António Salvador tem 'killer-instinct' para treinadores
António Salvador, presidente da SAD do SC Braga (IMAGO)

António Salvador tem 'killer-instinct' para treinadores

NACIONAL21.08.202407:00

António Salvador não espera para mudar amanhã o que pode mudar hoje. Foi assim com Fernando Castro Santos, Rogério Gonçalves, Jorge Costa, José Peseiro, Jorge Simão ou Ricardo Sá Pinto, por exemplo. Paciência teve apenas com poucos treinadores. Sobretudo com Jesualdo Ferreira, Jorge Jesus, Domingos Paciência, Paulo Fonseca, Abel Ferreira e Carlos Carvalhal, claro. Com CC é um amor que já vai em dois divórcios e três casamentos. Que seja eterno enquanto dure, como diria Vinicius de Moraes...

Eleito presidente do SC Braga pela primeira vez a 24 de fevereiro de 2003, demorou menos de dois meses a afastar o seu primeiro treinador. Fruto de duas derrotas (1-2 no Bessa e 0-1 em casa com o Marítimo) e dois empates (0-0 na receção ao Gil Vicente e 1-1 em Guimarães) entre as jornadas 24 e 27 da Liga 2002/2003, caindo do 9.º para o 14.ºlugar, Salvador afastou o espanhol Fernando Castro Santos.

O espanhol Fernando Castro Santos foi o primeiro treinador da era Salvador (A BOLA)

O primeiro treinador escolhido por António Salvador foi António Conceição, embora de forma interina. Esteve no empate em Aveiro (2-2) com o Beira-Mar e, logo a seguir, entrou Jesualdo Ferreira, que estava sem trabalhar desde que, no final de novembro de 2002, saíra do Benfica.

Jesualdo durou três anos como treinador dos bracarenses e, sobretudo, como treinador de António Salvador. Nada menos de 122 jogos ao serviço dos guerreiros do Minho com um 5.º lugar em 2003/2004 e 4.ºs lugares em 2004/2005 e 2005/2006. Na época do meio esteve na luta pelo título até quase ao fim do Campeonato Nacional que o Benfica de Giovanni Trapattoni venceu.

Primeira grande escolha de António Salvador foi Jesualdo Ferreira (A BOLA)

Seguiu-se, no início de 2006/2007, a primeira passagem de Carlos Carvalhal pelo banco bracarense. Não foi, porém, muito prolongada. Apenas 13 jogos (6 vitórias, 2 empates e 5 derrotas). Quando Carvalhal saiu, os bracarenses eram oitavos na Liga.

A época 2006/2007 não terminaria sem que o SC Braga tivesse mais dois treinadores: Rogério Gonçalves e Jorge Costa (sim, esse). O primeiro fez 14 jogos e levou a equipa até ao 5.º lugar. Porém, a derrota fora de casa frente ao Leiria de Domingos Paciência (0-1) ditou o fim da ligação de Rogério Gonçalves. O seu substituto foi o seu adjunto: Jorge Costa.

O agora diretor do futebol do FC Porto terminou a época com os bracarenses no 4.º lugar, mas durou apenas os três primeiros meses de 2007/2008, deixando o SC Braga na 8.ª posição. Jorge Costa, entre Liga, Taça de Portugal, Taça da Liga e Taça UEFA, durou 29 jogos nas mãos de Salvador.

Seguiu-se o interino António Caldas. Perdeu 0-3 em casa do Leixões e ganhou na Pedreira por 3-0 ao Sporting. E não resistiu mais. Entrou Manuel Machado. Que esteve 24 jogos no comando da equipa. Andou pelo 6.º lugar, mas, fruto de empate com Leixões (0-0) e derrota com Leiria (0-1) em casa e derrotas em Alvalade (0-2) e nos Barreiros (1-4), o treinador decidiu abdicar. A finalizar 2007/2008, de novo António Caldas: vitórias caseiras sobre Paços de Ferreira (2-1) e Académica (2-1) e empate no Bessa (0-0).

António Salvador foi, então, buscar Jorge Jesus ao Belenenses. A época não foi particularmente brilhante, pois os bracarenses terminaram na 5.ª posição, atrás de FC Porto, Benfica, Sporting e Nacional. Luís Filipe Vieira iria buscar Jorge Jesus ao SC Braga e António Salvador contratou o homem que levaria a equipa a duas brilhantes temporadas: Domingos Paciência.

