Ambição em toda a linha: tudo o que disse Sérgio Conceição
Sérgio Conceição fez a antevisão do jogo contra o Chaves

Ambição em toda a linha: tudo o que disse Sérgio Conceição

NACIONAL28.12.202314:46

Numa longa conferência de antevisão do jogo com o Chaves, treinador do FC Porto falou do mercado, do foco da equipa, da saída de Veron e, claro, deu os parabéns a Pinto da Costa

Os 86 anos de Pinto da Costa

«Desejo de muita saúde, que tenha muitas felicidades, desportivas e pessoais, é admirável uma pessoa com tantos títulos que pensa no próximo como se fosse o primeiro, isso diz muito da sua personalidade. Tem sido um incrível trajeto de conquistas baseado nos quatro pilares de que tanto fala: rigor, competência, ambição e paixão, isso com ele é inegociável.»

As expectativas para o jogo contra o Chaves, último classificado da Liga

«Com 1-0 já ficaria feliz, a vitória é o mais importante. Obviamente que queremos associar algumas coisas que não temos feito e queremos fazer, mas isso não é por ser o Chaves, é algo que faz parte do nosso trabalho diário. Melhorar, evoluir os jogadores e, com isso, a equipa ganha e fica mais forte em todos os momentos do jogo. É isso que queremos. Fico sempre desconfiado com as equipas em dificuldade. Lembro-me de receber o Farense que estava em dificuldade, o Estoril também, e sempre disse que o Chaves é uma equipa muito bem apetrechada a nível de jogadores. Têm qualidade. Noutras épocas conseguiram quase um Chaves europeu. Não acredito em maus momentos. Cada jogo tem a sua história, a sua vida, e será com certeza difícil. Queremos acabar o ano com uma vitória, que é algo que faz parte da caminhada no nosso objetivo que é o campeonato.»

A importância de voltar às vitórias, depois da derrota na Liga contra o Sporting.

«A importância dos três pontos é óbvia. Estamos atrás do Sporting e temos de ir à procura de retificar pontos que já foram perdidos. A importância é grande. Em relação ao Chaves, não vamos nisso. O trabalho e a preparação são sempre os mesmos, a seriedade é sempre a mesma, mesmo contra equipas de escalões inferiores. A preparação foi a mesma. Os jogadores veem que há total seriedade e não há facilitismos para ninguém, depois, claro, podemos  correr o risco de ter dissabores que não queremos.»

Mais foco contra equipas menos cotadas.

«Sobre o foco e concentração que as equipas quando jogam contra o FC Porto têm, não podemos perceber ou adivinhar, faz parte do trabalho semanal. Sei que os jogadores ficam sempre, e não deveria ser assim, super motivados num estádio com 50 mil pessoas. Com essa motivação vem o foco, a motivação, o brilho no olhar que também queremos que os nossos atletas tenham sempre. Mesmo contra 10, na Taça da Liga, tivemos algumas dificuldades em fazer golos. As equipas organizam-se bem, metem muitos jogadores no último terço defensivo e isso cria uma dificuldade natural para desbloquear a organização. Estão bem organizadas, super motivadas para não sofrer, e por isso tudo - e não só - temos de estar atentos. Temos de olhar para o Hector, para o Sanca

As ausências de Taremi e Zaidu na Taça da Ásia e CAN, respetivamente.

«Quando digo e disse que o Taremi não é só golo, é exatamente por isso. É por tudo aquilo que dá à equipa com e sem bola. É extremamente inteligente na ocupação do espaço, cria situações para a equipa que para o adepto não são tão visíveis por não ter sido ele a concluir a jogada ou a fazer a assistência. Faz um trabalho que para nós é importante. Estamos três pontos atrás do Sporting, saímos da Taça da Liga e agora temos de olhar para o campeonato, para a Taça de Portugal e para a Liga dos Campeões. Também fomos eliminados pelo Inter, que foi finalista, e este ano conseguimos o acesso aos oitavos, algo bom para o clube a todos os níveis. Nem tudo foi bom, mas há muita coisa positiva. É para isso que olho. Para um Taremi que é importante na equipa e para uma ausência que vamos ter que ter, a dele e a do Zaidu. Cabe-me encontrar soluções, nuances, variações. Já as trabalhámos e fazemos, mas depende da estratégia para o jogo. Amanhã contra o Chaves poderão encontrar algo diferente já, faz parte do nosso trabalho. Vamos ficar sem dois jogadores que têm tido muitos minutos este ano.»

Frustrações em 2023 e ambições para o próximo ano

«As frustrações são os jogos que perdemos e que fizeram com que a equipa não conquistasse determinado título. Tivemos um ou outro dissabor o ano passado, depois olhamos para o jogo contra o Gil Vicente em casa por exemplo, que fica uma amargura grande. Mas faz parte, há momentos frustrantes. As ambições são sempre as máximas, em todas as provas. A ambição de ganhar todos os jogos está lá, depois o que vamos conseguir ou não entra um bocadinho no que disse antes. Faz parte.»

O peso da distância para o Sporting e das lesões de jogadores experientes.

«É isso que procuramos. Ano após ano, dia após dia, há um recomeçar constante. Lesões, uma ou outra saída... Não estou a lamentar a saída de jogadores. Otávio, Uribe eram jogadores experientes, Pepe é experiente, Marcano também mas está fora... Têm ou tinham um peso grande. Vamos dando coisas diferentes à equipa, mas começa-se uma época e depois até nos particulares que fazemos há logo aquela exigência dos adeptos, da comunicação social. Não temos 'superstars', temos atletas que se dedicam muito à causa, que encaixam nos pilares que o presidente defende, e é isto. Não temos a varinha mágica, mas tentamos com muito trabalho e dedicação lutar pelos objetivos todos os anos. É sempre difícil, há sempre dificuldades diferentes. Vamos ter campeonato até ao fim, com as quatro principais equipas a lutarem por esse objetivo. Na Taça temos um jogo difícil com o Estoril e queremos retificar o jogo da Taça da Liga. Somos apaixonados pelo clube e pelo que fazemos.»

