Liga das Nações: deu para esquecer o Europeu, mas não tanto quanto queríamos

SELEÇÃO19.11.202422:50

Portugal confirmou favoritismo, mas exibições não foram tão convincentes assim. Há boas notícias no que toca ao pós Pepe e começa a ser difícil ver Vitinha no banco

Portugal fechou na segunda-feira, em Split, uma campanha sem sobressaltos na Liga das Nações. Confirmou na prática aquilo que estava escrito no papel, ou seja, favoritismo claro sobre seleções que estão em realidades diferentes do nosso a nível europeu. Até mesmo a Croácia, medalha de prata no Mundial da Rússia (2018) e de bronze no Catar (2022), mas que já se encontra a meio caminho entre o fim de ciclo de uma geração de ouro e a descoberta de novos talentos para poder voltar a ombrear com os ‘tubarões’.

O Europeu da Alemanha deixou a desejar, não tanto pelos resultados, é verdade que ser eliminado pela França nos quartos de final não é desonra alguma, mas o nível exibicional deixou a desejar tendo em conta a qualidade e quantidade de opções de que Roberto Martínez dispõe. A partir do jogo com a Turquia (3-0), na segunda jornada da fase de grupos, Portugal entrou numa crise lá na frente e não mais fez as redes mexer: 0-2 com a Geórgia, 0-0 com a Eslovénia e novo nulo contra Mbappé e companhia. Até Cristiano Ronaldo, o tal dos 910 golos na carreira, imagine-se, ficou em branco numa fase final pela primeira vez na carreira! Dava que pensar.

Era, por isso, importante que o novo ciclo já tendo em vista o Mundial 2026 servisse para deixar outra imagem e, aqui e ali, houve momentos de muito bom futebol, como nos dois jogos com a Polónia, tanto em Varsóvia como no Porto, este último com segundos 45 minutos de verdadeiro espetáculo depois de uma primeira parte entediante. Nos duelos frente à combativa Escócia, Portugal encontrou muitas dificuldades: no estádio da Luz, o golo madrugador de McTominay (7’) obrigou Portugal a ir atrás do resultado e só mais um ato de salvamento de Cristiano Ronaldo (88’) evitou grande dissabor frente a uma seleção de terceira linha, que acabou por lutar pelo apuramento até ao fim beneficiando da irregularidade croata.

Em Glasgow, por exemplo, a Seleção limitou-se a ver o tempo passar e só teve uma clara oportunidade de golo com o relógio a bater nos 90’, voltando a dar dois passos atrás nos jogos fora de casa depois do passo em frente na Polónia, o único em que Portugal fez um jogo ‘completo’ e no qual as ‘pilhas’ não duraram apenas uma parte.

No meio dos altos e baixos da campanha, e lembrando que o problema luso, desde Fernando Santos, tem sido a abordagem aos jogos com os ‘pesos pesados’ (França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália…), houve, ainda assim, sinais bastante positivos e que deixarão, daqui em diante, Roberto Martínez com ainda mais opções para gerir. A mais agradável surpresa chama-se Renato Veiga, um dos 13 estreantes na era Martínez e que tão boa conta tem dado do recado. Sempre seguro, tanto na linha de três atrás como de dois, o polivalente do Chelsea parece ter ganhado definitivamente lugar nas escolhas do espanhol e, lembrando que Tomás Araújo também está aí a ‘rebentar’ – exibição de muito bom nível do jovem do Benfica na estreia em Split -, podemos estar descansados no que toca ao pós Pepe na Seleção.

A meio-campo, Vitinha foi um verdadeiro tratado nas duas últimas jornadas e vai reclamando lugar de indiscutível com exibições de luxo umas atrás da outras e lá na frente foi boa de se ver a melhor versão de João Félix nos primeiros 45 minutos em Split, destruindo, na companhia de Rafael Leão, a defensiva croata. Não tem (ainda?) no Chelsea a regularidade que tanto procura há anos, mas continua, na Seleção, a mostrar que é diferenciado. Também do Chelsea vem Pedro Neto, que, como Francisco Conceição, consegue dar esticões no jogo quando a muralha contrária está difícil de desmontar.

Nos sinais 'menos', João Neves ainda não tem conseguido replicar na Seleção o nível tremendo que mostrou no Benfica e mostra no PSG e as exibições 'assim assim' de Rúben Neves ou Otávio - queiramos ou não, jogar na Arábia Saudita não é o mesmo que no 'top 5' na Europa - deixam no ar a ideia de que Florentino (Benfica) ou Daniel Bragança (Sporting) justificavam a atenção de Martínez nesta fase de grupos.