manuel, tu por aqui?

No meio-campo, Manuel Ugarte é um velho conhecido e homem de confiança, mesmo que o concorrente seja Casemiro, com todo o seu estatuto na equipa e no planeta futebol. E Amorim precisará de um 8. Que poderá ser Kobbie Mainoo, ao jeito de Matheus Nunes, ou Eriksen, mais como um João Mário.

Quem será o sacrificado?

É na frente, no trio de ataque, que poderão permanecer as maiores dúvidas. Bruno Fernandes deverá ser o mais indicado para fazer de Pedro Gonçalves, até para pôr em ação o remate forte de que dispõe e os passes que procuram zonas próximas do segundo poste. Depois, quem vestirá a pele de Trincão? Garnacho, destro que costuma jogar mais do outro lado? Os esquerdinos Diallo e Antony? O marfinense vinha a ser lançado por vezes por Ten Hag, enquanto o brasileiro é daqueles jogadores com ego tremendo e difícil de domar. Uma espécie que o técnico português tem conseguido evitar lidar com demasiada frequência. E Rashford? Onde acabará o inglês?

Aliás, Rashford é a grande dúvida. Com Hojlund e Zirkzee como opções para a posição 9, o que fará Rúben? O dinamarquês é um avançado de explosão – será que a experiência de Gyokeres o fará apostar na mesma linha nórdica –, o neerlandês mais um elemento de ligação, com requinte técnico, e o britânico um velocista com finalização cirúrgica.

O possível desenho de um Manchester United 'à Amorim'

Será que Amorim fará novamente aquele recuo no terreno que idealizou em Alvalade, tornando o Manchester United consistente atrás e ainda mais reativo na transição para a baliza contrária? Ou está disposto a abdicar de alguns princípios para adequar parte do modelo aos jogadores? Uma coisa é certa: o atual Sporting sólido, seguro de si e controlador demorou mais de cinco anos a construir. As dinâmicas demoram tempo. E é precisamente tempo que Rúben Amorim terá de começar a ganhar logo desde o início.