Está o campeonato mais nivelado por baixo esta temporada?

«É uma questão que, depois do jogo com o Leixões, fiquei a tentar perceber. Olhando para os anos passados, tivemos em diferentes momentos equipas vencedoras. O FC Porto nos anos 80/90, no tempo do Benfica e do Simões, Coluna, Eusébio, dos Cinco Violinos do Sporting, que faziam parte da Seleção Nacional, estavam muitos anos os mesmos jogadores a lutarem por títulos. Sou de uma equipa do FC Porto onde a base era toda da formação. Hoje em dia, os jogadores bons, os menos bons, os mais ou menos, é muito mais fácil. É muito mais fácil um jogador de Rio Ave, Famalicão ou Arouca estar no FC Porto do que antigamente. É muito difícil guardar os melhores durante três ou quatro anos. Se conseguíssemos, estaríamos a ombrear com os grandes tubarões da Europa. Assim é muito mais difícil. Hoje em dia um miúdo chegar à primeira equipa é fácil. Eu andei três anos emprestado na 2.ª divisão, e disseram-me que só vinha fazer pré-época. Há muito equilíbrio. Hoje em dia está muito nivelado, a maior parte do nosso plantel e das nossas aquisições, dois ou três do Santa Clara, Famalicão, Taremi do Rio Ave... Já estão a pensar 'ui, que conferência de luxo'. O meu pensamento é algo que já partilhei com os jogadores e estou a partilhar convosco. E isto faz com que as equipas consigam equilibrar os jogos. Jogando contra um V. Guimarães, um Rio Ave, que não lutam pelo mesmo objetivo que nós... Se eu não conhecesse o campeonato, trocava as camisolas e não via grande diferença. Há dois ou três que se nota a diferença, claro. Há qualidade, as equipas técnicas estão muito mais bem preparadas, todas. Trabalham bem. E depois há isto que acabei de dizer em tom de desabafo.»

Reajustamentos no plantel em janeiro

«Sabem o que digo sempre vamos entrar num período aberto demasiado tempo, esses ajustes são uma conversa que eu tenho com o presidente para definirmos o melhor para o FC Porto. O meu sentimento é quando se mexe é pior, a janela de inverno devia servir para reajustes por algumas razões, como a lesão do Marcano, mas saírem 3 ou 4 não me parece o melhor porque vai dar sempre problemas. Ou têm qualidade inequívoca para entrarem de caras… ou o tempo de adaptação vai coincidir com as férias. Não temos arcaboiço para ir buscar essa grandes estrelas, muitas vezes é melhor confiar no grupo, como confio, pode haver um ou outro ajuste, acho que é necessário.»

A cedência de Veron ao Cruzeiro

«É um jogador de qualidade, por isso é que o FC Porto o contratou, contudo, não fez, nesses 26 jogos, um jogo completo. Esteve sistematicamente lesionado. Temos um departamento médico, preparadores físicos, que trabalham muito bem a recuperação dos jogadores, e depois cabe ao jogador também dar resposta. Controlamos o jogador duas ou três horas, mas depois há um treino invisível, têm de se tratar mais, têm de ser mais profissionais. A nossa concentração é às 9.15 horas, às 7.50 horas tenho jogadores no Olival. Cada vez o futebol é mais rápido, mais intenso, há mais jogos por época. Por uma razão ou outra, o Veron teve a infelicidade de se magoar muitas vezes. Quando recuperava, magoava-se depois de um treino com mais intensidade, um jogo de 5 ou 10 minutos magoava-se. Cabe-lhe, com este novo passo na carreira, preparar-se bem e justificar toda a qualidade e o investimento que o FC Porto fez nele.»

O caso David Carmo e as fugas de informação. 

«Em relação ao David Carmo, está a treinar e poderá competir. «Lembro-me que, há uns anos, existia o senhor Manuel Barbosa como empresário. Hoje em dia, um jogador tem cinco. O principal, o que trabalha a imagem, a comunicação... Não tenho nada contra isso, até porque joguei fora durante muitos anos e muitas vezes o meu empresário não me via durante anos. Acho que empresários fazem bem ao futebol para aquilo que é o bem do jogador, encontram soluções. Mas também traz coisas negativas. É muito difícil controlar ou bloquear determinadas situações dentro do Olival. As pessoas falam com muita gente. As pessoas que trabalham, os jogadores, os diferentes departamentos. É o que acontece hoje, o futebol está diferente.»

Contra o Leixões jogou em 4x3x3 e aproveitou melhor o Francisco Conceição, que atravessa um grande momento de forma. É uma fórmula para atenuar a crise de golos na Liga?

«Em relação ao Francisco, no último jogo a opção em termos estratégicos foi essa. Não é por se ter mais avançados que se faz mais golos ou por defender com mais que não se sofre. O que interessa é a dinâmica. Francisco e Pepê são diferentes de Galeno e Iván Jaime, por exemplo. Já jogámos em 4x2x4 mas não é minha intenção fazê-lo para já. Mas é uma solução até no decorrer dos jogos. O Francisco tem o seu espaço muito bem definido, o Galeno igual, e há outros jogadores que dão coisas diferentes. Nessa estratégia, escolherei sempre um onze para ganhar independentemente de se chamar Francisco, Manuel, António ou Joaquim. Para mim é exatamente igual.»