Clubes da Liga 2 podem ficar sem verbas de solidariedade da UEFA
Vitória, ao conseguir o apuramento para a fase de liga da Liga Conferência, deixa de ter direito ao mecanismo de solidariedade. Foto IMAGO

Clubes da Liga 2 podem ficar sem verbas de solidariedade da UEFA

FUTEBOL17.09.202407:50

Proposta que deve ser aprovada no próximo Comité Executivo, dia 24, em Praga, deixa decisão de distribuição por clubes da divisão inferior nas mãos dos do primeiro escalão

A UEFA aumentou substancialmente os valores do mecanismo de solidariedade, as verbas distribuídas aos clubes que não entram nas fases de liga das competições europeias, mas a nova proposta de distribuição em cima da mesa, e que poderá ser aprovada na próxima reunião do Comité Executivo, no dia 24, em Praga (Chéquia), contempla risco de deixar os clubes da Liga 2 — e de outros escalões secundários Europa fora — sem essas receitas.

A ideia subjacente ao mecanismo de solidariedade é promover a competitividade interna — ou seja, não permitir que os clubes que entram nas fases decisivas das competições europeias sejam desmesuradamente beneficiados. Assim, a UEFA reserva todos os anos uma parte das receitas dessas provas europeias para distribuir pelos clubes, tendo como principal objetivo o investimento no futebol jovem.

No último triénio, de 2021 a 2024, o bolo distribuído por esses clubes que não estiveram na fase de grupos das provas europeias foi de 140 milhões de euros. A Portugal, em 2022/2023, couberam 6,571 milhões, números divulgados pela Federação Portuguesa de Futebol — os valores da última época ainda não são conhecidos. Foram beneficiados 30 clubes, os que competem nos dois primeiros escalões, excetuando equipas B e, claro, os que tiveram acesso às fases de grupos das provas europeias (nessa época, Benfica, FC Porto, Sporting e SC Braga), cabendo 219 mil euros a cada um.

Mais do dobro do dinheiro

Para o novo triénio, que arranca esta época, esse bolo, como A BOLA anunciou no início de julho, aumentou para 308 milhões de euros — não só pelo aumento geral de receitas das provas europeias, mas também porque a UEFA passou a reservar 7 por cento das receitas totais para esse mecanismo de solidariedade, quando até aqui os 140 milhões de euros correspondiam a 4 por cento. Só que a UEFA, quando anunciou os novos prémios de Champions, Liga Europa e Liga Conferência, explicou que a forma como esse mecanismo de solidariedade seria distribuído só seria decidida mais tarde.

Foi a isso que se referiu Pedro Proença, presidente da European Leagues, entidade que junta quase todas as principais ligas europeias, e da Liga Portugal, no final de reunião do Board of Directors, na passada sexta-feira, no Dragão. A forma de distribuição dessa verbas foi um dos temas em destaque na reunião da European Leagues. E essa forma está praticamente fechada, sabe A BOLA, com uma proposta muito influenciada pela Associação Europeia de Clubes (ECA) que está prevista ir a votação no Comité Executivo do próximo dia 24 — haverá margem muito reduzida para que ainda possa ser alterada.

Nessa proposta, as cinco principais ligas europeias têm um teto de 10 milhões de euros cada para distribuir pelos seus clubes (que vão seguramente atingir) e o restante bolo, de 258 milhões, irá para as restantes federações, com a seguinte distribuição: 70 por cento do dinheiro será alocado em função do ranking da UEFA, através do qual Portugal pode esperar receber cerca de 6,5 milhões de euros; os restantes 30 por cento serão distribuídos com base nos resultados desportivos dos clubes de cada país que participam na fase de liga — e não entrando Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França nestas contas, Portugal pode ter expectativa de receber outros tantos 6,5 milhões de euros, assim as campanhas europeias de Sporting, Benfica, FC Porto, SC Braga e V. Guimarães correspondam às expectativas.

