Falta de tempo… (artigo de Vítor Rosa, 228)

Espaço Universidade Falta de tempo… (artigo de Vítor Rosa, 228)

ESPAÇO UNIVERSIDADE16.05.202301:29

Ouço dizer com muita frequência que existe “falta de tempo”. Falta de tempo para estar com a família, falta de tempo para praticar uma prática desportiva, falta de tempo para fazer isto ou aquilo. De facto, nestas sociedades modernas, o tempo parece ser escasso.

As diferentes etapas da vida (trabalho, parentalidade, reforma, etc.) conduzem a diferentes papéis, cada um com as suas obrigações e responsabilidades. A interferência entre alguns destes papéis, nomeadamente o de trabalhador e o de pai ou mãe, e a dificuldade de responder adequadamente a exigências concorrentes, podem conduzir a um fenómeno designado por sobrecarga de papéis. Uma vez que dificultam o cumprimento satisfatório das obrigações, estes conflitos influenciam a perceção do tempo e, mais especificamente, o sentimento de falta de tempo.

Para além da “falta de tempo”, eu acrescentaria também que existe uma grande “falta de atitude cívica”. Na passada semana (06 e 07 de maio de 2023) decorreu a campanha nacional do Banco Alimentar Contra a Fome. Em Évora, onde participei como voluntário, fiquei perplexo ao verificar as poucas boas vontades (voluntários) para ajudar. São mais de 5000 alunos na Universidade de Évora e, segundo a organização, estiveram três ou quatro estudantes presentes. Foram também muito poucos os alunos das escolas secundárias que se mobilizaram para ajudar. Houve ações de sensibilização para esta causa social quer por parte de alguns professores, quer por parte de algumas associações de estudantes. Nem falo das associações desportivas, clubes de futebol locais, etc. Um deserto de voluntários. Já o tinha notado quando da campanha de Natal 2022. Augusto Cury, em Treinar as Emoções (Leya, 2019), tem razão: “infelizmente a nossa espécie está a adoecer coletivamente. Está a adoecer nem sempre por causa de doenças clássicas, como a depressão, a síndrome do pânico, as fobias, mas de solidão, pela falta de solidariedade, pela crise de diálogo, pela incapacidade de contemplação do belo, pela vida stressante, pelo individualismo” (p. 29). A “falta de tempo” serve de desculpa para tudo!

Sociólogo, Pós-Doutorado em Sociologia e em Ciências do Desporto, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática