Benfica-Farense, 5-0 Benfica deixou promessas no ar de querer ter o destino nas mãos (crónica)
Ainda longe do desenho final, pela ausência de sete previsíveis titulares, as versões A e B apresentadas em Águeda por Roger Schmidt mostraram um Benfica com uma ideia de futebol agressivo e vertical, que prefere ir à procura em vez de ficar à espera. E revelaram-se ainda alguns talentos jovens que podem dar muito que falar…
Quem diria que, num jogo que acabou em 5-0 para o Benfica, o melhor em campo, à passagem do primeiro quarto de hora, tinha sido Samuel Soares, guarda-redes dos encarnados, que com três defesas de excelente nível, uma delas, a remate de Poveda (13) com selo de golo, mantivera as suas redes a zero e a sua equipa viva no jogo, sem mais sobressaltos? Na verdade, frente a um Farense armado pelo sempre astuto José Mota, muito ágil nas transições ofensivas, o Benfica começou por ter alguns problemas nas perdas de bola, com a equipa a partir-se e a desamparar o quarteto defensivo, fazendo lembrar muito momentos da época passada.
Porém, logo que a poeira assentou, Leandro Barreiro, que pensa rápido e executa melhor, começou a enturmar-se com Florentino, Aursnes assumiu-se como terceiro médio, surgindo em zonas interiores, e dando a ala a Carreras, Marcos Leonardo foi ganhando confiança na função de jogar de trás para a frente no apoio a Pavlidis, o grego cresceu em confiança e entrosamento. David Neres foi de menos a mais, colocando a equipa de Roger Schmidt cada vez mais perto do golo que haveria de aparecer numa meia distância forte mas defensável de Florentino, ficando o segundo da noite a cargo de Pavlidis – que nunca dá uma bola por perdida e mesmo sem integração coletiva, mostra-se agressivo na recuperação – após remate cruzado de Marcos Leonardo. Foi uma primeira parte agradável do Benfica, que soube ultrapassar as dificuldades iniciais colocadas pelos algarvios e recebeu boas indicações Leandro Barreiro e Pavlidis.
Para a segunda parte, Roger Schmidt fez o que costuma fazer: tirou onze e meteu outros onze, ou seja, o jogo foi outro. O treinador alemão temperou a juventude inquieta coma experiência de João Mário e Arthur Cabral e deve ter saído com mais dúvidas (das boas) do que com certezas. Por exemplo, será que Rollheiser, a espaços entusiasmante, dono e senhor de um potencial tremendo, é jogador para emprestar?
E que dizer do compatriota Prestianni que encara a baliza adversária sem qualquer espécie de vergonha e não se coíbe de dar uso a uma meia distância invulgarmente boa? Ou de Schjelderup, que está muito mais jogador, a quem não se pode dar uma nesga de terreno? E que dizer da ‘finesse’ de João Rego, que joga o futebol vertical que era apanágio de Rui Costa e é capaz de quebrar, com uma receção orientada, as linhas do adversário? Ou ainda de Gustavo Marques, que pelo que se viu tem lugar no plantel encarnado?
Enfim, se a primeira parte foi mais equilibrada, até porque o Farense esteve compacto e rigoroso, o segundo tempo, graças à irreverência que Schmidt mandou a campo, não teve períodos de tédio e passou num ápice. É certo que a procissão ainda no adro e o Benfica que vai entrar em campo em Famalicão não terá nada a ver com as versões A e B vistas em Águeda. Já a ideia de jogo pode ser a mesma. E se assim for, as notícias, para os lados da Luz até podem ser interessantes, porque este Benfica não fica à espera que as coisas aconteçam, faz com que aconteçam, o que, convenhamos, não é uma diferença de somenos.