Portugal-Luxemburgo: a crónica

Portugal-Luxemburgo: a crónica

SELEÇÃO11.09.202323:29

Uma lufada de ar fresco

Contra um dos mais fortes candidatos ao apuramento direto no Grupo J (quem tiver dúvidas é só consultar os resultados do Luxemburgo), o que não é o mesmo que dizer que foi contra um adversário com muitos argumentos, Portugal arrancou a melhor exibição da era-Martinez e encheu o estádio do Algarve de futebol, vibração, alegria e festa, bastando-lhe, para tal, juntar o contributo dos mágicos, de Bruno a Bernardo, de Leão a Jota, ao espírito coletivo e solidário. 

Qualquer comparação entre estes 90 minutos do Algarve e a vitória sofrida e sofrível de Bratislava serão pura coincidência. Da noite fez-se dia, soltaram-se as amarras e a nau lusitana navegou a todo o pano, dando-nos um vislumbre do que poderá ser a equipa de todos nós nas próximas competições.

Roberto Martínez 

O técnico espanhol que lidera Portugal decidiu-se por cinco alterações relativamente ao que tinha feito na Eslováquia, quatro por opção e outra devido à indisponibilidade de Cristiano Ronaldo. E desde muito cedo se percebeu que os espaços estavam bem ocupados, e que com o carrossel montado em frente ao 4x5x1 dos luxemburgueses, era apenas uma questão de tempo até se abrir a torneira dos golos. Porque a equipa esteve incisiva, sempre de olhos postos na baliza, e apostando na velocidade alucinante de Rafael Leão que, pese embora algum egoísmo, dinamitou, pura e simplesmente, a defesa contrária. Nos desequilíbrios do avançado do AC Milan e na sublime arte de Bernardo Silva e, ontem, sobretudo de Bruno Fernandes, o melhor em campo, criaram-se os alicerces para ser construída a vitória mais expressiva da história da Seleção Nacional.

Optando por um 4x4x2 de enorme plasticidade, onde Danilo construía no meio dos centrais, Dalot juntava-se aos médios no jogo interior, Jota apoiava diretamente Gonçalo Ramos e B&B (Bruno e Bernardo) pintavam a manta, Portugal foi desmontando, peça a peça, a organização defensiva contrária e os golos começaram a sair da toca. Desde que a Seleção Nacional se mantivesse em movimento, oferecesse linhas de passe, e metesse velocidade a sério nas ações, a sina luxemburguesa estava traçada, não era uma questão de quando, mas sim uma questão de quantos. Gonçalo Inácio bisou,  mostrou-se letal nos cabeceamentos e Gonçalo Ramos fez duas vezes o gosto ao pé, elevando para seis os golos que marcou por Portugal  em oito jogos.

Segunda parte a acelerar   

A ganhar por 4-0 ao intervalo, e depois de ter proporcionado momentos de futebol digno do Scala de Milão, especialmente pelo maestro Bruno Fernandes e pelo solista Bernardo Silva, pensou-se que Portugal ia dosear esforços, a pensar nos jogos do próximo fim-de-semana. E, de facto, o primeiro quarto de hora da segunda parte foi o momento menos exuberante de Portugal. Porém, o 5-0 de Jota aos 57 minutos, seguido das entradas de João Félix, Ricardo Horta e João Cancelo, vieram recarregar a pilha da equipa e o entusiasmo dos adeptos. 

A Seleção Nacional revitalizava-se, ao mesmo tempo que as pernas iam pesando mais aos luxemburgueses, que ainda esboçaram reação (remate de Barreiro, aos 62 minutos para a única defesa de Diogo Costa) que foi sol de pouca dura. Jota queria mais, Leão queria mais, Bruno estava insaciável e com a bola a ser tratada como se estivesse entre amigos, os golos foram surgindo com a naturalidade das coisas que por serem tão bem feitas até parecem fáceis. 

E para o fôlego final, Roberto Martinez - que fez com que o sistema de Portugal fossem vários, tal a plasticidade, partindo do trabalho de todos, todos, todos, como diria Francisco - deu o coup de grace com as entradas de Rúben Neves e Otávio que mantiveram o lume bem alto.