Espaço Universidade Revista 'BASKET': Um projecto inovador no tempo certo (artigo de Eduardo Monteiro, 77)
O Basquetebol português foi sempre, ao longo da sua história , uma modalidade desportiva inovadora e de vanguarda no desenvolvimento desportivo nacional. Dois anos depois do basquetebol ser oficialmente reconhecido pelo Comité Olímpico Internacional (COI), Portugal foi um dos oito membros juntamente com a Argentina, Checoslováquia, Grécia, Itália, Letónia, Roménia e Suiça (18 de Junho de 1932), fundadores da Federação Internacional de Basquetebol Amador (FIBA). Nos anos 60 e 70, credenciados professores (técnicos de basquetebol), formados no Instituto Nacional de Educação Física (INEF), foram protagonistas de vários projectos inovadores no basquetebol que contribuíram, de modo exemplar, para a evolução do desporto nacional:
- Prof. José Esteves, criou uma escola de formação de jogadores de basquetebol em Coimbra que, mais tarde, vieram sob a sua orientação a conquistar títulos nacionais federados com a equipa da Associação Académica de Coimbra (AAC). Foi sub-director do INEF. O seu livro “Desporto e as Estruturas Sociais” foi um “Best Seller” no âmbito da Sociologia do Desporto em Portugal;
- Prof. Mário Lemos, treinador de realce do Sporting e das seleções nacionais juniores que participaram nos jogos da “Federação Internacional do Desporto Escolar Católico” (FISEC). Foi pioneiro na organização de actividades pré-desportivas para alunos do ensino primário através dos torneios de minibasquete efectuados no Colégio Militar;
- Prof. Teotónio Lima, foi um treinador consagrado no Benfica, selecionador nacional de seniores e conceituado professor no INEF. Sistematizou e implementou o processo de formação de treinadores em Portugal. Impulsionou a criação da Associação Nacional de Treinadores de Basquetebol (ANTB), quer dizer, a primeira associação de treinadores em Portugal. Autor de diversos livros sobre temas fundamentais no processo ensino-aprendizagem no desporto;
- Prof. João Coutinho, professor exemplar no ensino secundário. Treinador credenciado no desporto federado e universitário (atletismo e basquetebol). Responsável pela equipa de atletismo que participou na Universíada de Turim (1970). Foi pioneiro no desempenho de funções de comentador de basquetebol na televisão estatal (RTP);
- Prof. Jorge Araújo, responsável por diversas seleções nacionais que participaram nos Jogos da FISEC e da seleção universitária que esteve presente na Universíada de Turim (1970). Obteve enorme notoriedade na liderança do basquetebol no FC Porto. Publicou diversos livros relacionados com o treino desportivo.
Entretanto, no início da década de 80, um grupo de adeptos do basquetebol que estavam habituados a deslocarem-se ao estrangeiro para assistir a competições internacionais, entusiasmados com as revistas de basquetebol publicadas em Espanha (Gigantes del Basket, Basket 16 e Nuevo Basket), Itália (Super Basket e Giganti del Basket) e França (L”Equipe Basket) decidiram, no seio de uma enorme carolice de gente inovadora, criar uma equipa de trabalho e avançar para a publicação de uma revista de basquetebol em Portugal. Era para ser um projeto com uma empresa distribuidora de publicações (EDP). Mais uma publicação no meio de tantas outras, mas tudo não passou das boas intenções. Com o projecto pronto para arrancar, a equipa inicial de trabalho: João Antunes (Editor), Aurélio Cruz (Chefe de Redação), Henrique Correia, Henrique Ribeiro, João Carmona, Jorge Simões e Manuel Castelbranco (Redactores), António Silveira, António Cunha, Carlos Peixoto, João Freitas e Jorge Possolo (Fotografia), decidiu avançar mesmo sem esse apoio. Para além das pessoas que integravam o núcleo central do grupo de trabalho, surgiu um conjunto alargado de Colaboradores que se prontificaram, desde logo, a ajudar naquilo que fosse solicitado: Adam Ribeiro, Adelino Rodrigues, Amoroso Lopes, António Azevedo, António Ferreira, Carlos Alemão, Carlos Barroca, Celestino Amiel, Daniel Silva, Eduardo Quaresma, João Peixinha, Luis Eugénio, Mário Província, Rui Valente e Zulmiro Matos. Entretanto, era necessário encontrar alguém, com experiência na modalidade, que trouxesse conhecimento e valorização pessoal a todos os que faziam parte do grupo de trabalho. Assim, fui convidado para o cargo de Director. Como professor e técnico do basquetebol não podia recusar o apoio necessário ao projecto da revista “Basket”.
A adesão e a congregação de esforços de muita gente do basquetebol foi excelente. Desde os mais jovens que recolhiam as estatísticas dos jogos (de norte a sul do país) até aos fotógrafos que pagaram muitas vezes os rolos de película e as revelações do seu próprio bolso. Na redação da revista, para além da elaboração dos textos previstos, o mais trabalhoso era o levantamento, tratamento e divulgação das estatísticas dos jogos numa altura em que tudo era feito sem a ajuda de computadores. Uma verdadeira maratona todas as semanas com as máquinas de calcular. O conteúdo da revista era tão diversificado quanto possível. A nível nacional fazia-se a cobertura das várias competições masculinas e femininas nos diversos escalões etários. Reportagens sobre clubes de basquetebol que investiam na formação dos praticantes. Entrevistas aos presidentes da federação de basquetebol, a treinadores de prestígio no contexto nacional e a jogadores internacionais ídolos do basquetebol português. Para além disso, foram publicados diversos artigos técnicos de treinadores credenciados que se prestaram a colaborar com a revista “Basket”. No contexto internacional os campeonatos de Espanha e Itália eram abordados, assim como o basquetebol universitário norte americano (NCAA) e o quadro competitivo da NBA. As reportagens das competições internacionais organizadas no continente europeu foram asseguradas pelo pessoal da redação que habitualmente se deslocava ao estrangeiro para assistir aos grandes eventos internacionais.
Ao longo da actividade da revista, quer dizer, desde a publicação do primeiro número (Dez-1980), até à derradeira edição, referente aos meses de (Abril/Maio-84), publicámos 18 revistas sobre temas relacionados com a actividade do basquetebol, que promoveram e divulgaram um período inesquecível do desenvolvimento da modalidade em Portugal e no contexto internacional. Foi editado um número especial sobre o Campeonato Europeu Lisboa-82 (Grupo B), organizado pela Federação Portuguesa de Basquetebol. A revista “Basket” foi pioneira na organização do primeiro “All Star Game (Norte-Sul)”, transmitido em directo pela RTP. A “Basket” foi um projecto do basquetebol português, feito em regime de voluntariado, com a colaboração de inúmeros adeptos desta modalidade desportiva que tem milhões de praticantes e clubes, espalhados pelos cinco continentes. Uma experiência para recordar por todos aqueles que, de alguma forma, colaboraram na edição da revista, sem apoios das entidades responsáveis pela modalidade e pelo desporto nacional.
Lamentamos que, após 4 décadas da publicação do primeiro número da revista “Basket”, nenhuma das entidades oficiais do basquetebol, nem das estruturas governamentais do desporto nacional, nem do gabinete do actual Presidente da República (adepto incondicional do basquetebol), tenha emitido qualquer parecer sobre a validade do projecto da revista “Basket” no âmbito do processo de desenvolvimento do desporto nacional.
Haja Saúde