Análise: As bolas paradas cada vez pesam menos

Liga Análise: As bolas paradas cada vez pesam menos

NACIONAL16.07.202321:49

As bolas paradas têm cada vez mais importância no futebol moderno pois são elas que, muitas vezes, decidem jogos que se encontravam amarrados. Certo? Pois esta ideia feita, e por muitos aceite, parece não estar a funcionar no futebol português, pelo menos no que respeita ao seu principal campeonato, onde as coisas não serão de todo tão evidentes.


A BOLA foi pesquisar a forma como foram marcados os golos na última edição da Liga e ao conferi-la com as anteriores cinco temporadas, a conclusão é bem cristalina e não deixa margem para dúvidas: tirando da equação os penáltis (lances de bola parada mas com características diferentes e que deixamos de fora nesta análise) o total de golos obtidos a partir deste tipo de jogadas - livres diretos e indiretos, pontapés de canto e até lançamentos de linha lateral - vem encolhendo sistematicamente de ano para ano. E basta comparar as épocas 2017/2018 e 2022/2023 (ver quadro à parte) para constatar que a diminuição foi drástica e bem conclusiva: marcaram-se menos 30 por cento (!) de golos a partir dos tais lances de bola parada e dos 185 apontados seis temporadas atrás chegamos tão-somente aos 120 obtidos em 2022/23.


As explicações podem ser múltiplas e até se adicionam. Trabalha-se defensivamente melhor este tipo de lances de laboratório com as defesas progressivamente mais bem preparadas e eficazes para os contrariar ou, pelo contrário, começa a notar-se a crescente escassez de especialistas de bola parada no futebol português?


Analisando com mais detalhe saltam de imediato os números dos pontapés de livre direto. Apenas 10 tiveram sucesso nos 306 jogos da última Liga (40 por cento menos que os conseguidos em 2017/18!) - e 12 das 18 equipas não conseguiram qualquer remate com êxito, incluindo-se entre elas o vice-campeão FC Porto e o Sporting, ambos somando redondo zero. Aliás, apenas um jogador marcou por duas vezes através destes castigos, o benfiquista Grimaldo que, lá está, na próxima época já não poderá mostrar nos relvados nacionais os atributos que lhe eram reconhecidos.


Mas também os livres indiretos pesam cada vez menos no total de golos obtidos, com pouco mais de metade dos conseguidos em 2017/18 e 2018/19. Só por curiosidade, referira-se que o campeão nacional Benfica apenas marcou assim por uma vez no campeonato e só na penúltima jornada, em Alvalade, com João Neves a fazer a igualdade que escancarou o título para as águias. E nem os pontapés de canto escapam a esta tendência de menor eficácia, com as últimas três épocas a apresentarem valores muito menores comparativamente com as três temporadas anteriores.


Quanto a marcadores - e descontando a presença do benfiquista Jonas, perito que em 2017/18 apontou sete golos de bola parada (um livre direto, dois de livre indireto e quatro pontapés de canto) - são defesas-centrais a surgirem maioritariamente no topo das listas das várias épocas, mas com números bem menos salientes, nomeadamente na última Liga, na qual António Silva (melhor marcador da prova a partir de pontapés de canto, com três golos), Sasso, Niakaté e Anderson Jesus lideraram a tabela.


Com a época 2023/24 na incubadora, já falta pouco para sabermos se esta tendência será para continuar…

Veja os quadros: