VAR na Liga 2? Obviamente
Entre amadores e profissionais, mora uma competição que está alheada dessa realidade
H Á muito que o futebol recorre à tecnologia para o tornar mais rápido, eficaz e justo. São inúmeras as inovações que o jogo sofreu nos últimos anos e que contribuíram para lhe dar mais emoção e espetacularidade.
A arbitragem não ficou atrás e também passou de uma realidade profundamente amadora - um árbitro, dois fiscais de linha, apito, bandeirolas e mímica como meio de comunicação - para uma máquina bem oleada, que conta agora com uma vasta equipa (em campo e em sala), imagens televisivas, monitorização de desempenho e sistema áudio ao serviço da decisão.
Não há mundos perfeitos e, ainda assim, quem anda lá dentro acerta muito e erra de vez em quando. Por muito aerodinâmica que seja a bola, por muitos cursos que tirem os treinadores, por muito modernas que sejam as botas, camisolas e caneleiras - por muito importante que até seja o VAR -, é é será sempre a componente humana a tomar a decisão final. Tudo dito.
A nossa primeira liga conta com o apoio da videotecnologia há várias épocas. Felizmente. Mesmo aqueles que, a quente, acham que tudo estava melhor no passado, reconhecerão, a frio, que a ferramenta trouxe mais verdade ao jogo. Se descontarmos os eternos lances cinzentos, alguma falta de sensibilidade para a função e um protocolo com demasiadas amarras, a verdade é que a máquina já salvou centenas e centenas de decisões. Pensem nos golos anulados ou validados por correções em lances de fora de jogo. Pensem na quantidade de jogos que teriam outro resultado. Pensem nas agressões e entradas violentas que seriam mal avaliadas ou nos cartões que seriam dados a jogadores errados. Não há grande prova que tenha que ser feita quando a evidência é assim, tão esmagadora.
Isto leva-nos à necessidade imperiosa de passarmos a ter videoárbitros na segunda liga portuguesa. A maioria dos árbitros que dirigem esses jogos são jovens que cometem alguns erros importantes. Erros que um VAR corrigiria em vinte, trinta segundos. Reparem: a mesma TV que esmiúça os lances, amplia as imagens e repete-as até à exaustão, é aquela que lhes é vedada como ferramenta de apoio à decisão. Em casa, os adeptos têm meios para avaliar tudo o que acontece, meios que o avaliador, em campo, não tem. Não faz sentido.
A segunda liga é uma das duas provas profissionais e, hoje, tem tratamento diferenciado, para pior, em relação à outra. Até a Liga 3, prova amadora organizada pela FPF, conta agora com apoio do VAR, o que significa que ali no meio, entre amadores e profissionais, mora uma competição que está alheada dessa realidade. Fará sentido?
Liga e FPF devem chegar a acordo sobre um modelo de financiamento, preparando a certificação de estádios e a qualificação de árbitros. Não será difícil. A prioridade não deve ser a discussão sobre quem faz o quê, mas a implementação urgente de um instrumento que trará equidade às competições e verdade desportiva ao jogo. Os clubes devem evoluir da penosa contabilização de erros contra para a tomada de medidas práticas e eficazes que os possam evitar. Isso passa por assumirem que este instrumento nunca será um custo, mas um investimento imprescindível.
Vamos dar prioridade ao que é prioritário. O futebol agradece. Os árbitros também.