TAÇA LIBERTADORES A cor do dinheiro numa final a preto e branco

Alvinegros Botafogo, em busca de troféu inédito, e Atlético Mineiro, à procura do bis, investiram milhões para chegar à final. E descobriram ótimos gestores, os treinadores Artur Jorge e Gabriel Milito. O português quer repetir proezas de Jorge Jesus e Abel Ferreira

Depois de Jairzinho, glória do Botafogo dos anos 60 e 70, e Diego Tardelli, herói do Atlético Mineiro nas últimas décadas, entrarem em campo com o troféu da Libertadores nas mãos perante os cerca de 70 mil adeptos aguardados no Mâs Monumental, em Buenos Aires, os dois clubes alvinegros iniciam uma colorida final a preto e branco. Colorida pelo futebol ofensivo das equipas orientadas por Artur Jorge e Gabriel Milito, com Luiz Henrique, Almada, Hulk e Scarpa a brilhar em campo, mas também pela cor do dinheiro pesado investido desde que Fogão e Galo se tornaram SAD, ou SAF, como se diz no Brasil.

O advento das SAF, a que os donos dos dois clubes, o empresário norte-americano John Textor e o magnata brasileiro Rubens Menin, foram dos primeiros a aderir, aumentou ainda mais o fosso entre o futebol brasileiro e os dos vizinhos: são sete vitórias de clubes do maior país da América do Sul nas últimas oito edições, a contar já com a desta tarde; e a quarta final, em cinco anos, só entre emblemas do Brasileirão.

O Botafogo carioca, que busca o primeiro título, gastou em 2024 à volta de 50 milhões de euros em jogadores; e o Atlético Mineiro, que tenta repetir a conquista de 2013, fechou a temporada com 16 milhões investidos. As SAF de Textor e Menin, porém, numa estimativa por alto já devem ter aplicado, juntas, mais de 316 milhões de euros desde que decidiram encurtar distâncias para Palmeiras e Flamengo, os clubes mais ricos e vitoriosos do Brasil e da América do Sul nos últimos anos.  

 «Desde as SAF, a rentabilidade potencial dos clubes brasileiros é imensa porque, com gestão profissionalizada e transparência financeira, têm a capacidade de transformar o mercado desportivo no Brasil, um dos mais apaixonados do mundo», afirmou Fernando Lamounier, Head de Marketing da Multimarcas Consórcios, patrocinadora do Galo, a A BOLA.

«Por outro lado, com as SAF, todas as áreas dos clubes passam por processo de modernização, incluindo as de análise de desempenho e scout», acrescentou Claudio Fiorito, CEO da P&P Sport Management, empresa que atende jogadores como o aplaudido Bastos, central angolano do Botafogo. «O mérito na contratação dele é todo do clube, que viu essa oportunidade.»

ARTUR SEGUE JJ E ABEL

Artur Jorge, que pode ser o terceiro português a conquistar o troféu, depois de Jorge Jesus, pelo Flamengo, em 2019, e Abel Ferreira, pelo Palmeiras, em 2020 e 2021, é, assim como Gabriel Milito, peça fundamental na gestão de talento desta nova filosofia.

O argentino, que utiliza um oleado 3x4x3 ou 3x4x2x1 à Rúben Amorim, deve jogar com Everson, na baliza, Lyanco, Rodrigo Battaglia (a jogar na primeira linha de três nesta fase da carreira) e Alonso, na defesa, Scarpa e Arana, nas laterais, Otávio e Fausto Vera (ou Alan Franco) no meio-campo, e o trio Hulk, Paulinho e Deyverson, na frente.

«Vamos ser uma equipa valente, tentaremos ter a bola e atacar, enfim, ser a equipa que fomos ao longo de toda a Libertadores», garantiu Milito. Hulk disse, por sua vez, que, se necessário for, vai «deixar a vida» em campo: «Ganhei um título com a seleção brasileira [Copa das Confederações de 2013] mas este jogo é mais importante.»

Já o ex-treinador do SC Braga, ainda com a dúvida Bastos, lesionado terça-feira frente ao Palmeiras, deve optar por John, atrás de um quarteto com Vitinho, Adryelson (ou o angolano), Barboza e Alex Telles. No meio, Gregore e Marlon Freitas darão suporte aos criativos Savarino, Almada e Luiz Henrique e ao ‘9’ Igor Jesus, num 4x2x3x1 muito móvel e veloz.    

«Este é o jogo mais importante da minha carreira», disse Artur Jorge, na conferência de imprensa de lançamento da final. «Quero que desfrutemos do momento sem esquecer a responsabilidade de carregar nos ombros os sonhos de tanta gente, sou muito grato por liderar este projeto e pelo carinho que a torcida sempre teve para comigo. Aos torcedores digo, confiem, acreditem mas sabendo que temos pela frente um adversário dificílimo», concluiu o técnico português.

Em caso de empate nos 90’, há prolongamento. Persistindo a igualdade, penáltis. O vencedor garante vaga na Taça Intercontinental, onde defrontará o Pachuca, do México. Quem ganhar defronta então o Al Ahly, do Egito, para decidir lugar na final com o Real Madrid. Além disso, carimba o passaporte para o Mundial de Clubes de 2025, entre junho e julho, onde pode enfrentar Benfica e FC Porto, e para a Supertaça Sul-americana, em fevereiro, frente ao Racing Avellaneda.