Aquela memorável inspiração de Geny: a crónica do dérbi

Sporting-Benfica, 2-1 Aquela memorável inspiração de Geny: a crónica do dérbi

NACIONAL06.04.202423:55

Depois desta vitória, só um cataclismo roubará o título ao Sporting; dos erros de muitos aos preciosos detalhes de Rúben Amorim

Pela segunda vez, num espaço de menos de uma semana, o dérbi não desiludiu quem gosta, mesmo, de futebol e está para além do valor supremo da vitória do seu clube. Naturalmente que os sportinguistas estão mais felizes. Têm razões para isso. O Sporting garantiu uma vantagem tal na liderança do campeonato que, agora, só mesmo um cataclismo o impedirá de ser campeão. E mesmo que se admita que, neste jogo, em particular, teve a seu favor a decisiva inspiração de Geny Catamo, a verdade é que de uma maneira clara e consistente o Sporting tem mostrado, ao longo de toda a prova, ser a melhor equipa deste campeonato. Mais forte, mais consistente, mais regular e mais capaz.

Também se entende a desilusão dos benfiquistas. Afinal, a equipa teve coragem e convicção na maneira como encarou este jogo em Alvalade. Poderá, mesmo, ter sido a equipa que mais quis ganhar o jogo, fez por isso, lutou muito e esteve perto de virar aquele golo sofrido ainda no primeiro minuto. Mas há sempre que pensar seriamente na razão pela qual este Benfica volta a parecer melhor na exibição e pior no resultado.

O golo. Esse pequeno pormenor de ganhar quem mete a bola na baliza e não quem mais se aproxima da baliza ou da grande área do adversário. E, nesse tal pormenor, a verdade é que o golo sai mais barato ao Sporting e custa ainda muito caro ao Benfica.

Di María em disputa de bola com Matheus Reis. Foto FILIPE AMORIM/LUSA

NOVOS DADOS AOS 46 SEGUNDOS

É impossível saber-se o que cada um dos treinadores pensava encontrar na primeira fase deste dérbi, que tinha tudo para ser decisivo. Fosse o que fosse que pensaram, a verdade é que bastaram 46 segundos para se jogar com dados novos. O golo de Catamo, no primeiro minuto, que viria a ter a mais improvável das repetições nos últimos momentos do jogo, mudou, e muito, as circunstâncias. Talvez que, por isso, o Benfica se viu obrigado, desde muito cedo, a ser uma equipa com manifesta fome de golo. Talvez que por isso o Sporting se tenha tornado, desde logo, mais racional, pressionando muito alto o início de construção de jogo do adversário, mas logo recuando para posições próprias de uma expectativa de ação no contra ataque.

Cumpriu melhor o Sporting esse papel, porque o Benfica precisaria de mais qualidade no passe de profundidade e de mais competência na aproximação da baliza de Israel, para poder cumprir o seu.

OS ERROS E OS DETALHES

Em jogo de alta intensidade e de muita emoção à flor da pele, mais decisivos se tornaram os erros e os detalhes. Erros que começaram cedo, na larga contribuição da defesa benfiquista, que incluiu António Silva, Bah, Florentino e ainda Trubin, para o primeiro golo do Sporting e que continuaram em fases diferentes do jogo e que não deixaram, até, de contagiar Soares Dias, que interpretou a arbitragem, nos aspetos disciplinares, de forma demasiado livre. E tal como muito do jogo e do resultado se decidiu nos erros, também é verdade que se decidiu nos detalhes.

Um dos mais importantes esteve na capacidade de Rúben Amorim mexer no jogo. A entrada de Bragança trouxe uma decisiva estabilidade ao futebol do Sporting, numa fase em que a equipa muito precisava dela. Pelo inverso, a entrada de Arthur Cabral para o lugar do extenuado Tengstedt pareceu contrariar o interesse imediato do ataque do Benfica, que precisava de mais mobilidade e, com ela, mais profundidade.

Outro detalhe interessante e não menos influente, o de Rúben Amorim tomar decisões tão coerentes quanto surpreendentes, ao trocar, com grande àvontade, jogadores do seu trio de defesas mais recuados. Na Luz trocou os três e ontem trocou Gonçalo Inácio por Diomande. E sempre com resultados palpáveis e positivos.

No entanto, de detalhe já não se poderá falar, verdadeiramente, quando se chega ao fator exato que tudo decidiu neste belo jogo de futebol. E esse, não haja dúvida, foi a inspiração de Geny Catamo, que tornou memorável esta noite, não só para ele próprio, como para todo o universo sportinguista.