CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO A ambição europeia do Benfica (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL21.06.202015:36

O Benfica - único dos grandes que foi capaz de manter a fiabilidade nesta matéria - vai avançar com um novo empréstimo obrigacionista, desta feita de 35 milhões de euros, medida perfeitamente compreensível no contexto em que vivemos. Os encarnados, que revelam uma saúde financeira mais afinada que a dos rivais, relevaram, no prospeto de lançamento da operação bancária - que oferece um juro de 4% a 3 anos - a importância do dinheiro das competições europeias nas contas finais, o que, para o observador comum, não é nenhuma novidade, muito menos um segredo de Estado revelado. Porém, entre aquilo que o Benfica diz e é uma evidência sem contestação, e aquilo que o clube fez, nos últimos anos, em termos da UEFA, há uma contradição insanável. Há quatro anos que os encarnados se têm limitado a prestações medíocres nas competições europeias – aquela época de zero pontos na fase de grupos constituiu, até, uma ofensa à história do clube – e nem do discurso dos treinadores, muito menos na oratória dos dirigentes, se vislumbra algum resquício de ambição europeia.
 

Ora, se o dinheiro da UEFA é assim tão importante (para lá da obrigação de não deixar mal os vencedores da Taça Latina, os vencedores da Taça dos Campeões Europeus, e ainda aqueles que levaram o Benfica a mais oito (!!!) finais europeias), por que razão não aderir à tese de formatar equipas para bons desempenhos europeus, cuja qualidade será sempre garantia de competitividade ganhadora dentro de portas?
 

Ao longo de 17 anos à frente do Benfica, Luís Filipe Vieira elegeu três pilares – finanças, infraestruturas e vertente desportiva – como prioridades. Nos dois primeiros passou com nota altíssima, mas no terceiro, há que dizê-lo, ficou muito aquém daquilo que os meios que possuía permitiriam.

Uma política desportiva, por vezes errática, por vezes pouco ambiciosa, impediu que o Benfica cumprisse um destino que deveria aproximá-lo, e não afastá-lo, dos outros gigantes europeus.
 

Ao reconhecimento, neste lançamento de mais um empréstimo obrigacionista, da importância económico-financeira de boas prestações europeias (além dos ganhos reputacionais, que apesar de serem infungíveis, fazem a diferença), deverá corresponder uma alteração da política desportiva, que tem andado uns furos abaixo do que a grandeza do Benfica exigia.