A arte de bem receber é oferecer um cabaz (crónica)
Musiala entre vários escoceses e mesmo assim assumindo o protagonismo (Foto: PA Images/IMAGO)
Foto: IMAGO

Alemanha-Escócia, 5-1 A arte de bem receber é oferecer um cabaz (crónica)

INTERNACIONAL14.06.202422:52

Demonstração de força dos anfitriões; pressão, futebol apoiado, artistas à solta, em especial Musiala; Escócia nem um remate fez

Não se pode dizer que foi um início retumbante do Euro 2024 porque isso significaria um jogo dividido, quando na realidade assistiu-se, isso sim, a uma super Alemanha. Pelo menos para os germânicos, é um começo verdadeiramente espetacular, que deve ser justificado pela força dos anfitriões e não pela fraqueza dos escoceses.

Desde o primeiro minuto a equipa dirigida por Julian Nagelsmann colocou em prática um futebol vistoso, com muitas trocas de bola na zona central para atrair o adversário e obrigá-lo a abrir um dos flancos, na maior parte das ocasiões o esquerdo, pode onde aparecia Kimmich ou Havertz quase sempre soltos e onde era colocada a bola longa e cruzada de Toni Kroos, que continua um mestre na execução destes lançamentos com o peito do pé, a marca de água de um médio que vai deixar saudades.

O primeiro golo, pelo endiabrado Wirtz, foi o espelho desta Alemanha de futebol imprevisível e solidário: bola conquistada pelo central, três médios criam imediatamente linhas de passe, ganhando superioridade numérica, um deles (Kroos) lança Kimmich, que coloca o esférico no jogador do Leverkusen para o remate na passada, à entrada da área, quase sem marcação porque Ralston veio do lado direito tentar travá-lo, sem sucesso.

Se este foi o desbloqueador, o 2-0 de Musiala (o melhor em campo) foi a confirmação de uma ideia de jogo: os golos têm de nascer em constantes associações curtas, avançando metros uns na companhia dos outros e depois dar liberdade criativa aos artistas: no caso, Gundogan, o mestre de ocasião, libertando-se da marcação apenas com um rodar de corpo, abrindo para Havertz e o avançado a tocar para trás, onde o médio do Bayern tirou um adversário do caminho e atirou forte.

A partir daí criou-se a ideia clara de que cada momento de pressão da Alemanha, cada início de construção mais atrás ou mais à frente iria terminar numa jogada em tabelas e remate. Inspirado, Musiala dançava e deslizava com a bola e Gundogan sofreu um penálti tão grosseiro quanto grosseira foi a falta de visão do juiz francês Clément Turpin, que em boa hora foi chamado a rever as imagens, assinalar penálti e expulsar Porteous, cuja entrada poderia ter lesionado gravemente o médio do Barcelona.

Com o 3-0 e um a mais, a segunda parte foi um passeio para os germânicos, que puderam explorar um futebol mais direto após a entrada de Fulkrug (um golo validado, outro anulado). A Escócia, que nem um remate fez à baliza (marcou num autogolo de Rudiger) saiu de Munique com um cabaz, a forma de os homens de Nagelsmann mostrarem a arte de bem receber. Cuidado com eles.