OPINIÃO Vaga de fundo não quer mais do mesmo
Villas-Boas precisa de fazer do regionalismo que está no ADN do FC Porto uma bandeira que não sirva só para agredir, e seja inclusiva
E agora, André? Cumprida a primeira fase da operação, que teve como resultado uma estrondosa vitória eleitoral, o que irá seguir-se será, sem dúvida, mais difícil do que desenhar o horizonte de mudança que o novo presidente protagonizou, e acabou por mobilizar, de forma nunca antes vista, a nação portista.
Fazendo fé no diagnóstico das finanças azuis e brancas, veiculado, ao longo da campanha, pela lista de Villas-Boas — confirmado, aliás, pela portagem adicional que a UEFA obrigou os dragões a pagar para poderem participar nas competições europeias do próximo triénio —, o saneamento deste departamento será crucial para o sucesso do novo projeto. Dentro de alguns meses, depois de feita a sintonia fina, por parte da equipa de Villas-Boas, das contas do clube (em que termos, e com que profundidade se verá...), haverá uma natural adaptação dos objetivos à realidade.
Para já, há três questões em cima da mesa do novo presidente, que requerem urgência máxima e têm a ver com ações de última hora do seu principal opositor: a venda dos direitos comerciais por período alargadíssimo; o Centro de Estágio da Maia; e a renovação, por mais quatro épocas, com Sérgio Conceição. Qualquer delas, estruturante, representa um teste à fortaleza de convicções de André Villas-Boas. Mas, não menos relevante, será a forma como o presidente-eleito irá relacionar-se com os Super Dragões, depois de tudo o que aconteceu.
Frederico Varandas, numa circunstância comparável (pelo menos em animosidade, dizendo o menos), soube ser determinado e coerente, e com isso só fortaleceu a sua presidência. Porque, no fim do dia, o criador acaba por ficar, inevitavelmente, refém da criatura. Esta é, pois, uma oportunidade única para Villas-Boas impor as regras do jogo, estabelecendo uma cerca sanitária que o preserve da promiscuidade. Mas haverá outras tarefas, quiçá menos mediáticas, que serão determinantes para o rumo do clube. O FC Porto precisa de se abrir ao mundo, fazendo do regionalismo que lhe está no ADN uma bandeira que não sirva só para agredir, e passe a ser inclusiva.
Foi importante que as primeiras palavras do presidente eleito referissem a recuperação da liberdade por parte do clube. Só assim, e ao mesmo tempo sem nunca abdicar da defesa intransigente dos seus direitos, o FC Porto terá futuro.