Em 2008, António Salvador foi buscar Jorge Jesus ao Belenenses (A BOLA)

Em 2009/2010, esteve na luta pelo título até ao fim e terminou no 2.º lugar a cinco pontos do campeão Benfica. Na época seguinte, a de 2010/2011, ficou na 4.ª posição, atrás dos chamados três grandes, mas o grande momento aconteceria na Liga Europa, com a presença na final da prova (0-1 com o FC Porto de André Villas-Boas).

Domingos Paciência saiu para o Sporting e António Salvador foi contratar Leonardo Jardim, que estava sem trabalho desde que saíra do Beira-Mar. Terceiro lugar no bolso no final de 2011/2012 a apenas três pontos do Sporting.

Domingos Paciência levou o SC Braga à única final europeia da história dos guerreiros (A BOLA)

Jardim saiu para o Olympiakos por desacordo com Salvador e este foi buscar José Peseiro, que estivera seis anos no estrangeiro (Al Hilal, Panathinaikos, Rapid Viena e Seleção da Arábia Saudita) e estava sem trabalhar há cerca de um ano. Os bracarenses ficaram no 4.º lugar, a dois pontos do Paços de Ferreira e com uma Taça da Liga para o museu do clube. O primeiro troféu da era Salvador, se excluirmos a Taça Intertoto de 2008, que teve mais 10 vencedores (Aston Villa, Corunha, Estugarda, Rosenborg, Nápoles, Rennes, Vaslui, Elfsborg, Grasshopper e Sturm Graz).

No início de 2013/2014, um regresso: Jesualdo Ferreira, depois de curta passagem pelo Sporting, voltava a Braga para suceder a José Peseiro. Não foi um regresso brilhante. Jesualdo Ferreira sairia em fevereiro de 2014, após 30 jogos, eliminado pelos romenos do Pandurii no play-off da Liga Europa e não resistindo aos resultados dos últimos três jogos: 1-2 com o Rio Ave na meia-final da Taça da Liga, 1-2 na Amoreira e 2-2 em casa com o Arouca, ambos para a Liga. Com o SC Braga na sétima posição da Liga, Salvador interrompeu os três anos de contrato de Jesualdo Ferreira e colocou Jorge Paixão para os 12 jogos que faltavam para o final da época.

Depois apostou em Sérgio Conceição, que terminara 2012/2013 no 8.º lugar com a Académica. Na época seguinte, 2014/2015, o SC Braga voltou à quarta posição e à final da Taça de Portugal, perdendo-a para o Sporting no desempate por penáltis (2-2 e 1-3). Conceição saiu em conflito com Salvador e este contratou Paulo Fonseca ao Paços de Ferreira para atacar 2015/2016. Terminou, de novo, no 4.º lugar, mas com mais um troféu no bolso, a Taça de Portugal, ganha ao FC Porto no desempate por grandes penalidades (2-2 e 4-2), 50 anos depois da última vitória na prova.

António Salvador abraça Sérgio Conceição após a derrota na final da Taça de Portugal de 2014/2015 (A BOLA)

António Salvador manteve José Peseiro para 2016/2017, mas só até dezembro. Após a eliminação da Taça de Portugal, na Pedreira, frente ao Covilhã (1-2) e apesar de estar no 4.º lugar a dois pontos do FC Porto (2.º), Peseiro rescindiu e entrou o interino Abel Ferreira, que depressa seria substituído por Jorge Simão. Durou 21 jogos e deixou o SC Braga no 5.º lugar.

Abel Ferreira voltou a ser promovido e ficaria até ao final de 2018/2019. Dois quartos lugares para o atual treinador do Palmeiras. A 30 de junho de 2019, os gregos do PAOK pagam 2 milhões de euros ao SC Braga e levam Abel Ferreira.

Salvador vai buscar Ricardo Sá Pinto, que fora despedido do Legia Varsóvia. A relação não dura mais de quatro meses, pois em dezembro de 2019, após 30 jogos no comando da equipa, Sá Pinto sai e é substituído por Rúben Amorim. O qual, apenas dois meses e 13 jogos depois, aceita a proposta do Sporting e deixa o SC Braga.