Pressão da ECA

Portanto, o bolo a distribuir dobra e em princípio (sempre dependente dos resultados europeus dos clubes portugueses e dos seus rivais) o valor que cabe a Portugal também. Mas não é líquido que cada clube (para a época que agora começa apenas 29, porque o V. Guimarães deixa de ter direito ao mecanismo de solidariedade, por ter entrado na fase de liga da Liga Conferência) passe simplesmente a receber o dobro, qualquer coisa como 450 mil euros.

Porque a ideia de que o dinheiro deve ser distribuído apenas por clubes dos primeiros escalões Europa fora sai reforçada, por insistência da ECA. Se até aqui essa distribuição dentro de cada país ficava à discrição das federações e das ligas, agora, na proposta que deve ser aprovada dia 24, determinam-se limitações e dá-se o poder aos clubes. Os 30 por cento correspondentes aos resultados desportivos ficarão em exclusivo para os clubes do primeiro escalão. Quanto aos 70 por cento do ranking, poderão ser redistribuídos por clubes da divisão inferior desde que três quartos dos clubes do primeiro escalão aprovem essa redistribuição.

Charlie Marshall, diretor executivo da ECA, explicou a ideia após reunião em Dublin (Irlanda), no início do mês. «No passado, não só aqui mas também noutros sítios, muito do dinheiro do mecanismo de solidariedade não ia para onde era mais necessário. Muitas vezes ia para clubes não profissionais, clubes fora da primeira divisão, quando o objetivo desse dinheiro é precisamente dirigir-se ao problema da competitividade», disse, citado pelo Irish Times, referindo-se a campeonatos em que alguns clubes conseguem sistematicamente importantes verbas pelas campanhas europeias e outros não, fosso que pode aumentar agora com o incremento geral de prémios.

13 clubes da Liga podem encaixar 1 milhão cada

Caso a proposta que está em cima da mesa seja aprovada no Comité Executivo de Praga, caberá então aos clubes do primeiro escalão definirem se os do segundo terão direito ou não a algumas verbas.

Essa decisão, em Portugal, teria de acontecer no seio da Liga. Caso os clubes do primeiro escalão rejeitassem essa possibilidade (para que avance terá de haver 75 por cento de votos a favor), e confirmando-se a expectativa de Portugal vir a ter direito a verba de 13 milhões de euros, os 13 clubes da Liga Portugal Betclic que este ano não tiveram acesso às competições europeias (excluindo portanto Sporting, Benfica, FC Porto, SC Braga e V. Guimarães) receberiam um milhão de euros cada um.

Claro que dois ou três descerão de divisão no final da época e gostariam de na temporada seguinte também ter direito a qualquer coisa, por isso é de admitir que possa ser encontrado algum compromisso. Certo é que só esses 13 poderão dividir o valor que vier dos resultados desportivos dos clubes lusos esta época — se forem mesmo 6,5 milhões de euros, cada um encaixará logo 500 mil euros, mais do dobro do que receberam em 2022/2023.

Depois, quanto ao valor do ranking, que também rondará os 6,5 milhões, pode ser distribuído de várias formas — desde ir todo só para os clubes do primeiro escalão, o que daria de novo 500 mil euros por emblema, perfazendo o tal milhão total para cada; a ir todo para os 16 clubes da Liga 2 (excluindo equipas B), o que daria 406 mil euros a cada. Ou por exemplo um compromisso intermédio, a distribuição desses 6,5 milhões em fatias iguais pelos 29 clubes da Liga, o que corresponderia a 225 mil euros para cada — os da Liga 2 receberiam mais 6 mil euros que em 2022/2023 e as verbas adicionais iriam todas para os 13 clubes do primeiro escalão, que encaixariam assim 725 mil euros cada de verbas da UEFA.

Se a proposta com o dedo da ECA for mesmo aprovada dia 24, preveem-se discussões acesas em Portugal nos próximos meses.