A versão desconhecida de Schmidt
Roger Schmidt no Inter-Benfica. Foto: Miguel Nunes/ASF

A versão desconhecida de Schmidt

NACIONAL05.10.202313:00

Em menos de dois meses o treinador do Benfica mostrou firmeza na gestão de dois casos de balneário; de Vlachodimos a João Victor, recordando o drama com jovem do PSV ligado ao mundo do crime

Uma das características da gestão de Roger Schmidt enquanto treinador muito elogiada pelos jogadores é o lado humano, a relação que o alemão cria com cada um dos seus homens, promovendo conversas individuais frequentes. «Para mim, o mais importante é a personalidade do treinador. Os outros fatores não têm um papel tão importante», disse o médio internacional alemão Mário Gotze  (já foi alvo do Benfica) citado numa entrevista à Kicker.

Mas também desde que está no Benfica vários atletas têm elogiado a personalidade do técnico e a importância que a relação de cumplicidade que alimenta tem para jogadores como, por exemplo, David Neres, que necessitam de acompanhamento próximo para que rendam o máximo.

«Divertimo-nos [os jogadores] bastante porque há grande liberdade dentro de campo. Obviamente que temos um compromisso tático com o míster, mas ele dá-nos muita liberdade para colocarmos as nossas capacidades e características em campo. Isso faz toda a diferença, não há um regime tático. Com o passar dos jogos, com grandes exibições vais crescendo cada vez mais, acreditando cada vez mais, acho que esse é o nosso segredo», sustentou, por exemplo, João Mário, numa entrevista que deu à UEFA no início do mês.

Porém, Roger Schmidt não admite ingerências no seu trabalho nem que o confrontem de forma inadequada. Quer todos a remar para o mesmo lado e reage com determinação quando deteta um sinal do contrário. Foi o que sucedeu esta época e em menos de dois meses, com Vlachodimos no início de agosto passado e, nos últimos dias, com João Victor. Dois episódios, de natureza e gravidade diferentes, mas nos quais o treinador mostrou firmeza na liderança.

Em relação ao guarda-redes internacional grego, que entretanto se transferiu, em agosto passado, para os ingleses do Nottingnham Forest, houve mesmo conflito.

Os dois falam alemão e Vlachodimos confrontou Schmidt com as declarações críticas do treinador na conferência de Imprensa depois do jogo com o Boavista, no qual o guarda-redes fez uma exibição fraca. Em consequência da discussão, Vlachodimos não só perdeu a titularidade para o jovem Samuel Soares no jogo seguinte, com o E. Amadora – alteração que, explicou Schmidt, já estava pensada –, como perdeu a titularidade e não voltou a jogar mais pelo Benfica. Entretanto foi contratado para número 1 da baliza o ucraniano Trubin.

O caso de João Victor é diferente e, que se conheça, não configura caso disciplinar, não houve discussão sequer. O defesa-central não se aplicou nos treinos como Roger Schmidt desejaria e, depois de ter mandado o brasileiro recolher ao balneário mais cedo que os outros, no treino de sábado passado, não convocou o defesa para a viagem a Milão, onde a equipa jogou e perdeu com o Inter na terça-feira passada, por 0-1, para a Champions. João Victor ficou em Lisboa a treinar-se sozinho.

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Segundo apurámos, está previsto que João Victor volte a ser reintegrado nos próximos (a equipa volta a treinar-se sexta-feira, após gozo de folga) e é suposto o caso ficar encerrado. Mas é muito forte a possibilidade do jogador ser negociado em janeiro, não apenas, mas também por causa do comportamento que não tem agradado a Schmidt.

Ou seja: o treinador alemão sabe ser o melhor amigo dos jogadores, mas também mostra mão firme na gestão do grupo. A prová-lo estão estes dois episódios que sublinham a personalidade profissional de Schmidt.

Roger Schmidt, aliás, já anteriormente tinha mostrado este traço de personalidade. Em 2021, quando treinava os neerlandeses do PSV e afastou dos trabalhos da equipa Mohamed Ihattaren, jovem e muito promissor atacante, mas problemático - o neerlandês entretanto está sem clube, aos 21 anos, suspeito de ligações ao mundo do crime. Ihattaren faltou a treinos, teve problemas com o peso e de atitude; Schmidt procurou ajudar o jovem até atingir o limite.

«Todos nós queremos ajudá-lo e oferecemos nosso apoio, mas não é uma via de sentido único. Não conseguimos mudar as pessoas, só as pessoas se podem mudar a elas próprias», disse Schmidt, na altura.