Vitória de Guimarães: uma religião sem igual
Jogadores do V. Guimarães

Vitória de Guimarães: uma religião sem igual

OPINIÃO11:00

Fixem-se este nome: Rui Borges. O treinador dos minhotos subiu na carreira a pulso, sem empurrão de empresários e está a realizar um trabalho sensacional. Pronto para dar o salto...

Campanha verdadeiramente sensacional do Vitória de Guimarães na Liga Conferência, um trajeto digno dos mais rasgados encómios, mas que tem sido algo subvalorizado em Portugal. A campanha protagonizada pela equipa de Rui Borges, com um registo de 12 vitórias e dois empates nas provas europeias em 2024/2025, tem permitido ao nosso país somar pontos no ranking da UEFA, o que valoriza ainda mais o trabalho desenvolvido e sem paralelo nas outras equipas portuguesas nestas lides. Não é arrogante dizer-se igualmente que o Vitória de Guimarães, sempre empurrado por uma massa adepta sem igual, que é neste momento a equipa cá do burgo que pratica o futebol mais agradável de se ver, aquele que cativa os amantes da modalidade e prende espectadores aos ecrãs da televisão.

É cultural, mas em Portugal existe o hábito de apenas valorizarmos o que fazem os três grandes — SC Braga, por vezes, é exceção à regra — nas competições sob a chancela da UEFA, mas não se pode apoucar tudo o que os vitorianos têm feito esta temporada. E há sem sombra de dúvidas um homem que tem honras de ser elevado a herói, mas que escapa aos holofotes da fama, refugiando-se apenas e só no seu trabalho diário. Rui Borges, de 43 anos, um transmontano de gema, que nunca queimou etapas na sua carreira e guindou-se sempre por valores e princípios de ética profissional. Começou a dar provas da sua competência no seu Mirandela, da terra-natal, passou depois pelo Académico de Viseu e Académica de Coimbra, Nacional da Madeira, Vilafranquense, Mafra, mas foi no Moreirense que começou a mostrar ao mundo o seu real valor, com uma época absolutamente notável ao serviço dos cónegos em 2023/2024, deixando mesmo o emblema minhoto às portas da Europa.

Um excelente cartão de visita para o que seria inevitável. Dar o salto para um clube de maior projeção, ainda que estivesse a curtos quilómetros de distância. Os responsáveis do Vitória de Guimarães foram inteligentes e perceberam que estava ali um excelente treinador em potência e resgataram-no ao vizinho Moreirense. Os resultados estão à vista desarmada, com o Vitória de Guimarães a realizar uma época de alto nível para gáudio dos seus indifetíveis adeptos. Para se ter uma verdadeira noção do feito realizado até ao momento pelo emblema do Rei basta dizer que apenas o milionário Chelsea, com recursos muito superiores em termos de matéria-prima, logrou fazer melhor do que os minhotos. É assim de mais elementar justiça que se faça uma vénia à performance dos vimaranenses na Liga Conferência, uma competição que não tem a dimensão de uma Champions ou Liga Europa, mas que possibilita que Portugal possa somar pontos e com isso ser beneficiado no futuro em termos de ter mais equipas na Liga dos Campeões.

Os vitorianos orgulham-se daquilo que está a ser feito e há que elogiar o trabalho feito por Rui Borges e os seus jogadores. O Vitória, como tão carinhosamente é tratado pelos seus fiéis seguidores, é um clube à parte, uma religião ímpar. Quem assiste aos jogos no Estádio D. Afonso Henriques conhece essa cultura, essa dimensão humana de quem é vitoriano. E Portugal deve orgulhar-se de ter um clube assim. Diferente (em tudo) dos demais...