Seguem-se seis jogos de Custódio Castro e quatro de Artur Jorge, até que Carlos Carvalhal regressa pela primeira vez, agora para o início de 2019/2020. Fica 104 jogos no comando do SC Braga. Termina 2020/2021 no 4.º lugar da Liga e com a Taça de Portugal no bolso (2-0 ao Benfica de Jorge Jesus). A época é concluída na mesma 4.ª posição e com a presença nos quartos de final da Liga Europa, eliminado pelo Rangers (1-0 e 1-3). Carvalhal pediu a António Salvador, no final da época, para sair e saiu.

O presidente do SC Braga decidiu, então, voltar à prata da casa e chamou, de novo, Artur Jorge, que realizara os últimos cinco jogos de 2019/2020. A equipa termina 2022/2023 no 3.º lugar e, em novembro de 2023, o treinador estende o contrato até 2025. Ganha em janeiro de 2024 a Taça da Liga ao Estoril (1-1 e 5-4 no desempate por penáltis), mas no início de abril, com a equipa no 4.º lugar, aceitou o convite do Botafogo para ser treinador com efeito imediato.

Todos os treinadores do SC Braga com António Salvador

Mal tomou conhecimento da saída de Artur Jorge para o Botafogo, António Salvador virou-se para Daniel Sousa, então treinador do Arouca e antigo adjunto de André Villas-Boas no Zenit, Shanghai SIPG e Marselha. O acordo imediato dependeria de uma compensação financeira para o Arouca a rondar o milhão de euros. O presidente dos guerreiros, porém, preferiu esperar pelo final da época para contratar Daniel Sousa, evitando, assim, gastar aquela verba.

As últimas sete jornadas de 2023/2024 foram, então, assumidas por Rui Duarte, que saltou dos sub-23 do SC Braga. Três derrotas (0-3 com Arouca, 1-3 com o Benfica e 0-1 com o FC Porto) e quatro vitórias (1-0 ao Estoril, 2-1 ao Vizela, 4-3 ao Casa Pia e 3-2 ao Guimarães). Entrou com os guerreiros no 4.º lugar a dois pontos do FC Porto e com vantagem de três sobre o V. Guimarães e deixou a equipa na mesma posição, a quatro pontos dos dragões e com vantagem de cinco sobre os vimaranenses.

Daniel Sousa seria, em termos formais, o sucessor de Artur Jorge. Mas durou apenas quatro jogos no comando do SC Braga: 2-0 e 5-0 ao Maccabi Petah Tikva na 2.ª pré-eliminatória da Liga Europa, 1-1 com o Estrela da Amadora na primeira jornada da Liga e 0-0 em casa com o Servette, para a 3.ª pré-eliminatória da Liga Europa. Foi anunciado como técnico bracarense a 24 de maio e despedido a 11 de agosto. Durou 79 dias.

Dois anos e três meses depois de ter saído do SC Braga (16/05/2022; 12/08/2024), Carlos Carvalhal regressou para substituir Daniel Sousa. Andara pelo futebol dos Emirados Árabes Unidos), pelo espanhol (Celta de Vigo) e pelo grego (Olympiakos) e voltou para, segundo disse, demorar dois minutos para aceitar o convite de António Salvador. Entrou e foi ganhar por 2-1 a casa do Servette. Durará quanto tempo nas mãos de António Salvador?

O olho incrível para escolher

Se António Salvador tem pouca paciência para os maus resultados, tem olho incrível para escolher treinadores que se tornam, mais tarde, campeões nos mais diversos países. Contratou Jesualdo Ferreira em 2003 e JF foi tricampeão no FC Porto. Contratou Jorge Jesus em 2008 e JJ ganhou três campeonatos no Benfica, um no Al Hilal, um no Flamengo e ainda uma Taça dos Libertadores.  Contratou Leonardo Jardim em 2011 e LJ foi campeão por Olympiakos, Mónaco, Al Hilal e Shabab Al Ahli. Contratou José Peseiro em 2012 e JP foi campeão pelo Al Ahly. Contratou Sérgio Conceição em 2014 e SC venceu três campeonatos no FC Porto. Contratou Paulo Fonseca em 2015 e este foi tricampeão pelo Shakhtar. Contratou Abel Ferreira em 2016 e AF ganhou dois campeonatos brasileiros e duas Taças dos Libertadores no Palmeiras. Para já. Contratou Ricardo Sá Pinto em 2019 e RSP foi campeão pelo APOEL. Contratou Rúben Amorim em 2020 e RA ganhou dois campeonatos no Sporting. Pelo meio, Domingos Paciência chegou a uma final da Liga Europa pelo SC Braga...