Adeus do gladiador
Na arena, pelo FC Porto ou pela Seleção, Pepe honrou ambas as camisolas como poucos. Não é português de gema, mas é como se fosse, tal a forma como sempre defendeu as 'quinas' ao peito
Kepler Laveran Lima Ferreira, vulgo Pepe, decidiu pendurar as botas aos 41 anos, numa decisão precipitada pelo facto de a atual estrutura do futebol profissional entender que não tinha espaço no plantel azul e branco, mercê da sua idade e do novo paradigma que se tornou a aposta no ouro da casa. Uma situação que certamente terá deixado o internacional português desgostoso, pelo menos a avaliar pelo discurso que teve no vídeo que promoveu nas redes sociais ao anunciar a sua retirada.
André Villas-Boas deixou a porta aberta do Dragão para que o ex-capitão pudesse integrar a estrutura do clube noutras funções, mas parece haver um certo distanciamento entre as partes, tanto mais que Pepe sempre foi muito próximo de Pinto da Costa e Sérgio Conceição e, durante a campanha eleitoral, o anterior presidente chegou mesmo a anunciar publicamente ter acordo com o defesa-central para continuar mais uma época.
Com um currículo invejável, onde se conta 1 Europeu, 1 Liga das Nações, 3 Ligas dos Campeões, 2 Mundiais de Clubes, 1 Taça Intercontinental, 1 Supertaça Europeia, 3 Ligas espanholas, 3 Supertaças espanholas, 2 Taças do Rei, 4 Ligas portuguesas, 5 Taças de Portugal, 4 Supertaças portuguesas e 1 Taça da Liga, Pepe foi não só um dos maiores defesas-centrais portugueses – quiçá o melhor mesmo – como também entrou na galeria dos notáveis a nível mundial do eixo defensivo.
Chegou a Portugal no início do século, ainda menor de idade, para rumar ao Marítimo, praticamente com uma mão à frente e outra atrás e com apenas cinco euros no bolso, que usou para telefonar à mãe a garantir que tinha chegado a solo luso são e salvo. Sem dinheiro para comer, pediu a um funcionário de restaurante no aeroporto para lhe matar a fome e foi bem sucedido. Esse gesto marcou-o para toda a vida e daí em diante prometeu total gratidão ao nosso país, tornando-se um cidadão nacional, ele que casou com uma portuguesa e temtrês filhos.
Idolatrado por uns, odiado por outros, Pepe foi sempre um monstro dentro das quatro linhas e também aí, na sua arena predileta, que mostrou dotes de gladiador, expulsando sempre os adversários da sua área de jurisdição, com enorme altivez e uma raça própria que encarnou desde que assinou pelos dragões. Desafiou sempre os limites, cuidou do físico como ninguém e a nível profissional fazia ver aos mais novos o que é a dedicação a uma casa, a um clube, a uma Seleção Nacional. Torna-se uma L3nda de forma precoce, ele que deu variados exemplos de enorme superação, destacando a final do Europeu com a França, em que fez uma exibição superlativa.
Teve propostas para prosseguir carreira em várias latitudes, desde o Brasil, Europa e Arábia Saudita, onde lhe oferecia um ordenado principesco, mas entendeu por bem que não seria justo terminar a carreira que não fosse ao serviço do clube do coração: o FC Porto. E fê-lo como vencedor, ao ganhar a Taça de Portugal. Sonhava repetir a vitória no Europeu por Portugal, o que seria uma saída em glória. Não a teve, mas merecia. Obrigado Pepe pelo que deste a Portugal. E por tudo isso, mereces uma homenagem de todo o universo portista no Dragão. Basta quereres...